a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Comentários à primeira edição do jornal "Tribuna Sanjoanense" . Francisco Braga

Descrição

Augusto das Chagas Viegas, em Notícia de São João del-Rei, Belo Horizonte, 1969, 3ª edição, trata do subtítulo Imprensa em nossa cidade, nas p. 73-80. Ali faz o seguinte comentário: “Dos cento e quarenta e um jornais que aqui já se publicaram, alguns são representados por folhas literárias de vida brilhante, mas efêmera, em que, quase sempre, cintilou inteligente, mas lampejante, o entusiasmo da mocidade. ”
A seguir, em nota de rodapé, Chagas Viegas cita os 141 jornais são-joanenses em ordem sequencial e cronológica de seu aparecimento e circulação, de 1827 até 1967, que me permito reproduzir abaixo:

 

1º - O Astro de Minas (1827-1839)
2º - O Amigo da Verdade (1829-1831)
3º - A Constituição em Triunfo (1830)
4º - Constitucional Mineiro (1832)
5º - Mentor das Brasileiras (1832)
6º - O Papagaio (1833)
7º - A Legalidade em Triunfo (1833)
8º - Oposição Constitucional (1835)
9º - O Monarquista (1838)
10º - O Americano (1840)
11º - O Despertador Mineiro (1842)
12º - A Ordem (1843-1844)
13º - O Semanário (1854)
14º - O Paquete Mineiro (1855)
15º - O Povo (1861)
16º - São-joanense (1876)
17º - Arauto de Minas (1877-1883)
18º - Cinco de Janeiro (1878)
19º - O Escolástico (1878)
20º - A Situação (1879)
21º - Tribuna do Povo (1881)
22º - O Luzeiro (1882)
23º - O Atirador (1882-1884)
24º - O Destino (1884)
25º - Gazeta Mineira (1884-1894)
26º - O Domínio (revista) (1885)
27º - O S. João del-Rei, 1ª Fase (1885)
28º - A Alvorada (1886)
29º - Opinião Liberal (1888)
30º - O Tribunal (1888)
31º - A Verdade Política (1888-1889)
32º - A Pátria Mineira (1889-1894)
33º - O Gladiador (1889)
34º - A Locomotiva (1890)
35º - A Renascença (1890)
36º - A Gargalhada (1890)
37º - Astro do Século (1893)
38º - O Clarim (1893)
39º - O Prego (1894)
40º - O Século (1894)
41º - Tribuna Popular (1895)
42º - O Resistente (1895-1906)
43º - A Vespa (1895)
44º - O Autonomista (1895)
45º - A Flauta (1896)
46º - A Arte (1896)
47º - O Tunante (1899)
48º - O S. João del-Rei, 2ª Fase (1899)
49º - O Combate (1900-1903)
49º-A – O Sol (1901)
50º - A Farpa (1901)
51º - Um-Dois-Três (1901)
52º - Beija-Flor (1901)
53º - A Cruzada, 1ª Fase (1902-1906)
54º - O Repórter (1905-1914)
55º - A Opinião (1907-1910)
56º - Mutualidade Mineira (1909) ?
57º - O Revelador (1908) ?
58º - O Dia (diário) (1912-1913)
59º - A Reforma (1913-1920)
60º - A Evolução (1913-1915)
61º - O Eco (1913-1914)
62º - A Verdade (1914)
63º - Ten-Ten (1907)
64º - O Grifo (1907)
65º - O Estudante (1907)
66º - The Smart (1908)
67º - A Tribuna, 1ª Fase (1914-1919)
68º - O Zuavo (1914-1917)
69º - O Benemérito 75 (1915)
70º - A Ação Social (1915-1925)
71º - A Nota (diário) (1917-1918)
72º - O Mosquito (1917)
73º - O Telefone (1917)
74º - O Reverbero (1917)
75º - O São-joanense (1917)
76º - Cine-Jornal (1917)
77º - O Minas-Jornal (1918-1919)
78º - O Parafuso (1919)
79º - A Tribuna, 2ª Fase (1920)
80º - S. João del-Rei, 3ª Fase (1920-1922)
81º - O Porvir (1921-1925)
82º - O Grisu (1924)
83º - A Cruzada (1925-1927)
84º - A Bigorna (1925)
85º - O Colegial (1925)
86º - A Defesa (1925)
87º - O Correio (1926-1963)
88º - O Penetra (1927)
89º - O KCT (1927)
90º - A Caveira (1927)
91º - O Cabresto (1928)
92º - A Ribalta (1928)
93º - A Primavera (revista) (1928)
94º - O Atleta (1928)
95º - Stella Maris (1929)
96º - A Fuzarca (1929)
97º - A Princesa (1929)
98º - O Porvir, 2ª Fase (1929)
99º - O Gavião (1929)
100º - A Reação (1930)
101º - A Atualidade (1930)
102º - O Pára-Raio (1930)
103º - O Cenário (1930)
104º - Boletim do Correio (1930)
105º - O Brasil (1931)
106º - A Tesoura (1931)
107º - O Vigilante (1932)
108º - Folha Nova (1932)
109º - Nova Era (1933)
110º - A Palavra (1933)
111º - O Erro (1933)
112º - A Piranha (1934)
113º - Brasil Novo (1935)
114º - Gazeta de Minas (1935)
115º - O Pirilampo (1936)
116º - O Alfinete (1936)
117º - Carnaval (1936)
118º - Diário do Comércio (1938-1963)
119º - O Relâmpago (1940)
120º - Frivolidade (1942)
121º - O Disco-Voador (1951) ?
122º - O Abelha (1942)
123º - O Brasil (1941)
124º - O Nosso Jornalzinho (1939-até o presente)
125º - A Voz da Escola (1939-até o presente)
126º - O Garoto (1939-até o presente)
127º - A Gralha (1905)
128º - O Cometa (1921)
129º - A Sentinela (1934)
130º - A Voz da Criança (1938)
131º (omitido)
132º - A Conquista (órgão oficial do Diretório Acadêmico Santo Tomás de Aquino)
133º - O Pilar (órgão oficial da Diocese de S. João del-Rei) (1961)
134º - O Porvir (3ª Fase) órgão do Círculo Estudantil do Colégio Santo Antônio (1961)
135º - O Síncopa (do Conservatório de Música) (1961)
136º - O Tiradentes (da Escola Técnica do Comércio Tiradentes) (1961)
137º - A Nação (1963)
138º - O Boletim do Comércio
139º - Tribuna Sanjoanense (1966)
140º - Ponte da Cadeia (1967)
141º - A Comunidade (1967)

Tendo decidido dar ampla divulgação à pesquisa do historiador santiaguense Chagas Viegas, no tocante à imprensa em São João del-Rei, faço as seguintes observações quanto à célebre lista:

a) na sequência numérica, verifica-se uma duplicação no 49º jornal, constando o 49º como O Combate, e 49º-A, O Sol;
b) o 131º jornal acha-se omitido na 3ª edição da “Notícia”;
c) para o 132º jornal (A Conquista) é omitido tanto o ano de lançamento quanto o período de circulação.

