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Folias lutam para sobreviver . Rhonan Moreira Neto

Descrição


Ameaçadas pelo esquecimento e pela falta de interesse dos mais jovens, as folias buscam manter viva a memória e o folclore


Uma tradição que dura séculos e que, infelizmente, vem lutando contra diversos obstáculos para tentar manter-se viva. Essa é a Folia – seja de Reis, de São Sebastião ou do Divino. As três datas, nas festas dos Santos Reis e São Sebastião (no mês de janeiro) e do Divino Espírito Santo (realizada sete semanas depois do Domingo de Páscoa), são as únicas oportunidades de se encontrar os folieiros, nas altas horas da noite, adentrando a madrugada e as casas daqueles que os recebem para a cantoria.

Sempre fui um extasiado pelas folias e congados. Assim, noite dessas, ouvindo o batuque dos folieiros próximos à minha casa, não titubeei. Câmera e gravador em punhos, paixão no coração: fui eu atrás da folia! E a segui a noite toda, ouvi histórias e fiz um amontoado de fotos legais: “Depois você me passa essas foto, né?” – solicitou o Sr. José Silveira do Nascimento, um policial militar reformado, líder do simpático Terno de Folia do Divino Espírito Santo, do povoado do Elvas, pertencente à cidade de Tiradentes. O grupo era composto por 10 membros, sete deles presentes na fria noite da visita a Barroso, na companhia de um folieiro local, que indicava as casas que costumeiramente recebiam a folia.

Munidos de três violões, uma sanfona, tambor de couro, pandeiro, triângulo, afoxé e o cavaquinho tocado por Sr. José Silveira, e cantando ainda do lado de fora das casas, a folia pedia licença aos moradores, oferecendo a bandeira, que traz nela a imagem sagrada. Acolhida feita, dentro da casa era hora de cantar a alegria e a devoção ao Divino Espírito Santo, receber os donativos e, vez ou outra, um cafezinho para seguir com a tradição pela alvorada. Passados não mais que 15 ou 20 minutos, o cântico é o da despedida, rumo a outras moradas, a outras visitas.

Segundo Nascimento, a tradição do seu grupo de folia desde as gerações anteriores dura, pelo menos, 400 anos, destacando nomes de grandes folieiros de tradição do passado. Para ele, as grandes dificuldades em se manter uma folia são encontrar pessoas dispostas a seguir as regras e princípios do grupo, exercitar a devoção e, ainda, a questão financeira: “Nós mesmos é que patrocinamos nosso grupo. Não temos ninguém que nos apoie e precisamos de instrumentos, uniformes e damos cestas básicas para um ou outro folieiro mais necessitado. Mas estamos aí, tentando levar a tradição da folia adiante”, coloca.

Tradição que vai se apagando
Quando questionado sobre o interesse dos jovens em participarem desse tipo de manifestação cultural, Nascimento responde em ar desanimador: “Esse pessoal de hoje não quer seguir essas tradições folclóricas. As folias estão acabando. Se antes uma localidade tinha três ou quatro folias, hoje ela tem uma só, se tiver”, lamenta ele. Outra dificuldade em conseguir mais membros é que a tolerância a farras e bebida em excesso é pequena: “Nós não gostamos de bagunça, nem de bebedeira. Nossa folia é disciplinada, que segue normas e regulamentos. Na hora que a bandeira está à nossa frente, torna-se uma devoção”, diz o militar.

Sobre a Folia do Divino, a tradição teria surgido em Portugal, por volta do século 14. Referencial de mineiridade, acredita-se que tenha chegado ao Brasil entre os séculos 17 e 18. Em nossa região, o Jubileu do Divino, realizado no Santuário de Bom Jesus do Matosinhos, em São João del Rei (http://www.observatoriodacultura.org/2010/11/salve-o-divino-fe-e-tradicao-popular-em.html), é uma das festas mais conhecidas, atraindo milhares de pessoas todos os anos, em uma grande manifestação que agrega valores religiosos, turísticos e culturais.

Publicado no Observatório da Cultura . 06 de maio de 2012
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