a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Carnaval . Artigos diversos de Jota Dangelo

Descrição

Regredimos, no Carnaval que se aproxima, aos anos 60 e início dos 70 do século passado. Naquele tempo, quando escolas de samba desfilavam no domingo e na terça de Carnaval, enquanto os blocos (e que saudade daqueles blocos!..) desfilavam no sábado e na segunda, o resultado do julgamento, cujo primeiro deles ocorreu em 1965, era conhecido na hora do desfile de terça-feira e era na avenida que se entregavam as taças aos vencedores dos três primeiros lugares. Como é fácil compreender, o resultado vazava muito antes da hora do desfile; às vezes, até mesmo na segunda-feira à noite já se sabia do resultado. Ou na manhã de terça-feira.
Não foram poucas as vezes em que episódios constrangedores ocorreram no desfile de terça: dirigentes de escolas perdedoras pisaram em taças em plena avenida, e houve quem as jogasse no córrego do Lenheiro…O Carnaval é uma festa popular de alta significação para os brasileiros. Não é o momento de acirrar ânimos, incitar a violência, criar situações de exceção. Nem todos os componentes de agremiações carnavalescas sabem aceitar uma derrota num desfile carnavalesco de maneira passiva. Queiram ou não queiram, escolas de samba também estimulam emoções, podem provocar, como no futebol, manifestações apaixonadas, e até violentas. É só por esta razão que em nenhum local no país, pelo que eu saiba, o resultado de um desfile carnavalesco é dado a público nos dias de Carnaval. O Rio, que conhece de sobra Carnaval de rua e disputas carnavalescas, logo nos primeiros anos em que foi instituído o julgamento oficial, tratou de dar o resultado na quarta-feira. Carnaval é feito para a pura brincadeira. Mágoas, ressentimentos, para depois, nas cinzas.
Foi exatamente o que se fez em São João del-Rei em 1974, há quarenta anos portanto, colocando um ponto final na entrega dos troféus em pleno Carnaval. Voltamos àqueles tempos. As entidades carnavalescas são-joanense decidiram que na terça-feira gorda vão desfilar as campeãs, ou melhor a campeã (pois campeã é só uma escola) e as outras duas colocadas em segundo e terceiro lugares. Uma decisão, a meu ver, equivocada. A justificativa de que a terça-feira, sem o desfile, abre um vazio carnavalesco na programação, não me convence. Outras soluções poderiam ser encontradas, se realmente fossem necessárias. É a segunda decisão equivocada que a AESBRA homologa nos seus anos de vida. Houve outras também, mas sem tanta importância. A primeira foi quando decidiu que todos os blocos passariam a ser escolas de samba. Com o tempo, temos o panorama de hoje: sete (às vezes oito) escolas de samba desfilando e contando, para isto, praticamente com recursos públicos, cada vez mais minguados.
Independente da novidade, e há, certamente, quem concorde com ela, é preciso ressaltar desde já a abnegação e o esforço dos dirigentes das escolas de samba que ainda não receberam nada do poder público (a verba só deve ser repassada entre 15 e 20 de janeiro), em virtude da falta de planejamento anterior e da investidura recente da nova gestão. Todos eles estão na batalha, para manter a tradição daquele que foi, faz tempo, referência nacional do Carnaval do interior de país.

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Barracão
Por Gazeta de São João del-Rei em 19/01/2013