¹Comprometo-me a fazer oportunamente a atualização dessa relação, completando os jornais que foram fundados e circularam de 1967 até hoje.

 

Quanto ao Jornal Tribuna Sanjoanense, merecem o nosso respeito o elevado espírito empresarial e a responsabilidade social de sua atual diretoria e equipe editorial que dão continuidade a esse trabalho pioneiro iniciado em outubro de 1966, atingindo a marca de 1.324 edições, completadas no último dia 1º de agosto de 2011.
Isto posto, passo a abordar o assunto que elegi para esta matéria. Trata-se de descrever a edição nº 1 do “Tribuna Sanjoanense”, publicada em outubro de 1966 (nº 139 da lista de Chagas Viegas). ² Fundado por Carlos Martins Ferreira (Diretor-Presidente), Fábio Nelson Guimarães (Diretor Comercial) e Wainer de Carvalho Ávila (Redator-Chefe), sendo ainda Frederico Ozanam Barcelos (Chefe de Reportagem) e Célio Queiroga (Secretário Geral), esse jornal, por ocasião do seu lançamento, traz artigos que, a meu ver, sintetizam o ponto de vista doutrinário da sua equipe de redação, que aqui será apreciado.
Mas, antes de apreciar o conteúdo do jornal em sua edição histórica, importa conhecer a versão de um dos seus fundadores, Dr. Wainer de Carvalho Ávila, que, em reunião da Academia de Letras em 31 de julho de 2011, deu o seguinte depoimento, registrado em ata:

“Éramos três os fundadores do ‘Tribuna Sanjoanense’: Carlos Martins Ferreira, Fábio Nelson Guimarães e eu. O primeiro tinha o encargo de fazer o pagamento à gráfica no bairro Calafate, em Belo Horizonte. A edição do periódico era mensal. Eu, que na ocasião fazia o curso de Direito na PUC de Belo Horizonte, buscava toda a edição na gráfica e a levava de táxi até a estação rodoviária. Vinha de ônibus até São João del-Rei e aqui, da antiga rodoviária até a casa do Fábio, transportava o precioso pacote em meus ombros. Eram 1.500 exemplares carregados nas costas.

Um fato pitoresco: o Fábio contratava uns vendedores mirins para a venda dos jornais. Lembro-me de que, em Matosinhos, alguém proibiu a venda dos jornais.
Em dezembro de 1966, a pedido do reitor Dom Serafim Fernandes de Araújo, fui da PUC de Belo Horizonte para a PUC de Recife, por razões políticas, pois o reitor da PUC mineira impedia que eu, como orador eleito no final do curso, pronunciasse o discurso escolhido e endossado por todos os formandos. Diante dessa minha ausência forçada, substituiu-me na diretoria do jornal o Custódio Lourenço de Oliveira. E o jornal prosseguiu sem mim.
O que sei dizer, quanto ao objetivo inicial do jornal, é que o Carlos propôs que ele próprio financiaria suas primeiras edições, para que houvesse uma campanha em defesa da candidatura de Fábio Guimarães, que tinha sido Chefe de Gabinete do Prefeito Nelson Lombardi, à Prefeitura de São João del-Rei. De acordo com ele, nossa cidade merecia um chefe do Executivo como o Fábio, que possuísse descortino, retidão de caráter e princípios morais sólidos, além da sua defesa intransigente do nosso patrimônio.
A respeito do Fábio, ainda há outra curiosidade. O Prefeito Nelson Lombardi, para se desincompatibilizar e concorrer a deputado estadual pela UDN, renunciou antes do término do mandato de prefeito. O vice-prefeito Cid Rangel renunciou também na hora de assumir. O presidente da Câmara Altamiro Braga, por razão que nunca declinou, não quis assumir o cargo vago. A cidade ficou acéfala.
Então a Câmara decidiu que a pessoa mais próxima do ex-prefeito e que mais entendia da Prefeitura era o Fábio.
Durante 24 ou 28 dias, esse ilustre historiador são-joanense exerceu o cargo de chefe do Executivo municipal, merecendo que tenha sua fotografia estampada na Galeria dos Prefeitos de São João del-Rei. Nesse impasse, o governo federal nomeou interventor em São João del-Rei o são-joanense General Antônio Carlos Mourão Ratton.
Por que, senhores, foi preciso um general ocupar o Executivo são-joanense, se o Fábio era alguém confiável dos cidadãos são-joanenses? O jornal seria uma espécie de desagravo a toda essa situação.
Depois do mandato-tampão do interventor militar, foi eleito constitucionalmente Dr. Milton Viegas, pelo PSD, ficando inviável qualquer pretensão de ascensão do Fábio.
No ano seguinte, como não tinha como ficar carregando o jornal da forma descrita, passou-se a fazer o jornal e entregar só a são-joanenses residentes em Belo Horizonte. ”
No editorial “O JORNAL QUE SURGE”, Carlos Martins Ferreira realça que

“estamos para prestar serviços, para informar, para divulgar, para criticar, incentivar, corrigir, lembrar e até martelar, se necessário for, a fim de conseguirmos os ideais que sempre nortearam o povo de São João del-Rei”.

