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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Justo Regresso . Jota Dangelo
Descrição
O "benfeitor" . Jota Dangelo
Os anos 70 presenciaram, na cidade, uma das dilapidações mais contundentes do nosso patrimônio cultural e artístico: a demolição inapelável da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos. O esbulho coincidiu com o período mais negro da ditadura militar instalada no país, quando a sociedade civil, organizada ou não, não era ouvida pelos detentores do poder, que davam pouca ou nenhuma atenção às críticas de cidadão ou de entidades como o nosso Instituto Histórico e Geográfico. Conterrâneos nossos gritaram, mas não foram ouvidos.
A autoridade eclesiástica da paróquia de Matosinhos decidiu-se pela demolição do templo centenário e passou a vender – eu disse exatamente vender – o patrimônio da igreja demolida, inclusive a portada do templo, esculpida em pedra. Com o aval das autoridades eclesiásticas superiores, também coniventes, destruiu-se o rico acervo patrimonial daquela igreja. E isto é preciso ser dito com todas as letras: autoridades eclesiásticas, ao contrário do que muitos pensam, não são imunes a erros de julgamento, nem são ungidas pela propalada infabilidade divina. Sua natureza é humana e, portanto, como todos nós, sujeitas a erros e acertos de conduta.
São águas passadas, dir-se-á, mas nem por esta razão o episódio deve ser relegado ao esquecimento, principalmente para que o equívoco não aconteça novamente.
O que importa, entretanto, neste sábado de junho, é uma notícia auspiciosa sobre o assunto: a portada da igreja de Matosinhos esta de volta para São João del-Rei, trazida pelo esforço de são-joanenses que acionaram o Ministério Público em ofício de 7 de outubro de 2003. Justo é que se louve a iniciativa do IHG da cidade naquela ocasião, quando estava na presidência José Antônio Ávila Sacramento. Também é preciso ressaltar que no mesmo ofício de 2003, o advogado Wainer Ávila foi indicado para representar a entidade na ação que se seguiu. Na seqüência, o “proprietário” da portada, adquirida da autoridade eclesiástica, Sr. Mario Pimenta Camargo, faleceu. A inventariante do espólio, Sra. Beatriz Mendes Gonçalves Pimenta Camargo, dotada de profundo sentimento e sensibilidade, não fosse ela vice-presidente do MASP – Museu de Arte de São Paulo – decidiu, por ela mesma, sem pressão judicial, que a portada deveria voltar ao local de origem, ao local de onde foi criminosamente objeto de um mercantilismo abjeto e injustificável.
Não é possível precisar o tempo em que a portada estará de novo entre nós, já que são imprevisíveis as tramitações da justiça brasileira, mas seria bom que, sensatamente, os que comandam os destinos da cidade começassem a pensar onde colocar a relíquia que nos foi subtraída há 40 anos.
Gazeta de São João del-Rei . 26 de junho de 2010
Os anos 70 presenciaram, na cidade, uma das dilapidações mais contundentes do nosso patrimônio cultural e artístico: a demolição inapelável da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos. O esbulho coincidiu com o período mais negro da ditadura militar instalada no país, quando a sociedade civil, organizada ou não, não era ouvida pelos detentores do poder, que davam pouca ou nenhuma atenção às críticas de cidadão ou de entidades como o nosso Instituto Histórico e Geográfico. Conterrâneos nossos gritaram, mas não foram ouvidos.
A autoridade eclesiástica da paróquia de Matosinhos decidiu-se pela demolição do templo centenário e passou a vender – eu disse exatamente vender – o patrimônio da igreja demolida, inclusive a portada do templo, esculpida em pedra. Com o aval das autoridades eclesiásticas superiores, também coniventes, destruiu-se o rico acervo patrimonial daquela igreja. E isto é preciso ser dito com todas as letras: autoridades eclesiásticas, ao contrário do que muitos pensam, não são imunes a erros de julgamento, nem são ungidas pela propalada infabilidade divina. Sua natureza é humana e, portanto, como todos nós, sujeitas a erros e acertos de conduta.
São águas passadas, dir-se-á, mas nem por esta razão o episódio deve ser relegado ao esquecimento, principalmente para que o equívoco não aconteça novamente.
O que importa, entretanto, neste sábado de junho, é uma notícia auspiciosa sobre o assunto: a portada da igreja de Matosinhos esta de volta para São João del-Rei, trazida pelo esforço de são-joanenses que acionaram o Ministério Público em ofício de 7 de outubro de 2003. Justo é que se louve a iniciativa do IHG da cidade naquela ocasião, quando estava na presidência José Antônio Ávila Sacramento. Também é preciso ressaltar que no mesmo ofício de 2003, o advogado Wainer Ávila foi indicado para representar a entidade na ação que se seguiu. Na seqüência, o “proprietário” da portada, adquirida da autoridade eclesiástica, Sr. Mario Pimenta Camargo, faleceu. A inventariante do espólio, Sra. Beatriz Mendes Gonçalves Pimenta Camargo, dotada de profundo sentimento e sensibilidade, não fosse ela vice-presidente do MASP – Museu de Arte de São Paulo – decidiu, por ela mesma, sem pressão judicial, que a portada deveria voltar ao local de origem, ao local de onde foi criminosamente objeto de um mercantilismo abjeto e injustificável.
Não é possível precisar o tempo em que a portada estará de novo entre nós, já que são imprevisíveis as tramitações da justiça brasileira, mas seria bom que, sensatamente, os que comandam os destinos da cidade começassem a pensar onde colocar a relíquia que nos foi subtraída há 40 anos.
Gazeta de São João del-Rei . 26 de junho de 2010