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O Centro Cultural Feminino foi parar na ‘Zona’ . Walquíria Domingues

Descrição


Shirley Paiva está no Centro Cultural Feminino desde sua fundação

“Nós não podíamos passar pela ‘rua da zona’, mas acabamos aqui”, brinca Nelly Lúcia Ribeiro Silva (Guigui), uma das fundadoras do Centro Cultural Feminino (CCF), que desde 2007 se localiza na Rua Marechal Bittencourt, a antiga e boêmia “Rua da Zona” de São João del-Rei. A rua, antiga morada das prostitutas da cidade, hoje abriga diversas entidades culturais e é o ponto de encontro do CCF, que já existe há 25 anos.

Desde 1986, desenvolvendo diversas ações que visam “principalmente congregar a comunidade em torno de temas relacionados à cultura e às manifestações artísticas da região”, como explica a atual presidente Magda Valéria Silva, o CCF realiza muitas atividades. São cursos, oficinas, palestras, debates, saraus, exposições, apresentações musicais, eventos alusivos a datas especiais, “além de manter na sede uma exposição permanente de produtos artesanais para venda”, acrescenta Magda Silva.

O Centro Cultural Feminino, apesar de estar na antiga “Rua da Zona”, ainda não tem um lugar só seu. “Nós ficamos muito errantes, porque não temos uma sede própria”, reclama Guigui. O grupo já esteve em vários pontos da cidade, como no galpão da Estação Ferroviária, em uma casa na Avenida Tiradentes e até mesmo na residência de um membro da diretoria.

Hoje, o Centro reside na casa de número 42 da rua boêmia, porque esta foi cedida por um comodato de 10 anos.  2007 foi inteiramente dedicado para a reforma do local, que aconteceu com a ajuda do governo estadual. A casa, por exemplo, não tinha banheiro. “A casa não tinha banheiro, como todas as outras ruas da zona. Os homens que freqüentavam a zona contaram que não havia banheiro nas casas, e era usado o método da bacia”, conta Magda Valéria. O projeto arquitetônico da reforma foi de André Dangelo, que não cobrou pelo serviço, assim como aconteceu com as demais doações.


D. Guigui, co-fundadora do CCF

História de raíz política

O Centro Cultural Feminino começou com o fim da ditadura militar. “Aqui em SJDR estávamos montando o comitê Muda Brasil, através da Maria Amélia Dangelo. Ela veio aqui e convocou as mulheres para participar, já que SJDR era a terra de Tancredo e ainda não tinha o comitê”, conta Guigui. Magda Valéria complementa que Maria Amélia, depois da vitória de Tancredo, “resolveu criar uma associação feminina que pudesse participar de assuntos importantes da cidade com a mesma força que defendeu Tancredo”, diz.

Dona Guigui se orgulha: “a partir daí estamos nessa luta, já fizemos muita coisa, participamos de muita briga pelo patrimônio material e imaterial da cidade”, e relembra: “vai levar os pianos de São João? Lá ia a gente sentar na porta do teatro para o piano não sair”. A força feminina são-joanense veio assim, mostrando desde 1986, que a cidade precisa e pode defender seu patrimônio arquitetônico e cultural.

A co-fundadora Guigui relembra com muito humor de um caso que aconteceu no início das atividades do CCF. “Recebemos uma verba do governo pra comprar material para os bordados, mas um ladrão entrou no Centro e roubou tudo, deixou a gente peladona”, fala. Depois de um tempo, elas descobriram que rapazes vendiam os bordados e o material roubado para comprar drogas. “Como na época aqui era a rua da zona, eles vendiam ou pagavam as moças com os materiais e os bordados. Nós acabamos descobrindo muitos bordados nossos aqui na zona”, conta Guigui.

Os bordados
Uma forte atividade do Centro é preservar a arte dos bordados antigos. Como incentivadoras estão as senhoras mais prendadas da cidade. “A Shirley Zanola Paiva, por exemplo, trabalhava num orfanato que era um dos maiores núcleos de bordados que tinha em São João antigamente. Ela ensinava bordados perfeitos, maravilhosos, como borda ainda hoje”, conta Guigui. Dentre as bordadeiras também existem homens, como também na própria diretoria do Centro. Um dos bordadeiros é Edmar Luiz Batista, que já decorou altares de mais de 100 igrejas no Brasil.
Hoje, aproximadamente 20 pessoas freqüentam o Centro semanalmente, e a maioria delas são senhoras da terceira idade que passam seu tempo bordando por prazer. “Para as idosas, é o momento da terapia”, conta Magda Silva. Os bordados, minuciosos, são uma obra de arte que vem sendo esquecida pelas novas gerações. “Vale ressaltar que o CCF se empenha em resgatar, valorizar e socializar a arte dos bordados manuais com suas variadas e antigas técnicas que, muitas vezes, eram repassadas de mãe para filha e que atualmente, com a massificação e uniformização de produtos industrializados e globalizados, encontra-se praticamente em vias de extinção”, diz.



A missão continua
As integrantes do Centro acreditam que, para São João del-Rei, o CCF ainda não  está cumprindo realmente seus ideais. “Isso acontece porque infelizmente não temos muito apoio, nós tentamos lutar pela preservação do patrimônio arquitetônico e cultural, mas é muito difícil sem esse apoio”, reclama Guigui.
Mas o grupo continua empenhado, com novos projetos. “Iremos agora, no mês de outubro, começar cursos de artesanato, para aproveitar as vendas do natal”, conta Magda Valéria, que ressalta que as atividades são abertas para toda a comunidade, além de turistas, e que é tudo gratuito. “Desde aquela época, qualquer pessoa que quiser chegar, a gente recebe e ensina”, diz Guigui. Com essa força de vontade, elas ainda têm esperança: “ter uma sede própria é um sonho perseguido desde o ano de 1986. Estamos lutando para conquistá-lo em 2012. Tomara que consigamos”, diz Magda Silva.

Fotos de André N. P. Azevedo
Publicado no Observatório da Cultura . 04 de outubro de 2011

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