 

Aqui entendo que falava dos ideais libertários, subentendendo: “Quanto mais livros, tanto mais homens livres”, ou da independência da informação na redação do seu jornal, assegurando uma imprensa livre ao público leitor.
Em letras garrafais, anunciou-se no frontispício, antes mesmo do nome do jornal: “ATENTADO: QUEREM DEMOLIR IGREJA EM MATOSINHOS”, cujo texto apareceu na página 2. É com profundo desencanto e indignação que o leitor se depara com os seguintes dizeres, provavelmente da autoria do saudoso historiador Fábio Nelson Guimarães, o qual, juntamente com o saudoso combativo Altivo Sette Câmara, defendeu até à última hora o respeito ao tombamento do sagrado templo do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, contrapondo-se ambos à sua demolição, pelo menos 4 anos antes do fatídico acontecimento que enodoa a memória são-joanense, numa militância que impressiona os pósteros, a saber:

“Tendo em vista a necessidade de ser construída ampla igreja em Chagas Dória, pensou-se, em infeliz instante, na demolição da atual igreja do Bom Jesus do Matosinhos. Problema de tal natureza não pode ser equacionado dessa forma, destruindo o que está realizado, com bases sólidas no passado.
Basta que sejam conciliados os prós e contras, ao lado das conveniências mais sensatas. O povo, em baixa voz, protestou contra a medida tão funesta, porquanto aquele monumento religioso não pertence a êste grupo e sim a tôda Minas Gerais.
Dado o grito de alarme, dos mais distantes cantos mineiros vieram protestos. Os preciosos legados de nossos antecessores têm que ser guardados, a todo custo, pelas gerações subseqüentes, as quais serão as responsáveis pela sua não sobrevivência.
Se o templo em questão pouco representa para os sanjoanenses, deve-se levar em conta o grande número de ofícios e cartas contrários à sua demolição, recebidos de tantas autoridades em arte e em história.
Por que ficou omisso o Patrimônio, quando o mesmo tomba, sob dispositivo legal, as unidades isoladas? Destruir não é solução, mesmo porque a solução não pode ser dada a priori!”

 

Na mesma página 2, outra matéria chama a atenção do leitor: “CONSERVATÓRIO ESTADUAL GANHA RICA COLEÇÃO”. Sob esse título se lê:

 

“O Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier acaba de ser enriquecido com uma grande contribuição do poeta e jornalista Lincoln de Souza, que doou ao estabelecimento uma coleção de quadros a óleo, crayons, aquarelas, desenhos e objetos de arte. Segundo os entendidos, a coleção — que foi trazida pelo doador em suas viagens pela Europa, Oriente Médio e Brasil Central — está avaliada em dez milhões de cruzeiros. Por êsse motivo, a Sala Lincoln de Souza — cuja denominação é uma homenagem de gratidão ao jornalista — passou a ser, doravante, uma das principais atrações da cidade.”

 

Foi com um misto de espanto e apreensão que tomei conhecimento de que não existia mais nenhuma Sala Lincoln de Souza —, repositório de cultura e arte doado pelo célebre poeta, jornalista e escritor são-joanense ao Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier —, no célebre educandário estadual de música. Certamente alguns de nós ainda nos lembramos de que a sala 30, no último andar do referido educandário guardava a coleção do ilustre escritor e poeta são-joanense ainda nos anos 70. É bem verdade que o acervo estava entulhado na referida sala de exíguas dimensões para uma coleção tão alentada.
As informações que repasso abaixo aos leitores foram colhidas de documentos autênticos, aos quais tive acesso em pesquisas demoradas no Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier.
Para sua informação, reproduzo aqui a correspondência que o ilustre escritor Lincoln de Souza, em papel timbrado de “A Noite”, escreveu ao Prof. Sílvio Padilha, então Diretor do Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier:

 

“S. João del-Rei, 15 de março de 1965
Pelo presente, venho comunicar a V. S. que, nesta data, resolvi doar a êsse Conservatório as minhas coleções de arte, que no mesmo já se encontram, compreendendo: telas a óleo, aquarelas, desenhos a craiom, a bico de pena, pastel, pinturas em prato de porcelana, xilogravura, lembranças de viagens, busto executado pela escultora Hilan Carvalho, medalha obtida num concurso de trovas, um pano egípcio, que me foi ofertado pelo jornalista Mário Giudicelli, bem como fotografias de eminentes personalidades no mundo das letras e das artes, — tudo conforme as relações anexas.
Essas peças, reunidas no curso de muitos e muitos anos, adquiridas, algumas, com bastante dificuldade, são doadas mediante as seguintes condições, com que houve V. S. por bem de concordar:

a) As telas, desenhos, lembranças de viagens, fotografias e tudo mais que se encontra na respectiva sala não poderão ser alienadas, sob nenhum pretexto, nem dispersadas para figurarem em outras dependências dêsse Conservatório.
b) No caso em que, por qualquer motivo, não possam tais peças continuar no Conservatório, ou se êsse conceituado estabelecimento de ensino artístico vier a ser extinto, deverão ser as mesmas leiloadas e o produto da venda distribuído às instituições assistenciais de S. João del-Rei.

Ao fazer doação dessas coleções, em nº de 110, cujo valor se eleva, no momento, a mais de 2 milhões de cruzeiros, estou certo de haver contribuído para ampliar a esfera de ação cultural do Conservatório E. de Música Pe. José Maria Xavier e mais certo ainda de que V. S. e seus dedicados auxiliares não pouparão esforços para a boa conservação das referidas peças.
Com os votos de que essa nobre Casa de Arte tenha sempre a dirigi-la homens dotados de alto espírito cívico como o de V. S., que tanto a tem engrandecido, com sacrifício mesmo de sua saúde e de sua bolsa, aproveito o ensejo para apresentar-lhe os protestos de elevada estima e consideração,

Lincoln de Souza

 

ENDEREÇO NO RIO: Praia do Flamengo, 12, ap. 603
Tel. 45-9426”

 

Abaixo apresentarei a relação com os 110 itens da coleção, que acompanhava a correspondência supracitada:

 

QUADROS, DESENHOS, ETC.

