São João del Rei Transparente

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Tipo: Artigos / Cartilhas / Livros / Teses e Monografias / Pesquisas / Personagens Urbanos / Diversos

Escopo: Local / Global

 

Felit, Festival de oportunidades . Adenor Simões

Descrição

Passado pouco mais de um mês de sua realização, sinto-me na obrigação de provocar uma reflexão sobre o 5° Festival de Literatura de São João del-Rei (Felit), evento que reúne os melhores atributos para inserir a cidade no calendário turístico/cultural de Minas e do país. Entendendo que o festival tem evidente interesse público, acompanhei de perto os esforços para sua realização, contribui no que foi possível. Posso dar o testemunho de uma luta insana dos organizadores para tomar viável o projeto. É incrível como uma iniciativa de tal nível, já em sua quinta edição, ainda lute com dificuldades.
Ideia original do são-joanense Lúcio Teixeira, o Felit é muito mais do que um evento localizado, que reúne a nata dos escritores brasileiros para alguns colóquios recheados de inteligência e inspiração. Tendo como foco as crianças da rede municipal de ensino, o Felit desenvolve ao longo do ano uma série de atividades em tomo da literatura, com resultados surpreendentes. Não é um projeto sanguessuga, daqueles que tiram o melhor da cidade durante alguns dias e depois desaparece. Ao contrário, o Festival é parte integrante da cidade. Ou deveria ser.
Este ano, o evento acertou na mosca ao convidar o jornalista e escritor José Eduardo Gonçalves, também são-joanense, para ser o curador. Respeitado nos meios culturais, com uma folha invejável de bons serviços à cultura de Minas, José Eduardo foi o nome certo para inserir o Felit no mapa nacional dos eventos literários. Um mercado, aliás, extremamente competitivo, com quase 100 outros ao longo do ano, entre bienais, feiras, simpósios, salões e jornadas. Mesmo aceitando a curadoria em cima da hora, no calor dos acontecimentos, José Eduardo conseguiu trazer a São João del-Rei mais de 15 nomes expressivos das letras nacionais.
Quem não foi, perdeu momentos inesquecíveis, como o encontro memorável do casal de poetas Affonso Romano de Sant' Anna e Marina Colassanti. Ou a apresentação de Luiz Ruffato, autor de um dos 10 melhores romances do Brasil do século XXI, segundo os maiores críticos do país. Ou a presença da maior revelação da poesia brasileira nos últimos anos, a mineira Ana Martins Marques, numa conversa à meia noite com poetas do quilate de Fabrício Carpinejar. Ou o diálogo inteligente entre Maria Esther Maciel e Carola Saavedra. Isso para não falar do Ziraldo em bate-papo com o casseta Reinaldo Figueiredo, ou o conterrâneo Ronaldo Simões em fala de alta voltagem poética com a ilustradora Angela Lago. E sem esquecer uma justíssima homenagem ao nosso Jota Dangelo. Qualquer grande evento literário adoraria ter esses nomes premiados no seu cardápio - e eles estavam aqui, em São João del-Rei! O que mais seria preciso para atrair professores, estudantes de Letras e de Comunicação, leitores de modo geral e pessoas interessadas em bons programas culturais? A resposta deve ser dada pela própria cidade.
Como alguém que acredita na Cultura como propulsora de conhecimento e fomentadora de muitas oportunidades de trabalho e negócios, tenho a convicção de que um evento como o Felit precisa ser efetivamente adotado pela cidade. Todos ganham: a rede hoteleira, os restaurantes e bares, o comércio, prestadores de serviços diversos.
Além disso, a cidade ganha uma oportunidade de pautar a mídia, de ser positivamente avaliada por jornalistas e veículos de comunicação. Tomo aqui a liberdade de fazer uma comparação. Na semana seguinte ao Felit, os mesmos organizadores realizaram, em Sete Lagoas, a 2ª Literata, evento literário nos mesmos moldes. Com um detalhe: lá se registrou um público médio de 300 pessoas por mesa de debates. O que há em Sete Lagoas que São João del-Rei não tenha? História, tradição cultural, boas escolas, escritores nacionais (basta lembrar o nome de 0tto Lara Resende), temos o que a maioria das cidades não é capaz de oferecer. Mas um município não vive só do passado e nem de velhas tradições: A cultura é para se fazer no dia a dia, hoje, amanhã, sempre. Precisamos arregaçar as mangas e trabalhar, pois ninguém vive só de lembranças, e, no caso da literatura, ninguém vive só de ler os clássicos. E preciso abertura para ouvir e conhecer o que se faz hoje no mundo das letras. E preciso curiosidade e vontade.
Para terminar, quero lembrar que, nos últimos anos, assistimos, entre impassíveis e invejosos, à série crescente de eventos sediados na vizinha Tiradentes. A inveja, no caso, é uma tolice. Qualquer bom evento na região deve ser saudado e apoiado por todos, pois tem reflexos positivos em todo o entorno microrregional. Mas a passividade é sinônimo de burrice, pois as oportunidades estão quicando, o que falta é se apossar delas. Uma boa ideia, como o Festival de Literatura, precisa ser abraçada por toda a comunidade-do Poder Público à Universidade. Um encontro que privilegia os livros e a literatura por si só já enseja as melhores vibrações. Mas o festival de oportunidades que ele descortina não pode ser negligenciado, sob pena de perdermos, mais uma vez, o bonde da história. Desejo vida longa ao Felit.

Adenor Simões, são-joanense e coordenador do Núcleo de Interiorização da Cultura da Secretaria de Estado de Cultura

Fonte: Gazeta de SJDR, 17 de Dezembro de 2011

 

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