São João del-Rei, Tiradentes e Ouro Preto Transparentes

a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
CADASTRE AQUI A SUA AÇÃO CULTURAL, PESQUISA, PROJETO, PRODUTO, ENTIDADES, LIDERANÇAS, AGENDA CULTURAL, ETC - CONTRIBUA, ATUALIZE, COMPARTILHE!

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Festa da Santíssima Trindade reúne romeiros em Tiradentes . Nathanael Andrade

Descrição


Fiéis acompanham a procissão da Santíssima Trindade em Tiradentes

Domingo frio de junho em Tiradentes. O dia ainda não amanheceu e uma grande movimentação de fiéis e ambulantes agita as ruas da pequena cidade: é dia da Santíssima Trindade, festa que atrai milhares de fiéis todos os anos ao pequeno santuário localizado no alto da colina do Mococa.
 
Dona Marilene chegou cedo. Veio de Barroso, num ônibus especialmente fretado para o dia santo. Trouxe consigo três filhos pequenos e uma vizinha. “Costumava vir aqui com meus pais, agora trago as minhas crianças”. É a fé passada de pai para filho a razão da perpetuação da tradição.
Catusa veio de Barbacena com os pais, tios e primos. “Alugamos uma van todos os anos e passamos o dia aqui. Assistimos missa e depois passeamos belas barracas Se tem aspas, não há necessidade de itálico”. Sr Sebastião, romeiro de primeira viagem e tio de Catusa, se emociona ao se aproximar do Santuário e quase não consegue falar. “Viemos para agradecer as graças alcançadas”, diz ele.
Os romeiros são, na sua maioria, gente da região. Vêm de São João del-Rei, Prados, Dores de Campos, Barroso, Barbacena, Lagoa Dourada, Ritápolis, dentre outras cidades, no entorno de Tiradentes. Tão logo chegam à cidade, se dirigem para o santuário. Em primeiro lugar a devoção, depois a diversão.



Uma fila enorme que dá voltas em torno da capela conduz os fiéis até as imagens do Pai Eterno, do Filho e do Espírito Santo. Não há reclamação nesta espera. As pessoas aguardam resignadas, mesmo com o frio intenso. Enquanto os adultos conversam entre si, como velhos conhecidos, as crianças, muitas crianças, brincam ao redor. Alto falantes transmitem para o exterior as celebrações internas, que acontecem durante todo o dia, sempre com a igreja abarrotada de devotos.
Junto às filas muitos pedintes apelam para a caridade do próximo, num dia tão especial. Todos os anos o adro fica repleto deles, grande parte com sérios problemas de saúde. Vêm em busca de algum conforto material e também de um consolo espiritual, na esperança de um milagre, de uma cura. Esta é também a motivação de muitos peregrinos: obter graças e curas milagrosas para problemas do corpo e da alma.

Assim, para receber tanta gente, o Santuário possui uma estrutura completa e semelhante ao de outros locais de peregrinação. Além da capela dedicada à Santíssima Trindade, o complexo reúne diversas benfeitorias. A sala de Milagres, uma das mais curiosas, reúne milhares de fotos mensagens e ex-votos de agradecimento. Também fazem parte do “acervo” membros de gesso (pés, pernas, braços, cabeças) e aparelhos ortopédicos diversos, como um indicativo do milagre alcançado. Anexo à sala de milagres existe uma loja de artigos religiosos e um espaço seguro para se acender velas. Completam a estrutura um posto da Polícia Militar, chafariz, banheiros e um grande restaurante.

O senhor Nilson Barbosa, empresário na cidade, coordena os trabalhos do restaurante. Auxiliado pelos três filhos e por dezenas de voluntários, há anos se dedica a esta tarefa. Segundo ele, são servidas mais de mil refeições, gerando um lucro que vai para a manutenção da estrutura do templo.
Atentos a tudo e prontos para qualquer ação, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Tiradentes, responde pelo atendimento de emergência aos fiéis. No momento em que conversávamos com o bombeiro voluntário Airton Fernando da Silva, uma senhora chegou amparada por familiares e reforçou as estatísticas: a maioria das ocorrências, segundo Airton, é de casos de oscilação de pressão e de quedas. Em casos mais graves, o paciente é encaminhado para o posto médico da cidade ou mesmo transferido para São João del-Rei.
 
Fora do santuário, o clima é de um grande mercado. Uma vez cumprida a missão devocional, os milhares de visitantes se espalham pelo grande corredor formado pelas barracas que se espalham pelos dois lados da rua que conduz ao templo. Aos gritos, os vendedores tentam atrair a atenção dos possíveis compradores. Vende-se de tudo: peças de vestuário, eletrônicos de origem duvidosa, utensílios domésticos, alimentos, badulaques diversos, etc. Encontramos até uma barraca vendendo peixes ornamentais!
 
Elias é um destes comerciantes. Pernambucano, há 40 anos vive nômade pela festas religiosas de Minas Gerais. Possui duas barracas. Enquanto trabalha em Tiradentes, um sobrinho cuida da outra barraca numa cidade vizinha. “A barraca é minha casa de maio até outubro. Aqui eu durmo, aqui eu cozinho, aqui eu trabalho.” Entre novembro e abril, meses de chuvas intensas, administra, com a mulher, uma pequena mercearia e uma pensão em São Tomé das Letras. Como ele próprio disse: “Nasci com vocação para o comércio”.
 
João Silva, nordestino de Feira de Santana, BA, também adotou o comércio ambulante como profissão. “Faço isso há tanto tempo que até perdia a conta”. Com sua barraca de guloseimas, conheceu as principais festas de romeiros no Brasil. “Onde há fé, há fiel e onde há fiel, dá sempre pra se fazer algum negócio”, diz. Mesmo com a vida incerta e errante, João é decidido: “Não pretendo me aposentar nunca”.
A festa da Santíssima Trindade é uma das mais tradicionais romarias de Minas Gerais e tem suas origens no século XVIII, quando, por iniciativa de um eremita, foi erguida a pequena capela no ponto mais alto da então vila de São José del-Rei.



Os primeiros romeiros vinham a pé, a cavalo ou eram conduzidos em carros de boi pelas estradas poeirentas. Na falta de estrutura adequada para se alimentarem, adotavam a fruta da estação, abundante nos pomares da região: a mexerica. Isto explica a alcunha popular de festa RPM, ou seja, da Reza, da Poeira e da Mexerica.
Hoje já não há poeira e quase não se encontra uma barraca de mexericas em meio a uma infinidade de produtos em oferta. Ficou somente a reza, ou melhor, a devoção e a vinculação com a história e com o povo de Tiradentes. Valdo Rosa, tiradentino, afirma: “Os muitos eventos que acontecem aqui na cidade são, na sua maioria, para turistas. Esta festa é nossa". 
 
Mesmo com orgulho do passado e com o pé na tradição, a comissão da festa da Santíssima Trindade, não deixa de vislumbrar o presente e o futuro: há uma pagina do Santuário na internet (http://www.santuariosstrindade.com.br) na qual o devoto pode conhecer o santuário e a programação das festas, bem como pedir intenções de missas e até acender velas virtuais de sete dias. Estes são os novos caminhos para a Trindade: sem poeira e sem mexericas.

Publicado no Observatório da Cultura . 12 de julho de 2011
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Instagram Compartilhar no Whatsapp Imprimir

ESSE PORTAL É UM PROJETO VOLUNTÁRIO. NÃO PERTENCE À PREFEITURA MUNICIPAL | CADASTRE GRATUITAMENTE A SUA AÇÃO SÓCIOCULTURAL