 

1- Paulo Gagarin – VALES E SERRAS – Região de Campos do Jordão, SP
2- Hernani de Irajá – RAIOS DE SOL
3- Érico Hauck – CAMINHO DAS PAINEIRAS – Rio
4- Jorge Reider – HORTÊNCIAS
5- Hernani de Irajá – SONHADORA
6- Oswaldo Teixeira – MENINA-MOÇA
7- M. Agostinelli – CAIS DO SENA
8- M. Mecatti – RUA EM MARROCOS
9- V. Boregar – NO PARQUE
10- F. Céa – REGRESSO DA JANGADA
11- Hélios Seelinger – CARAVELA
12- Gastão Formenti – PRAIA DO VIDIGAL, Rio
13- Jordão de Oliveira – RUA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
14- Dakir Parreiras – IGAPÓ – Amazônia
15- L. Fânzeres – CREPÚSCULO
16- Edgard Walter – TRECHO DE PAINEIRAS, Rio
17- Euclides Santos – S. JOÃO DEL-REI
18- Sinhá d’ Amora – ROSAS
19- Roberto Mendes – PRAIA DA BOA VIAGEM, Niterói
20- Jordão de Oliveira – TERRA SERGIPANA
21- D. Vassiliou (Egito) – PIRÂMIDES AO LUAR22- Sari (Itália) – VENEZA
23- Trinas Fox – PAISAGEM SERTANEJA
24- Calazans Neto – ASPECTO DE SALVADOR, Bahia
25- Armando Pacheco – IGREJA DE S. FRANCISCO DE ASSIS, S. JOÃO DEL-REI
26- Álvaro Santos – ESTUDO DE NU
27- D. Ismailovitch – RETRATO DE LINCOLN DE SOUZA
28- Popesco (Espanhol) – PERFIL DE L. DE SOUZA
29- Lincoln de Souza – CAPELA DA FAZENDA COLUBANDÊ, Niterói
30- Lincoln de Souza – PELOURINHO, S. João del-Rei
31- Lincoln de Souza – CASA ANTIGA, S. João del-Rei
32- Décio Vilares – PERFIL DE MULHER
33- Lincoln de Souza – ALGUNS COMPANHEIROS DE “A NOITE”
34- Lupércio Ferraz – VÁRZEA FLORIDA
35- Hernani de Irajá – ALDEIA AO LUAR
36- Raul Deveza – TEMPLO EM RUÍNAS, Cordeiro-RJ
37- Chlau Deveza – MAUÁ, Estado do Rio
38- Manoel Santiago – RAMO DE ÁRVORE
39- Alcides Cruz – CASA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
40- Orlando Brito – À SAÍDE DO CONVENTO
41- Pedro Américo – ILUSTRAÇÃO PARA O “COLOMBO” DE ARAÚJO P. ALEGRE
42- Armando Pacheco – PERFIL DE LINCOLN DE SOUZA

 

PINTURA EM PRATOS

43- Odete Coppos – JAPONESAS
44- Odete Coppos – ARANHAS

LEMBRANÇAS DE VIAGENS
1- ARGENTINA – Sarape de Córdova
2- MIAMI – Bonecas feitas pelas índias Simeones
3- MIAMI – Coral que se vende no “stand” do famoso SEAQUARIUM
4- NOVA IORQUE – Miniatura da estátua da Liberdade
5- NOVA IORQUE- Boneca de uma loja da Chinatown
6- HAVANA – Boneco feito com arame, favas e pedaços de madeira
7- PANAMÁ – Miniatura de vaso
8- MIDELIN (Colômbia) – Trabalho dos índios Tutumaios
9- LISBOA – Miniatura do monumento a Cristo Redentor
10- BARCELONA – Pintura em prato de madeira
11- BARCELONA – Toureiro e touro
12- CAIRO – Miniatura da estátua de Ramsés II
13- CAIRO – Cabeça de faraó
14- CAIRO – Cinzeiro com cabeça de faraó
15- JERUSALÉM – Caravana
16- DAMASCO – Caixa para cigarros ou jóias
17- BEIRUTE – Tapete com motivos orientais
18- BEIRUTE – Mesinha com incrustações de madeira e madrepérola
19- BEIRUTE – Porta-cigarros feito com pedaço de tronco de cedro
20- ATENAS – Miniatura de célebre obra de arte grega
21- ROMA – Rômulo e Remo – símbolo dos fundadores da Cidade Eterna
22- FLORENÇA – Cabeça de Dante
23- PIZA – Miniatura da famosa Tôrre Inclinada
24- NÁPOLES – Miniatura de vaso antigo
25- VENEZA – Miniatura de gôndola
26- VENEZA – Jarrinha
27- MARSELHA – Estatueta de velha
28- CADIZ – Jarrinha do artesanato local
29- ILHA DO BANANAL (Brasil) – Bonecos feitos pelas índias Carajás
30- XINGU (Pôsto Capitão Vasconcelos, do Serviço de Proteção aos Índios) – Esteira feita pelas índias da região

 

FOTOGRAFIAS (Pessoas e paisagens)

1- NÁDIA NAVIOMAR – Poetisa mexicana
2- ANDRÉ MAUROIS – Escritor francês
3- AMÁLIA RODRIGUES – Umas das maiores fadistas de Portugal
4- SRA. S. MASSANI – Esposa do 1º embaixador da Índia no Brasil
5- ORTIZ TIRADO – Cantor mexicano (falecido)
6- FREI JOSÉ MOJICA
7- EDGARD DONATO – Autor do famoso tango “À MEDIA LUZ”
8- A ATRIZ DULCINA DE MORAIS
9- PITIGRILLI – Escritor italiano
10- A DECLAMADORA MARGARIDA LOPES DE ALMEIDA
11- OLGA PRAGUER COELHO – Cantora folclórica
12- MARY HALABI – Uma das mais aplaudidas cantoras libanesas, residente no Rio
13- CHIANG-SING – Escritora e poetisa, especializada em assuntos orientais
14- ZÉLIA MOELLMAN – Declamadora catarinense, falecida esposa de L. S.
15- L. DE SOUZA em Bruges (Bélgica)
16- L. DE SOUZA em Paris (maio de 1926) “HINTERLAND” BRASILEIRO E ÍNDIOS
17- Porto do “Posto Pimentel Barbosa” (do Serviço de Proteção aos Índios), em S. Domingos, Goiás
18- Trecho do caudaloso Araguais, em Aragarças
19- Maravilhosa paisagem na região do Tapajós
20- Aspecto do histórico Rio das Mortes
21- Algumas ilustrações do livro “Entre os Xavantes do Roncador”
22- Jacaréacanga – Estado do Pará

