São João del-Rei, Tiradentes e Ouro Preto Transparentes

a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Presépios – Uma tradição secular . Luiz Cruz

Descrição

“As caixas estão depositadas no chão ou sobre a mesa,
desembrulhá-las é a primeira satisfação entre as que
estão infusas na prática ritual da armação do presépio”
Carlos Drummnd de Andrade, In: Presépio.

Os presépios são uma tradição e ao mesmo tempo um alumbramento para a criançada. Segundo a lenda, o primeiro presépio teria sido montado por São Francisco de Assis, em 1223. E, Cecília Meireles nos conta em Meditação no Presépio: “dizem que, ao ajoelhar-se, desceu-lhe aos braços estendidos um Menino todo de luz. O Santo Poeta colocara ali apenas umas poucas imagens: as da Sagrada Família, a do irmão jumento e a do irmão boi”. O objetivo era melhor explicar a natividade e para isso criou as figuras em argila, instalou-as em uma manjedoura e utilizou os animais para completar a cena, montada em uma gruta da floresta na região de Greccio, Itália. Por isso, São Francisco de Assis é considerado o patrono dos presépios.
Atualmente, o Museu de Arte de São Paulo está exibindo uma exposição de presépios, o mais imponente deles é um napolitano, composto por cerca de 1.600 peças e é do século XVIII. A mostra apresenta conjuntos de outros países e também de diferentes regiões brasileiras. Ao longo do ano inteiro, em Aparecida/SP, podemos apreciar um enorme presépio instalado no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, provavelmente, deve ser o mais visitado do Brasil.

Em Portugal
Herdamos dos portugueses a tradição de montar os presépios. Em Portugal, a cena não ficava restrita às figuras principais: José, Maria e o Menino Deus, os Magos, o boi e o burro. Estas peças se juntavam a outras, inclusive representações de cenas da vida cotidiana de cada comunidade. Estes presépios ganharam muita representatividade e de certa maneira chamavam mais atenção, pela criatividade para executar e montar. O escultor português Joaquim Machado de Castro (1731/1822) criou belíssimos presépios em terracota, com grande profusão de personagens e detalhes.

