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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Carnaval . Artigos diversos de Jota Dangelo
Descrição
Carnaval de São João del-Rei e região . Memórias, dados e imagens
GRES Bate-Paus
Por Gazeta de São João del-Rei em 26/01/2013
Persiste a dúvida. Ninguém consegue provar, com documentos, em que ano foi fundada a agremiação carnavalesca Bate-Paus. A data de criação do antigo bloco é envolta em boatos, afirmações sem base, suposições. Já se disse que foi em 1932, 1933, 1934 e 1936. Se o primeiro desfile do Bate-Paus foi em 33, a agremiação estaria completando 80 anos de existência neste próximo Carnaval. Quando escrevi meu livro sobre a folia são-joanense (1950-2000) não consegui desvendar o mistério. Na pesquisa que fiz nos órgãos de imprensa locais, desde o começo do século XX, nada encontrei que pudesse comprovar a verdadeira data de criação da mais antiga agremiação carnavalesca, ainda na ativa, da cidade. Os dados mais consistentes que registrei naquela obra são contraditórios, como ver-se-á a seguir:
1 – Em 1977, o Bate-Paus, ainda bloco, desfilou com um o tema “Exaltação aos 40 anos”, prestando uma homenagem ao seu fundador, João Henrique. O samba de Hélio Alex não deixava nenhuma dúvida: “Foi no ano de 36 / jamais o povo esquecerá / quanto bonito ele fez/este bloco infernal, tradicional”. O samba contrariava folhetos mais antigos do Bate-Paus nos quais constava 1933 ou 1934 como data de fundação.
2 – Para aumentar a confusão, em 1982 o Bate-Paus, desfilando com o tema “O morro em noite de gala”, publicaria um folheto dizendo, com todas as letras, que a agremiação estava comemorando 50 anos de existência. Se em 1977 comemorara 40 anos, como comemorar 50 em 1982? E, de novo, em 82, Hélio Alex foi o autor do samba, que dizia, claramente: “Bate-Paus este ano /traz com o povo cantando/o seu tema sensacional/o morro em noite de gala/apresenta e canta 50 carnavais”. Se em 77 o bloco completava 40 anos, como completar 50 em 82? O Bate-Paus conseguiu fazer 10 anos em cinco…
De qualquer modo, o que importa é que a mais antiga agremiação carnavalesca são-joanense vai ser homenageada pelo Atitude Cultural em 2013. Justa homenagem. Até hoje ninguém conseguiu explicar o bate-paus do bloco. De onde veio essa tradição? No folclore mineiro não temos esse tipo de manifestação popular, o maculelê, muito mais conhecida no Nordeste.
Na verdade, o maculelê é dançado com os componentes portando dois bastões, enquanto que no Bate-Paus é somente um. A homenagem é pertinente. Valeu, Alzirinha!
A crítica musical
Os tempos mudaram. Os bailes carnavalescos, os de salão, não existem mais, com raras exceções. O Carnaval agora é na rua, a turma atrás do trio elétrico ou nas bandas e blocos, à vontade, sem compromissos com a criatividade. As marchinhas de carnaval, tão saborosas e críticas, usando o duplo sentido ou falando diretamente, desapareceram do Carnaval. Mas não no Rio. No Rio, os blocos de rua (e são centenas!) estão cantando sambas que substituíram as marchinhas carnavalescas na crítica política. Neste sábado, o Bloco Imprensa que eu gamo, criado por jornalistas, desfila com um samba com o seguinte trecho na letra: “Zé Dirceu se perdeu/Antes ele do que eu/A Carolina todo mundo viu pelada/Menos o Lula que nunca sabe de nada”.
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Regressão
Por Gazeta de São João del-Rei em 26/01/2013
Regredimos, no Carnaval que se aproxima, aos anos 60 e início dos 70 do século passado. Naquele tempo, quando escolas de samba desfilavam no domingo e na terça de Carnaval, enquanto os blocos (e que saudade daqueles blocos!..) desfilavam no sábado e na segunda, o resultado do julgamento, cujo primeiro deles ocorreu em 1965, era conhecido na hora do desfile de terça-feira e era na avenida que se entregavam as taças aos vencedores dos três primeiros lugares. Como é fácil compreender, o resultado vazava muito antes da hora do desfile; às vezes, até mesmo na segunda-feira à noite já se sabia do resultado. Ou na manhã de terça-feira.