 

VIAGENS PELO BRASIL E AO ESTRANGEIRO

 

1- ÁLBUM de viagem, com postais, contas de hotel, ingresso de museus, cinemas, passagens de ônibus, trem, etc., “menu” de restaurantes e outras lembranças de turista
2- ÁLBUM de CRÔNICAS de viagem pelo Brasil, Argentina, Estados Unidos, Europa e Oriente
3- ÁLBUM sôbre expedições, índios, selvas, etc.
4- ÁLBUM sôbre a visita aos Xavantes, Carajás, Gorotires e índios do Xingu
5- Vistas de Pompéia
6- Vistas do Cairo e pirâmides
7- Vistas de Barcelona
8- Guia de Roma
9- Guia de Florença
10- Gênova – cemitério

 

DIVERSOS

 

1- O nu no Vaticano
2- Pano egípcio
3. Busto de L. de Souza
4. Medalha ganha no concurso de trovas dos I JOGOS FLORAIS de Pouso Alegre, MG, em 1961

RESUMO


Quadros, desenhos, pratos de louça pintados 44
Lembranças de viagens 30
Fotografias (Pessoas e paisagens) 22
Álbuns de viagem e vistas, etc. 10
Diversos 4
Total de peças 110

 

Em outra correspondência endereçada ao mesmo Diretor do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, “Maestro” Sílvio Padilha, datada de 4 de março de 1965, mas provavelmente posterior à carta supracitada de 15/3/1965, que inferi pelo teor da mensagem, assim dizia Lincoln de Souza:

 

“Com o objetivo de ampliar as coleções por mim doadas a êsse Conservatório, tenho o prazer de passar às vossas mãos, mais o seguinte:

 

MATERIAL INDÍGENA

 

31- Arco com trançado (para dias de festa) – KARAJÁ
32- Flecha com trançado (para dias de festa) – KARAJÁ
33- Borduna KARAJÁ para uso diário (espantar animais etc.)
34- Arco de pau d’ arco dos índios GOROTIRES – Ramo Caiapó
35- Flecha para pesca em cachoeira (GOROTIRES)
36- Flecha para matar macaco ou gente (GOROTIRES)
37- Flecha para pesca com fisga de osso (GOROTIRES)
38- Flecha para caça com ponteira (GOROTIRES)
39- Flecha para caça sem ponteira (GOROTIRES)

 

MINIATURA

 

40- NEFERTITI, esposa de Akhnaton, o faraó apóstata (cópia feita no Brasil)

 

PINTURA

 

45- A FILHA DA MINHA EMPREGADA – H. Cavaleiro
46- PAISAGEM – Teresópolis – Ivone Cavaleiro
47- CABEÇA DE MENDIGO – Armando Viana
48- Esbôço de NU – de Eliseu Visconti
49- Reprodução da capa do meu livro “PARA OS TEUS OLHOS”

Devo esclarecer que ao trabalho de Visconti foi dado, pelo seu genro, o pintor H. Cavaleiro, o valor de 300 mil cruzeiros. Ao de Armando Viana – Cr$ 300 mil e aos dois de Cavaleiro e sua falecida esposa – Cr$ 200 (sic), cada um.

 

LIVROS DE MINHA AUTORIA

 

1- VERSOS TRISTES
2- ÁGUAS PASSADAS
3- CONTAM QUE...
4- JARDINS DE OURO E NÉVOA
5- FLORES MORTAS
6- ENTRE OS XAVANTES DO RONCADOR
7- OS XAVANTES E A CIVILIZAÇÃO
8- O CONDOR SERGIPANO
9- POEMAS
10- VIDA LITERÁRIA
11- CANTIGAS DO MEU CREPÚSCULO

Fazendo votos pela crescente prosperidade desse Conservatório, tão superiormente dirigido por vossa competência e dedicação, apresento, com esta, os meus protestos de alta estima e consideração.
Lincoln de Souza”

 

Com a adição dessas novas obras, chega-se a um total de 136.
Em 28 de março de 1979 sobreveio algo novo que alterou o curso dos acontecimentos. Certamente considerando que as peças do acervo doadas se encontravam entulhadas no Conservatório numa sala de pequena dimensão, a Sra. Cléa Santos Cardoso, Diretora da Secretaria de Estado de Educação, a quem o Conservatório estava subordinado, através de ofício nº 1.413/79, dirigido ao então Diretor do Conservatório, Prof. Abgar Antônio Campos Tirado, decidiu que a cessão do acervo a um órgão municipal de cultura redundaria em melhor visibilidade e eficiência na custódia, verbis:

 

“Sr. Diretor,
Considerando os entendimentos mantidos com o Sr. Prefeito Municipal, autorizamos V. S. a efetuar a transferência das peças do Museu “Lincoln de Souza”, instalado no Conservatório Estadual de Música, para o Museu “Bárbara Heliodora”, da Municipalidade, sob cuja guarda ficarão, por tempo indeterminado.
Atenciosamente,
Cléa Santos Cardoso
Diretor I”

 

Em 9/7/1979, feita a relação completa das peças localizadas no acervo pelo então Diretor do Conservatório Estadual de Música, Prof. Abgar Antônio Campos Tirado (que assina), foram elas cedidas por tempo indeterminado ao Secretário Municipal de Turismo, Sr. Marco Antônio Camarano, que, estando de acordo com a referida relação, também assina aquele documento, confirmando o recebimento das peças relacionadas.
Pela relação citada, pode-se verificar que havia mais do que a quantidade mencionada por Lincoln de Souza em suas correspondências. Assim, no item QUADROS, DESENHOS, ETC.” são citadas ainda as seguintes obras (sem a informação de seu respectivo autor), deixando supor que se tratava de obras do próprio Lincoln de Souza:

 

43- FOGUEIRA DE SÃO JOÃO
44- MEU PRIMEIRO ÓLEO
45. NHANDUTI
46. PINTURA A ÓLEO

No item VIAGENS PELO BRASIL E AO ESTRANGEIRO, além dos 10 elementos citados, há um 11º, a saber: ÁLBUM DE AUTÓGRAFOS, CORRESPONDÊNCIA, LINCOLN DE SOUZA.

