Como culinarista quero oferecer aos nossos leitores sanjoanenses um roteiro gastronômico de compras nessa cidade.Não poderia deixar de escrever sobre o lúdico e quase "esquecido" MERCADO MUNICIPAL. Digo esquecido, porque no início eu ficava surpresa e hoje em dia fico triste ao ouvir nos meus cursos de culinária: "... mas em São João del Rei tem Mercado Municipal??? Onde fica???..."

Sempre fui fascinada pelo ambiente dos mercados, que são na realidade grandes feiras livres cobertas. Quem já teve a excelente oportunidade de conhecer outros, sabe como são os grandes mercados no Brasil e no mundo, mas para falar deles, seriam várias colunas. Vamos por hora, ficar aqui mesmo, pertinho de casa no coração da histórica São João del Rei.

Lá, vamos encontrar hortifrutigranjeiros procedentes de vários locais de distribuição, grãos e temperos de variados cerealistas da famosa Rua Santo Antônio de São Paulo e outros laticínios e doces de várias cidades do entorno, assim como as carnes.

Como também as atraentes verduras e as flores plantadas nas colônias da região, juntamente aos chás e ervas dos nossos raizeiros anônimos, misturado ao inebriante cheiro de fumo de rolo, incenso, pimentas diversas e dos temperos e conservas caseiras trazidas nas sacolas (de ônibus!) das comerciantes.

Para quem gosta – tem a boa e pura cachaça, com opção das que vêm curtidas com raízes "milagrosas" não podendo faltar à deliciosa com mel, para as damas.

Não falta o mel puro e as verduras regadas com a água limpa de mina da serra do lenheiro, plantadas por um dos mais antigos comerciantes do mercado, Seu Jacinto, que seu filho gosta de repetir com muito orgulho... "Cresci ao lado do meu pai, no mercado de São João, ali era a minha casa...".

Sem esquecer das mais lindas e já curadas panelas de pedra sabão, das delicadas colheres de pau, das cabaças e dos artesanatos de palha da região.

Mas o que realmente me encanta e o que atrai - principalmente aos turistas- é por lá se parecer com uma grande colheita. Onde posso voltar a um tempo que não registrei nessa etapa, mas que posso visualizar. Vejo os colonos semeando, colhendo e aprendendo com a Mãe natureza seus sábios ensinamentos. Por exemplo, juntamente com as suas mercadorias oferecer carinho para seus semelhantes e crédito aos que vão lá sem ter ainda colhido seu pão de cada dia; te darem logo cedo um bom dia alegre e te chamarem de "coração", não importando sua raça, condição social, nem seu credo.

Sou sul mato-grossense e assim como outras pessoas não nascidas em São João, no mercado nos sentimos em família. Uma grande família.

Aqueles que não conhecem, sugiro para irem lá, sentir o cheiro e o frescor daquele ambiente puro e que tem a nobreza daqueles que mais contribuem para fazer o "Brasil ser o país mais acolhedor do mundo" - como dizem os estrangeiros.

Aos que já conhecem, prestigiem e ajudem a resgatar a história de São João, colaborando para que o "nosso mercado" esteja um dia entre os mais famosos Mercados do Mundo.

"Preta, vou querer sobre..." – Preta, é o apelido da comerciante de frangos, e esse grito da cliente do outro lado da rua, é a única e singela poluição sonora que se ouve no local.

Ob.: Sobre é uma parte do frango.

Se eu fosse poeta, teria feito uma poesia, cineasta faria um filme desse cotidiano, mas tenho o privilégio de ser consumidora há mais de vinte anos desse lindo universo. Claro que não foi possível lembrar nem descrever todos os itens, mas os que omiti certamente estão guardados com muito carinho em algum lugar de minha memória. Talvez "do lado esquerdo do peito...".

Existe um lugar... Vamos revitalizá-lo???

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 28.03.09