Não foram poucas as vezes em que episódios constrangedores ocorreram no desfile de terça: dirigentes de escolas perdedoras pisaram em taças em plena avenida, e houve quem as jogasse no córrego do Lenheiro…O Carnaval é uma festa popular de alta significação para os brasileiros. Não é o momento de acirrar ânimos, incitar a violência, criar situações de exceção. Nem todos os componentes de agremiações carnavalescas sabem aceitar uma derrota num desfile carnavalesco de maneira passiva. Queiram ou não queiram, escolas de samba também estimulam emoções, podem provocar, como no futebol, manifestações apaixonadas, e até violentas. É só por esta razão que em nenhum local no país, pelo que eu saiba, o resultado de um desfile carnavalesco é dado a público nos dias de Carnaval. O Rio, que conhece de sobra Carnaval de rua e disputas carnavalescas, logo nos primeiros anos em que foi instituído o julgamento oficial, tratou de dar o resultado na quarta-feira. Carnaval é feito para a pura brincadeira. Mágoas, ressentimentos, para depois, nas cinzas.
Foi exatamente o que se fez em São João del-Rei em 1974, há quarenta anos portanto, colocando um ponto final na entrega dos troféus em pleno Carnaval. Voltamos àqueles tempos. As entidades carnavalescas são-joanense decidiram que na terça-feira gorda vão desfilar as campeãs, ou melhor a campeã (pois campeã é só uma escola) e as outras duas colocadas em segundo e terceiro lugares. Uma decisão, a meu ver, equivocada. A justificativa de que a terça-feira, sem o desfile, abre um vazio carnavalesco na programação, não me convence. Outras soluções poderiam ser encontradas, se realmente fossem necessárias. É a segunda decisão equivocada que a AESBRA homologa nos seus anos de vida. Houve outras também, mas sem tanta importância. A primeira foi quando decidiu que todos os blocos passariam a ser escolas de samba. Com o tempo, temos o panorama de hoje: sete (às vezes oito) escolas de samba desfilando e contando, para isto, praticamente com recursos públicos, cada vez mais minguados.
Independente da novidade, e há, certamente, quem concorde com ela, é preciso ressaltar desde já a abnegação e o esforço dos dirigentes das escolas de samba que ainda não receberam nada do poder público (a verba só deve ser repassada entre 15 e 20 de janeiro), em virtude da falta de planejamento anterior e da investidura recente da nova gestão. Todos eles estão na batalha, para manter a tradição daquele que foi, faz tempo, referência nacional do Carnaval do interior de país.
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Barracão
Por Gazeta de São João del-Rei em 19/01/2013
Dentro do barracão, olhou, um tanto desamparado, para as ferragens desnudas dos carros alegóricos. A 21 dias do Carnaval, um calafrio percorreu-lhe o corpo ao ver o chassis desnudo, na verdade um emaranhado de peças de metalon que serviram de base às alegorias do Carnaval de 2012. O alegorista, pasmo, tentou imaginar a peça pronta, os desníveis cobertos com madeira, as laterais ornadas, as esculturas em isopor (por aqui ainda não chegaram as esculturas em fibra), os suportes dos destaques armados, os detalhes em acetato dourado, o gerador funcionando, os spots acesos. Pura fantasia. Por ora, com a chuva caindo lá fora, irritante, chata, copiosa ou simplesmente garoenta, o que está na sua frente é um esqueleto de ferro que, provavelmente, terá ainda que ser modificado para servir de base para os vôos imaginosos do carnavalesco de 2013.
Alguém acabou de chegar com uma máquina de solda. Mas ainda não existe certeza do que deve ser modificado. E como modificar: o desenho das alegorias, em apenas duas dimensões, é apenas um esboço. Ainda não chegou por aqui os desenhos em AutoCAD, tridimensionais, que permitem uma visão perfeita do que vai ser construído. O alegorista não concorda, em princípio, com o carnavalesco: o projeto é muito mais um amontoado de suportes para destaques do que uma alegoria compatível com o enredo. Mas fazer o quê? Cobra para executar o que o carnavalesco desenha. Ou imagina. Ele sabe que não é bem assim em outras escolas. Há carnavalescos que também estão presentes no barracão, à frente da equipe, metendo a mão na massa. Aliás, recorda, ninguém pediu sua opinião sobre o enredo da escola.