O presépio de Aleijadinho
Em Minas Gerais, sobraram raros presépios setecentistas. Existiu um grande na Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, criado pelo Mestre Aleijadinho. Mas as imagens principais desapareceram. As peças restantes se encontram expostas na sala dedicada ao artista, no Museu da Inconfidência, e são: um pastor ajoelhado, uma figura masculina em pé, usando botas e roupas em tecido e com barba, um pescador carregando um cesto e um Rei Mago: Gaspar, que traja roupas em tecido. As peças foram esculpidas em madeira e trazem as características típicas da obra escultórica de Aleijadinho. Ainda em Ouro Preto, realiza-se todos os anos um dos mais tradicionais concursos de presépios, quando artistas e artesãos têm oportunidade de recriarem cenas da natividade, utilizando os mais diversos materiais e linguagem mais contemporânea. Esta é uma iniciativa da Fundação de Arte de Ouro Preto e que é sempre muito bem sucedida.
Em São João del Rei, há tradição em montagem de presépios, mas destaca-se o presépio da Muxinga, que é tombado pelo Conselho Municipal de Patrimônio. Trata-se de um presépio de madeira e com cenas diversas que são movimentadas a eletricidade e pode ser visitado na Praça José Batista de Souza, nº11. A Universidade Federal de São João del Rei também promove anualmente concurso de presépios, este ano ocorre a 6ª edição do evento. Outro presépio com cenas em movimento é o Pipiripau, que integra o acervo da UFMG, em Belo Horizonte e é tombado como patrimônio cultural nacional, pelo IPHAN. Este presépio foi montado por Raimundo Machado de Azevedo (1894/1988) e foi construído com materiais reciclados. Trata-se de uma das principais atrações do Natal da capital mineira.
Alguns presépios marcaram gerações seguidas, em Tiradentes. Um deles foi o de Antônio Veloso, que ficava montado na sala de sua casa, durante o ano inteiro, na Rua Padre Toledo, nº13. Era um conjunto erudito em terracota policromada, muito elegante. Infelizmente fora vendido para o Museu do Presépio de São Paulo. Na mesma rua, um outro presépio cativava a atenção, era o de Conceição Lopes e Belica. Além das figuras tradicionais, em celulóide, haviam personagens em terracota e bonecos de papelão. Na rua Direita, nº 111, morava o casal Antônio Gomes e Anésia. Eles montavam anualmente o presépio, que era um dos mais bonitos. Antônio Gomes era um artista muito habilidoso, esculpia, pintava, era fogueteiro, sapateiro e restaurador de tudo. Foi com o casal que muitos aprenderam a montar presépios com muito prazer. Em novembro, Anésia começava os preparativos, plantando arroz em pequenas vasilhas, para quando chegasse o Natal, tudo ficasse verdinho. Depois, subiam a Serra de São José com enormes balaios coletavam bromélias, samambaias, liquens, cactos, sempre-vivas, musgos. Apanhavam-se galhos de murta, para fazer o fundo do presépio, como se fosse uma mata. Outra parte que todos gostavam era buscar areias coloridas no sopé da Serra e São José: amarela, branca, cinza, rosa, preta. E ainda tinham as pedras, os cristais ou os arenitos trabalhados pelo tempo. Quando tudo chegava, Antônio Gomes começava a montar. Tinha uma enorme serra, feita de papel grosso, carvão e com pó de minério. Da serra, desciam alguns personagens. Caminhos diferentes conduziam os Reis Magos. Pastores, pescadores, uma mulher cega, muitos carneiros, lagoa com patos e outros detalhes compunham a cena, que abrigava a manjedoura com o Menino Deus. Antônio Gomes copiou algumas peças do presépio de Antônio Veloso e criou outras. O fundo era o céu, feito com pano azul e estrelas recortadas em papel prateado. Além da criançada, o presépio do casal recebia a visita das Folias de Reis que saiam a partir do dia 25 de dezembro e visitavam os presépios até o dia 6 de janeiro, o Dia de Reis. No dia seguinte, começava-se a desmontagem. O presépio de Antônio Gomes e Anésia foi adquirido por Yves Alves e Dalma. Agora, após a morte de Dalma, a família doou o presépio para o Centro Cultural Yves Alves, onde será montado anualmente, mantendo-se a tradição.
Como a Serra de São José é uma área de proteção ambiental e um REVS – Refúgio Estadual de Vida Silvestre, não se pode mais retirar de lá as plantas para os presépios particulares, somente para os que são montados nas igrejas. Mas se montam presépios com plantas cultivadas para este fim. Há presépios que expressam preocupações ambientais, como o montado pela Oficina de Agosto, no Largo das Forras, em Tiradentes. As peças foram recortadas de chapas de tambores reciclados e pintadas. As madeiras utilizadas também são recicladas. Nem por isso deixa de manter a tradição e nos propiciar encantamento com a cena da natividade.

As Folias de Reis
As Folias de Reis também foram herdadas de Portugal. Em alguns países de origem latina, especialmente influenciados pela cultura espanhola, têm o Dias de Reis com tanta importância quanto o Natal, pois é quando os Reis Magos Baltazar, Melchior e Gaspar se encontraram com o Menino Deus para a entrega de presentes. Há Folias de Reis pelo Brasil inteiro e em alguns lugares promovem encontros com a participação de vários grupos. Em Tiradentes, é tradição receber as folias e conduzir a bandeira por todos os cômodos da casa para abençoar. Depois da visita ao presépio e das cantorias, que é acompanhada por violão, cavaquinho, acordeão, triângulo e tombor, o dono da casa serve um café, acompanhado de pão-de-queijo e broa de fubá.

Referência Bibliográfica:
MEIRELES, Cecília. Obra em Prosa – Vol. 1. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1990.
MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2001.
OLIVEIRA, Myrian Andrade Ribeiro de. O Aleijadinho e sua oficina: catálogo das esculturas devocionais. São Paulo: Ed.Capivara, 2002.

Fonte: Alma Carioca, 19 de dezembro de 2011
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