Dentro do barracão, olhou, um tanto desamparado, para as ferragens desnudas dos carros alegóricos. A 21 dias do Carnaval, um calafrio percorreu-lhe o corpo ao ver o chassis desnudo, na verdade um emaranhado de peças de metalon que serviram de base às alegorias do Carnaval de 2012. O alegorista, pasmo, tentou imaginar a peça pronta, os desníveis cobertos com madeira, as laterais ornadas, as esculturas em isopor (por aqui ainda não chegaram as esculturas em fibra), os suportes dos destaques armados, os detalhes em acetato dourado, o gerador funcionando, os spots acesos. Pura fantasia. Por ora, com a chuva caindo lá fora, irritante, chata, copiosa ou simplesmente garoenta, o que está na sua frente é um esqueleto de ferro que, provavelmente, terá ainda que ser modificado para servir de base para os vôos imaginosos do carnavalesco de 2013.
Alguém acabou de chegar com uma máquina de solda. Mas ainda não existe certeza do que deve ser modificado. E como modificar: o desenho das alegorias, em apenas duas dimensões, é apenas um esboço. Ainda não chegou por aqui os desenhos em AutoCAD, tridimensionais, que permitem uma visão perfeita do que vai ser construído. O alegorista não concorda, em princípio, com o carnavalesco: o projeto é muito mais um amontoado de suportes para destaques do que uma alegoria compatível com o enredo. Mas fazer o quê? Cobra para executar o que o carnavalesco desenha. Ou imagina. Ele sabe que não é bem assim em outras escolas. Há carnavalescos que também estão presentes no barracão, à frente da equipe, metendo a mão na massa. Aliás, recorda, ninguém pediu sua opinião sobre o enredo da escola.
Não, não. A verba ainda não saiu. Estão comprando material com dinheiro emprestado por amigos. Uma parte é doação mesmo. Outra é empréstimo. Quando a verba sair devolve-se o que se pediu emprestado. Mas, e a prestação de contas? Não vale notas fiscais com data anterior ao recebimento de verba pública. Mas este é problema para depois, para o jeitinho brasileiro, na hora a gente vê. O que interessa neste momento são o abre-alas e as duas alegorias, que o tempo é curto para encher a cabeça com mais de um problema. Já basta saber que o gerador, único, precisa de uma revisão, não liga de jeito nenhum.
Acabou de entrar no barracão um dos dirigentes da escola com uma enorme caixa de papelão: chegaram os francotex, os galões dourados, as folhas de acetato, as guirlandas prontas, os granulados, tudo de São Paulo, da 25 de março, ou do Saara, do Rio, visto que o comércio local não tem estoque nem preocupação com material carnavalesco para escola de samba, muito menos com as novidades que surgem. O que mais se vê, nas lojas locais, é colar de havaiana, máscaras, lança-espuma, confete, talvez serpentina, algum isopor em folha (nada pré-moldado ou em cubo).
Já passa das 23 horas, mas estas armações de madeira das laterais dos carros não podem ficar para amanhã: amanhã o marceneiro não pode vir. E amanhã, como se sabe, já não faltam mais 21 dias para o Carnaval: só 20.

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Em algum lugar . Jota Dangelo

Em algum lugar, a esta hora, alguém está debruçado sobre uma prancheta desenhando a fantasia de uma ala de baianas. 
O lápis risca a folha de papel enquanto a imaginação viaja pelas fotos de antigas revistas, pelas transmissões de TV na Sapucai, pelas alas de baianas da Imperatriz de Rosinha Magalhães, do Salgueiro de Renato Lage, da Mangueira de Mamo Quintaes, da Beija Flor de Laíla. 
Em algum lugar da 25 de Março, em São Paulo, um dirigente de escola de samba de São João del-Rei está comprando peças de cetim por preços convidativos, plumas por atacado, peças de galão dourado e prateado, metros de TNT e muitos milheiros de lantejoulas. 
Em algum lugar, no Largo do Carmo ou no Bonfim, em Matosinhos ou no Senhor dos Montes, no Tijuco ou no São Geraldo, uma roda de amigos está reclamando da verba, sempre pouca, liberada pela prefeitura para 
o Carnaval. Ninguém se lembra de que já houve um tempo em que não havia verba alguma e existia desfile carnavalesco, mas, em compensação, o voluntariado era mais numeroso e o trabalho sem remuneração era a regra. 
Em algum lugar, há um barracão com as luzes acesas, alegorias em fase de estruturação, uma ou outra em acabamento, alguém soldando, alguém grampeando, alguém esculpindo, alguém martelando, alguém colando, alguém cansado, pernoitado, deitado sobre sobras de tecido para tirar um cochilo. 
Em algum lugar costureiras acabaram de fazer uma bainha, cortar uma bata, bordar uma gola, colocar um elástico, franzir uma manga, arrematar um corpete, dar acabamento com overloque. 
Em algum lugar, praça ou fim de rua ao anoitecer, as baterias estão começando o ensaio, afinando os surdos e repiques e tamborins, preparando os chocalhos, atentos, todos os componentes., à marcação do mestre, aos seus sinais, ao seu apito. 
E há os que rodeiam os percussionistas e há as que não resistem ao ritmo e bolam e rebolam, ondeando as cadeiras, balançando os seios, antecipando o momento de pisar na passarela. 
Em algum lugar há a presença invisivel de uma possível festa popular, há um prenúncio de folia momesca. Posso estar tranquilo. A tradição está mantida, o passado é inspiração, as novas gerações garantem o presente e deixam exemplo para as que vierem sucedê-las. 