 

No item DIVERSOS, foram acrescentados mais três:

 

3- JANGADA NORDESTINA – Jauber Guimarães
4- Banquinho de madeira
5- 2 estantes de madeira

 

Portanto, com mais essas 8 obras de arte, chega-se ao total geral de 144.

 

De fato, in http://www.brasilviagem.com/pontur/?CodAtr=65947, o internauta ainda pode ler, em matéria certamente desatualizada, que,

“fazendo parte do Museu Casa de Bárbara Eliodora, está a Sala Lincoln Souza, em homenagem ao poeta e jornalista são-joanense. Seu acervo consta de pinacoteca, livros, teares, baús, busto de Lincoln, desenhos de crayon e souvenirs de países por onde ele passou, além de uma mesa originária de Beirut, em madeira com madrepérola.”

 

Consta que, na ocasião da cessão para a Prefeitura e pelo menos nas próximas administrações, turistas e são-joanenses que visitavam duas salas do Museu Casa de Bárbara Eliodora achavam fascinante aquele acervo.
Consta ainda que o Museu Casa de Bárbara Eliodora teve sua denominação alterada para Museu Municipal Tomé Portes del-Rei e, na ocasião em que escrevo essas laudas (meados de agosto de 2011), encontra-se fechado para restauração, embora, de acordo com o Guia dos Museus Brasileiros, sua “reabertura estivesse prevista para o 2º semestre de 2011.” ³
Não poderia, portanto, deixar de registrar aqui minha ansiedade, não tendo avistado de forma espontânea, até o momento, qualquer peça integrante de tão valioso acervo para o patrimônio cultural local.
O Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier teve a primazia de, nos idos de 1966 até 1979, ser o guardião desse importante acervo que atualmente se encontra longe do olhar do público.
Estaria, por acaso, tal acervo sendo conservado, devidamente classificado e inventariado, sob a guarda do poder público local? Estaria a Municipalidade consciente da glória de possuir tal mimo?
Então, por que não compartilhar com a comunidade são-joanense e os turistas, que vêm à nossa região do Rio das Mortes, a missão honrosa de tornar conhecidos os feitos do imortal são-joanense Lincoln de Souza?
Na mesma página 2, em matéria intitulada “AVANTE”, Mozart Novaes saúda o advento de uma nova etapa na história da imprensa são-joanense, reportando-se a citações de Louis Vieullot, redator do jornal “Univers”, Victor Hugo e Padre Antônio Vieira sobre o jornalismo. E prossegue:

 

“... Eis o que nos advém, precisamente quando vemos surgir, na velha e culta cidade de São João, um nôvo periódico, destinado a preencher o claro aberto e sensível com o silêncio de “O Correio” e “DIÁRIO DO COMÉRCIO” ⁴, desde o encerramento de suas atividades, na arena da bôa imprensa.

Wainer Ávila, jovem talentoso e culto causídico, apenas saído da Universidade, apto para a defesa intransigente do Direito e da Justiça, no resguardo das legítimas prerrogativas de cada cidadão e da coletividade, eis que se apressa em lançar “Tribuna Sanjoanense”, visando a preencher um claro sensível, dando nôvo pasto à inteligência, com o árduo e nobre propósito de atrair velhos e moços, lidadores no terreno do comentário, da análise, da doutrina e da crítica construtiva, em prol de postulados intangíveis, onde figuram a evolução, o progresso e o engrandecimento do rincão que amamos e defendemos com obstinação.
Se não encontramos explicação e muito menos justificativa para a ausência entre nós dessa tribuna avançada do povo à qual serviram tantos jornalistas, desde o simples “coruja” ao polemista mais ardoroso, sentimo-nos felizes com o advento de “Tribuna Sanjoanense”, dando ensejo à expansão dos sentimentos comprimidos em compartimento estanque nêsse meio de lutar pela sobrevivência de instituições triunfantes, ou pelas nossas conquistas pacíficas.
Prossigam, notadamente os moços, idealistas e cheios de civismo, no atendimento às responsabilidades de que se nutrem, estropeando-se nos sarçais da jornada ou pisando alcatifa de flôres, sem tibieza, aceitando o sacrifício que nobiliza na luta que engrandece o batalhador do bom combate.
Preencha Tribuna Sanjoanense sua finalidade ideal, eis o que almejam comigo quantos militantes encontram na imprensa a tribuna do povo para a luta pela sobrevivência e pelas aspirações sadias da civilização.
Avante!”

 

Dois artigos falam de música na página 4 na edição nº 1 do “Tribuna Sanjoanense”. O primeiro fala de um musicista são-joanense, o violoncelista Santiago Sabino, que brilhava e brilha até hoje nos palcos europeus e vinha assinado por José do Carmo Barbosa, que foi proprietário da Farmácia Ouro Preto, diretor da Rádio São João del-Rei e funcionário do Conservatório Estadual Pe. José Maria Xavier, quando o oboísta Sílvio Padilha era seu diretor. Inesquecível deve ainda soar para muitos são-joanenses a voz desse ilustre radialista, contando as lendas de nossa terra em transmissão radiofônica. Eis o seu texto:

 

“ARTISTA SANJOANENSE NA EUROPA: SANTIAGO SABINO RECEBE DA DUQUESA DIPLOMA DA ROYAL ACADEMY OF MUSIC.
Carmo Barbosa
Santiago Sabino Carvalho, garoto das peladas de “bola de meia” em São João del-Rei, honra atualmente o seu Estado e a sua terra natal nos meios musicais da Europa.
Iniciando, aos oito anos de idade, os seus estudos com seu pai, Francisco de Assis Carvalho, hoje professor do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, aos nove anos, integrando a Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos local, executou o solo de “O Poeta e o Camponês”, abertura de Von Suppé.
Em 1960 inscreve-se no concurso “Jovens Talentos Musicais”, conquistando o primeiro lugar e uma bolsa de estudos na Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Sob a direção artística de Iberê Gomes Grosso, revela-se excelente executante do instrumento violoncelo, integrando por concurso a Orquestra do Municipal, a Orquestra de Câmara da Rádio Roquete Pinto, vencendo também o concurso para jovens solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira.