Não, não. A verba ainda não saiu. Estão comprando material com dinheiro emprestado por amigos. Uma parte é doação mesmo. Outra é empréstimo. Quando a verba sair devolve-se o que se pediu emprestado. Mas, e a prestação de contas? Não vale notas fiscais com data anterior ao recebimento de verba pública. Mas este é problema para depois, para o jeitinho brasileiro, na hora a gente vê. O que interessa neste momento são o abre-alas e as duas alegorias, que o tempo é curto para encher a cabeça com mais de um problema. Já basta saber que o gerador, único, precisa de uma revisão, não liga de jeito nenhum.
Acabou de entrar no barracão um dos dirigentes da escola com uma enorme caixa de papelão: chegaram os francotex, os galões dourados, as folhas de acetato, as guirlandas prontas, os granulados, tudo de São Paulo, da 25 de março, ou do Saara, do Rio, visto que o comércio local não tem estoque nem preocupação com material carnavalesco para escola de samba, muito menos com as novidades que surgem. O que mais se vê, nas lojas locais, é colar de havaiana, máscaras, lança-espuma, confete, talvez serpentina, algum isopor em folha (nada pré-moldado ou em cubo).
Já passa das 23 horas, mas estas armações de madeira das laterais dos carros não podem ficar para amanhã: amanhã o marceneiro não pode vir. E amanhã, como se sabe, já não faltam mais 21 dias para o Carnaval: só 20.
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Em algum lugar . Jota Dangelo
Em algum lugar, a esta hora, alguém está debruçado sobre uma prancheta desenhando a fantasia de uma ala de baianas.
O lápis risca a folha de papel enquanto a imaginação viaja pelas fotos de antigas revistas, pelas transmissões de TV na Sapucai, pelas alas de baianas da Imperatriz de Rosinha Magalhães, do Salgueiro de Renato Lage, da Mangueira de Mamo Quintaes, da Beija Flor de Laíla.
Em algum lugar da 25 de Março, em São Paulo, um dirigente de escola de samba de São João del-Rei está comprando peças de cetim por preços convidativos, plumas por atacado, peças de galão dourado e prateado, metros de TNT e muitos milheiros de lantejoulas.
Em algum lugar, no Largo do Carmo ou no Bonfim, em Matosinhos ou no Senhor dos Montes, no Tijuco ou no São Geraldo, uma roda de amigos está reclamando da verba, sempre pouca, liberada pela prefeitura para
o Carnaval. Ninguém se lembra de que já houve um tempo em que não havia verba alguma e existia desfile carnavalesco, mas, em compensação, o voluntariado era mais numeroso e o trabalho sem remuneração era a regra.
Em algum lugar, há um barracão com as luzes acesas, alegorias em fase de estruturação, uma ou outra em acabamento, alguém soldando, alguém grampeando, alguém esculpindo, alguém martelando, alguém colando, alguém cansado, pernoitado, deitado sobre sobras de tecido para tirar um cochilo.
Em algum lugar costureiras acabaram de fazer uma bainha, cortar uma bata, bordar uma gola, colocar um elástico, franzir uma manga, arrematar um corpete, dar acabamento com overloque.
Em algum lugar, praça ou fim de rua ao anoitecer, as baterias estão começando o ensaio, afinando os surdos e repiques e tamborins, preparando os chocalhos, atentos, todos os componentes., à marcação do mestre, aos seus sinais, ao seu apito.
E há os que rodeiam os percussionistas e há as que não resistem ao ritmo e bolam e rebolam, ondeando as cadeiras, balançando os seios, antecipando o momento de pisar na passarela.
Em algum lugar há a presença invisivel de uma possível festa popular, há um prenúncio de folia momesca. Posso estar tranquilo. A tradição está mantida, o passado é inspiração, as novas gerações garantem o presente e deixam exemplo para as que vierem sucedê-las.
Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 19 de fevereiro de 2011
Hora de diversão . Carnaval . Jota Dangelo
De qualquer modo, eis que as escolas estão ensaiando. Ou melhor, as baterias estão ensaiando. Já foi longe o tempo em que as escolas de samba ensaiavam na rua. Os tempos agora são outros, os costumes idem, as escolas de samba ibidem. Os bailes pré-carnavalescos se sucedem. A Mocidade do Bonfim já fez o seu, o Cambalhotas e o Copo Sujo também. Blocos de menor visibilidade, como o Borel, já desfilaram. O Deixa o Mundo Girar escolheu seu samba no sábado passado. Hoje é dia do Bandalheira, que volta às ruas pelas mãos de seus fundadores. Momo está chegando. Os carnavalescos e dirigentes estão se esforçando para fazer o melhor. É o que importa. Tomara que o veranico se prolongue para que a chuva, traiçoeira, não tire o brilho dos desfiles.
Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 06/02/2010
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Pré-carnavalescos . Jota Dangelo
Uma nova mania chegou à cidade: a de promover bailes pré-carnavalescos por entidades que fazem o Carnaval de rua. Não todas, é claro. Na maioria das vezes, o faturamento compensa. A cada ano, aumenta o número de blocos, e mesmo escolas de samba, que se arvoram em promover o que, há muitos anos, chamava-se "Grito de Carnaval", bailes realizados pelos Clubes Sociais Esportivos como o Athletic, o Minas, o Social, o América, o Milionários, a Associação dos Sargentos. E era de ver-se a animação daqueles bailes, embalados ao som de orquestras onde pontilhavam o trombone de vara e o trompete, além dos instrumentos de percussão. Num clima descontraído, os foliões compareciam com fantasias simples, chamados "disfarces", nome que se dava a uma meia-fantasia meio-traje, quase sempre uma camiseta, um quepe ou um boné de marinheiro e um colar de havaiana compondo o resto da indumentária.
Ao som das marchinhas e dos sambas do ano, além de sucessos antigos e marchas-rancho dolentes para arrefecer o ritmo desenfreado que invadia os salões, a horda carnavalesca se esbaldava à espera do frevo que marcava a hora de descanso da orquestra, e também dos corpos suados dos foliões.
Estou falando de um tempo em que o lança perfume era usado mais para perfumar do que para cheirar, mais como complemento vaporizado de uma cantada do que como inebriante, embora houvesse, como sempre houve e haverá, as exceções, quer dizer, quem preferisse o porre alucinógeno ao prazer do esguincho perfumado no colo ou no pescoço da mulher a ser conquistada. Outros tempos, claro. Não vou dizer melhores, porque não sei como os jovens de hoje se sentem nas suas conquistas tipo malhação e assemelhados.
O certo é que a primeira entidade que promoveu um baile pré-carnavalesco foi o Cordão Encarnado, sucedâneo da Escola de Samba Qualquer Nome Serve, por volta de 1980, 81, lá se vão 27 anos. A própria Escola de Samba Qualquer Nome Serve já tinha inventado o Baile dos Casais na segunda-feira de Carnaval, tendo à frente Ney Panzera e eu, e depois Murilo Bezamat e eu mesmo. O Cordão Encarnado criou o Baile do Vermelho e Branco. Algum tempo depois o Minas também fez o Baile do Azul e Branco, mas era promovido pelo próprio clube.
Em tempos atuais, foi o Copo Sujo que continuou a tradição de promover bailes pré-carnavalescos, depois que o Cordão Encarnado saiu de cena. Agora, já são vários os bailes promovidos por entidades carnavalescas, a escolher: o da Chácara, o dos Cambalhotas (estes até fazem mais de um), o dos Metralhas, o do Copo Sujo e os de outras agremiações que estão chegando agora à passarela. É algo diferente. Já que os Clubes não se interessaram mais em promover estes eventos pré-carnavalescos, Blocos e Escolas de Samba viram na promoção uma oportunidade para captar recursos extras para suas despesas com os desfiles oficiais. A Prefeitura dá pouco, é o que dizem. Este ano, para as escolas de samba, perto de 30 mil reais. Há quem acha que é muito. O assunto dá margem para interminável discussão, regada a não poucas cervejas nos botequins da cidade. Porém, mais do que a verba, se é pouca ou se é muita, o que importa mesmo é o resultado conseguido com ela. Trata-se de outra discussão interminável, que atravessa a quaresma. E haja cerveja.
Fonte: Gazeta de São João del-Rei
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