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 19 de fevereiro de 2011

Hora de diversão . Carnaval . Jota Dangelo

A diretoria da Aesbra pediu demissão. No momento, uma Comissão foi constituída para receber as verbas e repassá-las às Escolas de Samba. Uma nova diretoria deve ser eleita depois do Carnaval. Antes da eleição seria bom que os membros da Aesbra revisassem os estatutos da entidade, começando pelo nome. Quando foi criada no segundo semestre de 1979, a Aesbra era Associação das Escolas de Samba, Blocos e Ranchos de São João del-Rei. Nenhum bloco pertence mais à entidade: dois dos blocos fundadores da Aesbra, Caveiras e Alvorada, foram, sem fundamento jurídico, desfiliados. O Rancho Custa Mais Vai encerrou suas atividades em fins da década de 80. A entidade não congrega mais nem blocos nem rancho. Não há mais nenhuma razão para ser mantido o nome Aesbra. O estatuto atual precisa ser revisto, com urgência. A Entidade não pode punir entidades carnavalescas que deixam de desfilar num determinado ano com perda de verba no ano seguinte: o dinheiro da subvenção é da prefeitura e não da Associação. No Rio, a Liesa – Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial – pune a escola de samba que não cumprir o compromisso de desfilar rebaixando-a para o Grupo de Acesso; mas, veja bem, só depois que a Escola de Samba, tendo assumido o compromisso de desfilar, desistir do desfile, quer dizer, a entidade pode não querer desfilar. Se ela não assume o compromisso não será punida. A rigor, a Aesbra não pode nem sequer exigir filiação, embora esta seja recomendável. Se formos ao fundo de algumas questões legais, nenhuma escola de samba de São João Del-Rei pode receber verbas públicas: o CNPJ delas está nulo e, portanto, nenhuma delas existe juridicamente. E o CNPJ está inválido porque nunca, em tempo algum, pelo que se sabe, qualquer delas fez a declaração de Imposto de Renda (IR). Embora como entidades culturais sejam isentas do pagamento de IR, elas são obrigadas a fazer a declaração. Nenhuma delas é capaz de tirar uma certidão negativa na receita federal pela internet. É só tentar para verificar. Nem mesmo a Aesbra é capaz de tirar uma certidão negativa. Embora ainda conste no site da receita federal, em termos de situação cadastral, que a Aesbra é uma entidade ativa, a certidão negativa não é expedida porque há pelo menos três anos que a entidade não apresenta declaração de isento. Com cinco anos, o CNPJ é anulado. A única escola de samba que sempre declarou imposto de renda à receita federal foi a União, enquanto existiu juridicamente, isto é, até 2009. Como, então, são repassados os recursos da prefeitura às escolas de samba, o que só pode ser feito por depósito em conta bancária da entidade que recebe a subvenção? O que acontece é que as instituições financeiras não pedem que se comprove a validade do CNPJ. Dinheiro público é coisa séria. Trata-se de recursos recolhidos de impostos pagos pelos cidadãos. Todo cuidado é pouco. E recursos públicos repassados exigem prestação de contas rigorosa: recibo em papel de embrulho não vale... O estatuto da Aesbra precisa ser revisto e tem-se agora uma boa oportunidade para fazer isto.