 

Primeiro Lugar Entre Oito
Instituído em 1964, pela Fundação da Casa do Brasil, em colaboração com a Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, o concurso para premiar um executante brasileiro de “quarteto clássico”, Santiago Sabino Carvalho obteve, entre oito candidatos, o 1º lugar, ganhando assim, como prêmio, uma bolsa de estudos na Royal Academy of Music de Londres, para onde foi, em 14 de setembro de 1964. Já na Academia, em concurso presidido pelo Maestro John Barbirolli, entre os quatro melhores violoncelistas daquela Academia, conquistou o 1º lugar, o que lhe valeu sua integração na primeira orquestra da famosa instituição escolhida para participar do grande concêrto que devia assinalar o centenário do nascimento de Sir Henry Wood, no Royal Albert Hall, com a presença da Rainha Elizabeth II.

 

Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos
Em junho de 1965, com a primeira orquestra da Royal Academy of Music, sob a regência de Sir Adrian Boult, um dos mais consagrados regentes da Grã-Bretanha, esteve em Southwell, em Nottinghamshire. Participou da execução da “Bachiana Brasileira nº 5”, de Villa-Lobos, no centro de televisão da BBC, audição que teve o famoso catedrático do Conservatório Nacional de Paris, Professor Paul Tortelier, como 1º violoncelista.
Recentemente, obteve a primeira colocação “May Mukle Cello Prize”, entre 14 dos mais distinguidos concorrentes da Royal Academy, lugar que conseguiu executando a dificílima Sexta Suíte de Bach. É o organizador do já famoso “Anglo Brazilian Quartet”, sob a direção do Professor Sydney Grill e que se exibiu com êxito extraordinário em Paris, Madri e Lisboa.
Recomendado pela Royal Academy of Music, Santiago Sabino Carvalho esteve se aperfeiçoando na famosa Accademia Musicale Chigiana, em Siena, na Itália, onde, em concurso ao qual concorreram 43 violoncelistas de diversos países, foi categorizado a estudar com o célebre Professor André Navarra, catedrático do Conservatório Nacional de Paris. Santiago Sabino Carvalho, o garoto sanjoanense em cujo talento poucos acreditavam, está galgando os degraus da fama, e pelos seus sucessivos êxitos artísticos, engrandecendo a sua terra natal, Minas e o Brasil. Seu ideal agora é aproveitar o curso de verão que o insigne mestre Pablo Casals ministra em Zermatt, na Suíça.

 

Em Paris Este Mês
No dia 15 de julho, Santiago recebeu em sessão solene da Royal Academy of Music, de Londres, o diploma que lhe foi conferido, das mãos da Duquesa de Gloucester, tia da Rainha Elizabeth.
Em outubro próximo partirá Santiago para Paris, em cujo Conservatório Nacional será aluno dos eméritos catedráticos André Navarra e Cameron ⁵, privilégio que só têm os jovens de real valor artístico.”
O outro artigo sobre música, “DUAS CIDADES QUE SE ABRAÇAM”, que se encontra na edição nº 1 do “Tribuna Sanjoanense” de outubro de 1966, vem assinado pelo Prof. Abgar Campos Tirado, homenageando a cidade de Aiuruoca, verbis:
“Uma profunda simpatia liga as cidades mineiras de São João del-Rei e Aiuruoca.
Ambas, símbolos das melhores tradições mineiras, mantêm-se de pé, sempre jovens no seu ardor patriótico, na sua cativante personalidade de cidades imortais.
São realmente fortalezas da Pátria, pois ambas geraram filhos que envaidecem a nossa História e que mostram ao mundo que o Brasil é país de grandes esperanças, devendo ainda ocupar lugar proeminente no cenário mundial.
No dia 23 de julho próximo passado, um grupo de músicos sanjoanenses participou da II Festa da Juventude de Aiuruoca, apresentando uma Noite de Arte. Uma caravana de sanjoanenses esteve presente na tradicional cidade.
A recepção aos visitantes foi indescritível. O calor humano observado nêsse congraçamento veio, mais uma vez, patentear a grandeza de espírito dos aiuruocanos.
No dia seguinte, foi inaugurada a ALAMÊDA SÃO JOÃO DEL REI, numa demonstração de inexcedível carinho para com a Terra de Tiradentes.
Não vou citar aqui os nomes das inúmeras pessoas ilustres, presentes a essa notável festa, pois provàvelmente incorreria em omissões involuntárias. Apenas isto devo salientar: o espírito de S. João del Rei se fundiu ao espírito de Aiuruoca, numa manifestação de fraternidade e amor, ao mesmo tempo que se deram provas de que tanto maior é o Homem, quanto mais capaz êle se mostra em compreender e amar seu semelhante.”

 

Ainda na pág. 4 da referida edição, lê-se um artigo intitulado “ÀS MARGENS DO LENHEIRO”, assinado por Fábio Nelson Guimarães, subtítulo “O problema maior de São João del Rei”, que infelizmente ainda hoje carece de solução, sendo talvez agora mais agravado pela proliferação de repúblicas de universitários de outras cidades e de maus motoqueiros em flagrante desrespeito às leis de trânsito. Sua denúncia ainda hoje ecoa nos nossos ouvidos de “montanheses sempre livres” ⁶:

 

“Basta a observação dos estudiosos dos acontecimentos sanjoanenses para se chegar à conclusão sôbre o fato que os origina. O que se vê atualmente na cidade traduz displicência, falta de respeito e ausência de cultura por parte das últimas gerações. A conseqüência, é claro, prima por atos de abusos de menores, com a complacência dos pais, irreverência para com as moças, senhoras grávidas e velhos e inexistência de culto aos valores éticos e patrimoniais do passado.
Até os turistas reclamam contra o excesso de molecagens destrutivas, assobios nas ruas, buzina a ar comprimido, depredações no mobiliário dos cinemas, impropérios e desatenções no interior dos coletivos urbanos, mutilações de jardins e placas, berreiros após as 22 horas, postura relaxada diante dos símbolos nacionais, etc. A cidade recebe limpeza diária e, no entanto, nem com quatro coletas por dia ela permanece limpa.
E por que êsse estado de coisas? A todo instante ouço falar, pelos sanjoanenses: — “Cidade culta e cheia de tradições. Cada paralelepípedo guarda uma história digna de ser lembrada”. E com confiança nêsses conceitos, o conformismo e a monotonia da cidade ressentem de novas realidades marcantes. Um cabeludo se sobressai e ganha adeptos. Outro atira “busca-pé” nas moças que passam ou “cabeça de negro” na residência alheia. O pai, que trabalha o dia todo, não acredita ou não leva em conta o que ouviu sôbre as ações do filho. Aquêles que deviam, não se interessam em motivar os jovens na canalização do útil e agradável.
Então, o problema mor de São João del Rei está situado na imperfeição da educação integral do sanjoanense. Sòmente poderão saná-lo as autoridades públicas, o ensino primário e a Igreja, em sua função educativa.
Assim, grande parte da sociedade se reencontrará e o sanjoanense ficará pronto para viver em sociedade.”
Outra matéria curiosa está estampada na 1ª página do referido jornal, intitulada “SÃO JOÃO QUER TER ACADEMIA”, onde se lê:

