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Barthô . Jota Dangelo

Descrição

Os eventuais leitores deste canto de página que me perdoem, mas hoje me coloco diante do muro de lamentações para chorar a morte do amigo, escritor e poeta Bartholomeu Campos de Queiroz. Ele foi sepultado na segunda-feira passada depois de velado na Academia Mineira de Letras da qual era membro. Digo poeta, não porque Bartholomeu tenha escrito poemas, mas porque sua prosa era um misto de narrativa e poesia, uma constante descoberta de significados nas palavras que manejava com maestria, em linguagem refinada, transparente, leve sem ser superficial, instigando sempre a imaginação do leitor e permitindo sempre várias leituras de seus textos. No dizer de Barthô, como o tratávamos nós, os seus amigos mais íntimos, “eu escrevo quando tenho o que dizer. Se não tenho o que dizer eu não fico ansioso, procurando alguma coisa para falar. Eu acho que a gente só escreve quando tem o que dizer. Também não gosto de pensar numa literatura com destinatário: ou é, ou não é literatura. Eu prefiro tentar dentro do meu trabalho uma literatura sem fronteira.”

A obra de Bartholomeu Campos de Queiroz abrange mais de 40 livros, o primeiro, O Peixe e o Pássaro publicado em 1974. De poucas palavras, mas muito eloqüente na roda de amigos – e eu e minha mulher estivemos presentes em muitas delas – avesso à badalação, Barthô era um ser humano tranqüilo, dotado de uma sensibilidade e talento excepcionais, que lhe valeram os mais importantes prêmios literários nacionais, como o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, o Prêmio Jabuti, o Selo de Ouro, da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil e o Diploma de Honra da IBBY, de Londres, entre outros.

Com formação nas áreas de Educação e Arte, cursou o Instituto Pedagógico de Paris e, a partir da década de 70, destacou-se como educador em vários níveis, contribuindo com importantes projetos da Secretaria Estadual de Educação e do Ministério da Educação. Ocupou também a presidência da Fundação Clovis Salgado (Palácio das Artes), foi membro do Conselho Curador da Escola Guignard e participou do projeto Proler da Biblioteca Nacional, ministrando conferências e seminários sobre educação, leitura e literatura. Paralelamente teve atuação relevante como crítico de arte, integrando júris e comissões de salões e fazendo curadorias e museografias de exposições.

Em fins de 1981, minha mulher, disposta a testar a eficiência dos contos de fada para o público infantil, já que na época eram poucas as encenações clássicas de contos infantis, chamou Bartholomeu para adaptar um conto de fadas para o teatro. Barthô escolheu o clássico de L. Bechestein, “Gruda Cisne!”, que na sua versão recebeu o nome de “Era uma vez…”, dirigida por Mamélia Dornelles, com figurinos do consagrado artista plástico e carnavalesco Décio Noviello. A encenação ocorreu na sala multimeios da Biblioteca Pública, na Praça da Liberdade, em BH em três palcos, o que dava ao espetáculo uma dinâmica intensa e grande interatividade com o público infantil, que não passou despercebida ao crítico de artes cênicas Luiz Carlos Bernardes no Estado de Minas de 29 de novembro de 1981.
 
A morte de Bartholomeu Campos de Queiroz deixa uma lacuna nas artes e literatura de Minas e do Brasil. E um vazio dentro da gente, seus amigos e admiradores.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei, 21 de janeiro de 2012.

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