De qualquer modo, eis que as escolas estão ensaiando. Ou melhor, as baterias estão ensaiando. Já foi longe o tempo em que as escolas de samba ensaiavam na rua. Os tempos agora são outros, os costumes idem, as escolas de samba ibidem. Os bailes pré-carnavalescos se sucedem. A Mocidade do Bonfim já fez o seu, o Cambalhotas e o Copo Sujo também. Blocos de menor visibilidade, como o Borel, já desfilaram. O Deixa o Mundo Girar escolheu seu samba no sábado passado. Hoje é dia do Bandalheira, que volta às ruas pelas mãos de seus fundadores. Momo está chegando. Os carnavalescos e dirigentes estão se esforçando para fazer o melhor. É o que importa. Tomara que o veranico se prolongue para que a chuva, traiçoeira, não tire o brilho dos desfiles.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 06/02/2010

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Pré-carnavalescos . Jota Dangelo 

Uma nova mania chegou à cidade: a de promover bailes pré-carnavalescos por entidades que fazem o Carnaval de rua. Não todas, é claro. Na maioria das vezes, o faturamento compensa. A cada ano, aumenta o número de blocos, e mesmo escolas de samba, que se arvoram em promover o que, há muitos anos, chamava-se "Grito de Carnaval", bailes realizados pelos Clubes Sociais Esportivos como o Athletic, o Minas, o Social, o América, o Milionários, a Associação dos Sargentos. E era de ver-se a animação daqueles bailes, embalados ao som de orquestras onde pontilhavam o trombone de vara e o trompete, além dos instrumentos de percussão. Num clima descontraído, os foliões compareciam com fantasias simples, chamados "disfarces", nome que se dava a uma meia-fantasia meio-traje, quase sempre uma camiseta, um quepe ou um boné de marinheiro e um colar de havaiana compondo o resto da indumentária.

Ao som das marchinhas e dos sambas do ano, além de sucessos antigos e marchas-rancho dolentes para arrefecer o ritmo desenfreado que invadia os salões, a horda carnavalesca se esbaldava à espera do frevo que marcava a hora de descanso da orquestra, e também dos corpos suados dos foliões.

Estou falando de um tempo em que o lança perfume era usado mais para perfumar do que para cheirar, mais como complemento vaporizado de uma cantada do que como inebriante, embora houvesse, como sempre houve e haverá, as exceções, quer dizer, quem preferisse o porre alucinógeno ao prazer do esguincho perfumado no colo ou no pescoço da mulher a ser conquistada. Outros tempos, claro. Não vou dizer melhores, porque não sei como os jovens de hoje se sentem nas suas conquistas tipo malhação e assemelhados.

O certo é que a primeira entidade que promoveu um baile pré-carnavalesco foi o Cordão Encarnado, sucedâneo da Escola de Samba Qualquer Nome Serve, por volta de 1980, 81, lá se vão 27 anos. A própria Escola de Samba Qualquer Nome Serve já tinha inventado o Baile dos Casais na segunda-feira de Carnaval, tendo à frente Ney Panzera e eu, e depois Murilo Bezamat e eu mesmo. O Cordão Encarnado criou o Baile do Vermelho e Branco. Algum tempo depois o Minas também fez o Baile do Azul e Branco, mas era promovido pelo próprio clube.

Em tempos atuais, foi o Copo Sujo que continuou a tradição de promover bailes pré-carnavalescos, depois que o Cordão Encarnado saiu de cena. Agora, já são vários os bailes promovidos por entidades carnavalescas, a escolher: o da Chácara, o dos Cambalhotas (estes até fazem mais de um), o dos Metralhas, o do Copo Sujo e os de outras agremiações que estão chegando agora à passarela. É algo diferente. Já que os Clubes não se interessaram mais em promover estes eventos pré-carnavalescos, Blocos e Escolas de Samba viram na promoção uma oportunidade para captar recursos extras para suas despesas com os desfiles oficiais. A Prefeitura dá pouco, é o que dizem. Este ano, para as escolas de samba, perto de 30 mil reais. Há quem acha que é muito. O assunto dá margem para interminável discussão, regada a não poucas cervejas nos botequins da cidade. Porém, mais do que a verba, se é pouca ou se é muita, o que importa mesmo é o resultado conseguido com ela. Trata-se de outra discussão interminável, que atravessa a quaresma. E haja cerveja.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei

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