Acordei desejando saber o resultado das eleições para reitor da “Funrei”. Mal dei conta do meu café da manhã. Uma xícara de achocolatado, um cafezinho e uma torrada com mel, num “vapt-vupt”, tentando controlar minha ansiedade e dar um tempo para não acordar minha prima Adriana que, sei, não é madrugadora como eu. Assim mesmo, quando fiz a ligação, percebi, pela sua voz, certa sonolência que confundi com desânimo, e temi receber uma resposta negativa. Tremi nas bases. Meu emocional é assim mesmo: coloca-me facilmente em situação de pânico. Depois que passa já consigo achar graça… Nunca tinha imaginado como a vitória da Valéria era tão importante para mim. Minha voz e minhas lagrimas, que não consegui dominar no primeiro momento, fizeram a tradução mais que perfeita daquele momento inesquecível: foi uma sensação realmente de felicidade. Em seguida, pelo celular, consegui transmitir-lhe meus parabéns e o meu sentimento, e disse que com ela eleita reitora, era como se nós, mulheres, também estivéssemos assumindo a Universidade Federal de São João Del Rei.

Não sei explicar com palavras a euforia que me embargou, com certeza sedimentada numa ancestralidade onde os espaços da mulher eram limitados e estrategicamente adocicados, com slogans delicados, como “mulher é a rainha do lar”. Acredito que a geração dos meus filhos (anos 60) não consiga imaginar a magnitude desta conquista pois, quando chegaram, muitos caminhos já tinham sido percorridos, muitas lutas vencidas e o espaço a vir a ser ocupado pelas mulheres já começava a ser desenhado e projetado. Não sei, em termos de Brasil, quantas universidades tiveram reitoras mulheres. Na UFMG tivemos duas que exerceram seus mandatos com aprovação irrestrita. Ser reitora em São João del-Rei, cidade que em 2013 vai comemorar 300 anos, é uma história que na minha fantasia começa com Bárbara Eliodora: muitos até hoje desconhecem seu papel e importância nas ideias e ideais inconfidentes, além da coragem e firmeza com que, sozinha na adversidade, lutou por seus bens e herança na defesa de sua família. Coincidências da vida, a casa de Bárbara fica ao lado da Universidade. Como primeira presidente do Centro Cultural Feminino de São João del-Rei, vejo nesta releitura um convite para que outras Bárbaras, belas mulheres, neste ano eleitoral, se animem e coloquem seus nomes à disposição de seus partidos para que possamos também estar marcando presença na nossa Câmara Municipal.

Em São João del-Rei – trezentos anos – uma câmara formada meio a meio por homens e mulheres seria realmente uma conquista para comemorar. Sonhar não custa nada, e só o fato de querer já nos dá uma vantagem: somos uma parte significativa do contingente eleitoral da cidade e sempre se pode contar com nossos filhos, netos, irmãos, companheiros, maridos e amigos que sabem da importância de uma composição eclética da Câmara, um somatório do feminino com o masculino: com uma complementação inteligente e prazerosa a cidade só tem a ganhar.

Hoje é tempo de comemorar o valor da guerreira Valeria, para mim um exemplo de pessoa de visão, de vanguarda, como demonstrou à frente dos seus projetos estruturados nos valores sociais, ecológicos e de sustentabilidade. Para mim ela é o perfil de cidadã que reflete ao máximo a frase do poeta Mario Quintana: “mais importante que a pessoa nascer na cidade é a cidade nascer no coração da pessoa”.