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a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

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Chacal . Rogério Medeiros Garcia de Lima

Descrição

Rogério Medeiros Garcia de Lima/Sobre o autor e outros artigos de sua autoria
Homenagem de sua filha Aila
Chacal foi homenageado no Carnaval de antigamente Atitude Cultural 2012 . São João del-Rei

“Marmota, marmotinha, vamos todos marmotar” (do são-joanense Chacal; paródia da marchinha infantil “Ciranda, Cirandinha”).
Chacal é um feroz cão selvagem, de pelo amarelo-pardo, encontrado nos Balcãs, Ásia e África. Anda em bandos e tem hábitos noturnos.
“O Dia do Chacal” é o célebre romance policial do escritor inglês Frederick Forsyth, adaptado para o cinema em 1973. O enredo se baseia em tentativa real de assassinato de Charles de Gaulle, nos idos de 1963. O carro em que se deslocava o presidente francês chegou a ser metralhado. O autor do atentado foi o Jean Bastien-Thiry, funcionário público insatisfeito com a perda do cargo na Argélia, em virtude da independência da antiga colônia francesa.
Ao descolonizar a Argélia, Charles de Gaulle desagradou parte da sociedade e oficiais direitistas do exército francês. O romance descreve a organização clandestina conhecida como OAS, formada por antigos militares desertores. A organização contrata um assassino profissional, apelidado de Chacal, o qual tem a identidade ocultada por ter trabalhado para vários serviços secretos no pós-guerra. Planeja a morte do presidente para 25 de agosto de 1963. Elimina obstinamente todos os obstáculos opostos à sua missão. Cabe a Loyd, comissário de polícia, tentar capturar Chacal antes da consumação do ato terrorista.
Chacal é também a alcunha do famoso terrorista de esquerda Ilich Ramírez Sánchez, nascido na Venezuela em 1949. Recebeu o apelido de Carlos, o Chacal; quando policiais encontraram no quarto de um hotel, onde se hospedara, um exemplar do livro de Forsyth. Após a prática de sanguinários atentados em diversos países, Ilich cumpre atualmente pena de prisão perpétua.
Todavia, não escrevo aqui sobre o cão bravio e nem a respeito do cruel terrorista. O Chacal a que me refiro foi um sexagenário menino travesso, que nos deixou em 23 de fevereiro 2012.
Nascido em São João del-Rei, era batizado Murilo Chafy Hallak. Alguns anos mais velho do que eu, suponho ter sido arteiro na infância, porque arteiro foi até o fim de seus dias neste mundo de Deus. Trabalhou no Banco do Brasil e constituiu conhecida família, com esposa e filhas encantadoras.
Era boêmio da melhor categoria. Apreciava as esquinas e os botequins. Proseador sublime, mesclava realidade e ficção com arte e graça. Compositor de sambas, foi muito cantado nos saudosos carnavais do passado.
Era o Forrest Gump do Lenheiro. Os Trapalhões vinham filmar em São João del-Rei? Lá estava o Chacal. Travou boa camaradagem com o divertido Mussum. Dois bagunceiros, certamente aprontaram.
Vinícius de Morais e Toquinho deram um show no nosso Teatro Municipal? Chacal tomou doses generosas do bom uísque com o poeta. Deve ter concordado com Vinícius: o uísque é o melhor amigo do homem, é o cachorro engarrafado.
Autoridades políticas em visita à cidade? No meio delas estava o Chacal. Saudava e, não raramente, polemizava. Atitudes do menino traquinas que sempre foi. Maldade? Nenhuma.
Viajar? Chamassem o Chacal, era com ele mesmo. Automóvel, ônibus, navio ou avião. Tanto fazia. Foi assistir in loco à Copa da Espanha de 1982. O Brasil não venceu o torneio, apesar do mágico futebol-arte da equipe de Telê Santana. Mas Chacal trouxe na lembrança vários canecos de cerveja e vinho: coisa de campeão! Trouxe também a alegria incomensurável de narrar passagens inverossímeis, vividas ou imaginadas, em terras espanholas.
Chacal me alegrou muitas vezes. Era o seu jeito de ser. Imagino o conterrâneo em Madri, no centro da Plaza de España e numa tarde reluzente de céu azul. Diante da bela fonte Miguel de Cervantes, mira as esculturas do Dom Quixote, Sancho Pança e suas montarias. Ouve o Cavaleiro da Triste Figura vociferar:
“Se me não queixo com a dor, é porque aos cavaleiros andantes não é dado lastimarem-se de feridas, ainda que por elas lhes saiam as tripas”.
Assim era o Chacal: partiu sem despedidas e sem chiar um ai. Deus o tem.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 31 de Março de 2012
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