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O Casamento do Padre Pontes . Abgar Campos Tirado

Descrição

Por sugestão do prof. Antônio Gaio Sobrinho, abordo a história apresentada em livro pelo escritor são­joanense José Antônio Rodrigues, publicado no ano de 1885, sendo dedicado ao padre José Maria Xavier. O exemplar que possuo pertenceu a minha avó materna Olívia de Oliveira Campos, nascida em 1879. Essa história, não se sabe até que ponto é verdadeira e até onde se introduz a fantasia. O livro se refere ao padre M. F. Pontes, mas, em fonte própria, encontrei o nome José Rodrigues Pontes, natural de São João del-Rei, ordenado a 17 de dezembro de 1785 por Dom Frei Domingos da Encarnação Pontével, então bispo de Mariana. Não sei se se trata do mesmo sacerdote. Mas vamos à história, que era ouvida pelo autor em sua infância, contada por sua tia I. de Lima, "mulher idosa, porém de uma  reminiscência prodigiosa".

No final do século XVIII, vivia em São João del-Rei, em modesta casa, a viúva Dorothea Perpétua, septuagenária, com sua neta Agrippina, órfã muito cedo de pai e mãe, afável, bela e atraente, em seus dezesseis anos de idade.

Um dos benfeitores de Dorothea era o padre M. F. Pontes, pessoa jovial, de grande inteligência, vivacidade e cultura, notável pregador e também profundo conhecedor das ciências humanas, sobretudo no ramo da medicina, por isso chamado "o padre doutor", então com 32 anos de idade. Dedicado à educação da jovem Agrippina, a quem chamava "meu anjo", com o tempo foi-se tomando de paixão por sua bela protegida. Um dia, comunicou a Dorothea que estava disposto casar-se com Agrippina, horrorizando a boa senhora, uma vez tratar-se de um sacerdote; mas este lhe afirmou que, para tal, conseguiria licença do Papa, dizendo inclusive que, nos primórdios da Igreja, os padres eram casados, acrescentando: "Mil vezes um padre casar-se à face dos altares, do que dar nascimento, por sua fraqueza, a uma prole bastarda".

Ausentando-se por mais de uma semana, disse, na volta, haver enviado papéis a Roma, impetrando a Sua Santidade um Breve de dispensa para o casamento de sacerdote. Seis meses depois trouxe um pergaminho com o suposto Breve de dispensa para seu casamento com Agrippina. Marcou-se a cerimônia para dali a quatro dias, providenciando ele mesmo todo o enxoval para a noiva. Em sequência, o padre Pontes apresentou o Breve, no cartório eclesiástico, ao escrivão da vara forânea, padre Sebastião José de Freiria.

O casamento se realizou na Igreja de N. Sª do Rosário, com o padre Freiria como uma das testemunhas, conduzindo a cerimônia o padre Francisco Justiniano de Carvalho.

Após o ato religioso, dirigiram-se a uma chácara situada na Rua de Santo Antônio, onde se procedeu a um festivo banquete. Entretanto, o vigário da vara soube do estranho casamento e, examinando minuciosamente o Breve, junto a outros sacerdotes, conheceu ser ele falso. Imediatamente expediu ordem de prisão contra os padres Pontes, Freiria e Francisco Justiniano. Logo chegaram ao local da festa os oficiais de justiça, que conduziram à prisão os padres, confusos e abatidos. Agrippina desmaiara. Coincidentemente, naquele momento, houve um eclipse total do sol, fato agravado, naquela tarde de agosto, por densas nuvens de fumaça, trazidas pelo vento, oriundas de queimadas na região, o que transformou a tarde em trevas (tenebrae factae sunt), o que o povo, em desespero, tomou por castigo dos céus!

Preso, o padre Pontes queria livrar­se da prisão, sobretudo para tentar libertar os outros sacerdotes, cúmplices inocentes. Certa noite, aproveitando distração da sentinela, conseguiu fugir do cativeiro, refugiando-se em uma chácara no Cala Boca, mas, descoberto, foi capturado; mas quando era reconduzido ao cárcere, conseguiu, através de seu carisma sacerdotal, fazer com que o soltassem. Para encetar a grande fuga, teve a compreensão e o auxílio de, uma grande dama, viúva de conceituado médico, que lhe confiou a carta de médico, o trajar comum, a beca e o gorro, tudo de propriedade de seu finado esposo. Passou o padre, então, a chamar-se doutor Vieira.

Daí em diante, são tantas as peripécias, que se torna impossível relatar nesta síntese, aventuras que nos fazem lembrar os contos de Voltaire, quase abeirando-se do inverossímil.

Enfim, com seu talento e habilidade como médico, conseguiu curar o Vice-rei de grave moléstia e este, sumamente agradecido, recomendou o "doutor Vieira" à rainha de Portugal. Para esse país embarcou o falso médico, sendo oportuno lembrar que seus companheiros padre Freiria e padre Francisco Justiniano já tinham sido enviados presos para Lisboa, ali respondendo a processo. Padre Pontes, a seu pedido, foi encaminhado a Roma pela rainha, que o recomendou a certo cardeal Fabrini, o qual, compadecido pelas agruras sofridas pelo padre, conseguiu que o Papa (pio VI?) o recebesse e, com muita relutância, decidiu conceder-lhe o perdão, após muita penitência. Passado 01 mês, o Papa, presenteando-o com um Rosário da Santíssima Virgem, que pertencera a uma santa, liberou-o a voltar para o Brasil, mas nunca para o local onde vivesse Agrippina. Voltando a Portugal, padre Pontes encontrou-se novamente com a rainha, tendo a mesma o recomendado ao novo Vice-rei, Dom José de Castro. No Brasil, passa padre Pontes a residir em Inhomerim.

E quanto a Dorothea e Agrippina? Sabe-se que passaram elas a viver em absoluto isolamento. Após a morte de Dorothea, Agrippina é amparada por d. Leonor Pontes, tia do padre Pontes, que, penalizada com a situação da moça, muda-se para São João del-Rei e abriga Agrippina, que, passados dois anos vem a falecer, no aconchego do lar de sua benfeitora. Suas exéquias foram celebradas o dia seguinte, na igreja de N. Sª do Rosário. Três vultos se destacavam junto ao ataúde: d. Leonor Pontes, o padre Sebastião Freiria (já absolvido) e um misterioso mancebo, imerso em grande dor. Quem seria?

Quanto ao padre Pontes, consta que passou a penetrar nos sertões, levando a luz do Evangelho aos selvagens, tendo falecido no Maranhão, onde teria fundado a povoação do Rosário. Outros diziam ter-se ele recolhido ao convento dos carmelitas, sendo chamado pelos confrades frei Manuel do Rosário.

E, terminando, diz-nos o livro: “Do padre Francisco Justiniano consta apenas, em um dos livros da V. O. T. de São Francisco de São João del-Rei, da qual era irmão, a seguinte nota: Faleceu em Lisboa”.

Fonte: Jornal da Associação dos Aposentados e Pensionistas de São João del-Rei . ASAP . 03/04 de 2012

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Abgar Campos Tirado
Abgar Campos Tirado foi homenageado na Semana Santa Cultural 2011 . São João del-Rei
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