 

“Um grupo de sanjoanenses que reside em São João del- Rei e em Belo Horizonte tem feito contacto sôbre a oportunidade real de ser fundado um sodalício magno da cultura na Princesa do Oeste.
A iniciativa é das mais aplaudidas, face à existência de congêneres em outras cidades mineiras que não gozam de tanto prestígio cultural como a antiga e bi-secular São João del Rei.
Como é do propósito dêste jornal pugnar por todas as medidas que visem ao engrandecimento da capital do vale do Rio das Mortes, aqui ficam consignados os nossos cumprimentos, com votos de realizações positivas e breves nêsse sentido de marcante construtividade.” ⁷

 

Na terceira página do referido jornal, está publicado um poema da autoria de Wainer de Carvalho Ávila, que reproduzo abaixo:

“O ADVOGADO
A Augusto Viegas

 

O advogado que de Cícero tem
a palavra mágica, a oratória quente,
a lógica pura, a vibração candente,
o gênio estético do romano altivo.

 

A alma nobre que dos Santos leva,
nas mãos vazias o coração repleto
de quem cantou a epopéia trágica
no ideal mais alto da justiça humana.

Figura máxima dos tribunais em festa
do banquete infausto dos homens réus,
vibrando as cordas do coração do júri,
batendo homens, ensinando a lei.

O código de leis, a tribuna, o júri,
a palavra, o porte, a coragem foram
as armas augustas com que lutou Augusto
no cenário magno de São João del-Rei.

Esta é a música que tua terra canta
num homem único, uma alma múltipla:
o advogado nobre, o orador brilhante,
o político honesto, o mineiro bravo.”

 

 

NOTAS DO AUTOR

 

¹ O periódico de nº 132, apresentado como A Conquista, de fato se chama CONQUISTAS e era editado pelo conhecido DASTA, a sigla para Diretório Acadêmico Santo Tomás de Aquino, da Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras. Na apresentação do primeiro exemplar — Ano 1, 1960, n.1 (jun) — consta que a publicação teria circulação mensal. O diretor era Fábio Nelson Guimarães e os redatores eram o Pe. José Ventorim, Maria Lúcia Hannas e José Resende Guimarães Filho.
O Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa-CSDP, sediado em Barbacena, informa: “Temos em nosso acervo somente os seguintes fascículos: Ano 1, 1960, nº 1 ( jun), nº 4 (set) e nº 5 (out/nov). Pelos 3 exemplares não tenho como precisar a duração desta publicação.” (Informante: Márcia Madeira, em 28/06/2011)
Recorri aos préstimos do historiador Prof. Antônio Gaio Sobrinho, instado a ajudar-me a dirimir a dúvida que me assaltou referente a essas discrepâncias verificadas na lista de periódicos fornecida por Chagas Viegas. Assim deu seu abalizado parecer em 27/06/2011:
“A obra do Dr. Augusto Viegas, ‘Notícia de São João del-Rei’, teve três edições: a 1ª é de, se não me falha a memória, 1943; a 2ª saiu melhorada em 1953, e a 3ª, melhorada e ampliada, foi editada em 1969. Em todas elas, há um belo capítulo sobre a IMPRENSA são-joanense, em sua marcha através dos tempos, desde o ano de 1837, quando ‘O Astro de Minas’ inaugurou a série de jornais que se publicaram na cidade.
Na primeira edição, o autor se limita a breves considerações a respeito, lembrando os principais periódicos, até então havidos. A segunda edição já traz, em nota, uma relação de 128 jornais, sendo o último deles o A VOZ DA CRIANÇA. Quando, porém, veio a lume a terceira edição dessa clássica obra da historiografia são-joanense, a mencionada relação dos 128 jornais da edição anterior foi acrescida de mais 3 jornais: O SOL, CINE-JORNAL e BOLETIM DO CORREIO. O primeiro, listado na ordem como 49º-A, não modificou a sequência, por isso que dividiu o 49º posto com O COMBATE. Os dois outros, porém, tiveram lugar próprio, ocupando respectivamente o 76º e o 104º postos, modificando, consequentemente, a numeração seguinte, que, em vez de terminar em 128, terminou em 130 jornais, sendo o último o mesmo A VOZ DA CRIANÇA. A relação, entretanto, continua, nessa terceira edição, com mais 10 jornais que apareceram nos anos que separaram a terceira da segunda edição, isto é, do ano 1953 a 1969, totalizando 141 jornais.
Ficou ausente, porém, o número de ordem 131º, pois os 10 últimos jornais acrescentados começaram pelo 132º. O que teria acontecido com o 131º? Talvez, o motivo de tal ocorrência tenha sido provocada, quando, ao contar os jornais anteriores, O SOL foi contado em separado de O COMBATE, desfazendo a duplicata do 49º lugar.

Nota: Cumpre notar, também, que na terceira edição saiu errado o nome do jornal que está em 26º lugar: O DOMÍNIO. O nome correto é O DOMINGO, como se lê na segunda edição.
É o que penso: Antônio Gaio Sobrinho”.
Quando me entregou seu parecer, o Prof. Gaio ainda estranhou que o Dr. Chagas Viegas tivesse omitido de sua relação “O Cooperador Salesiano” ou outro título assemelhado, um hebdomadário são-joanense, produzido pela tipografia do Colégio Dom Bosco, que circulou entre a Família Salesiana, por volta de 1956 em diante, não podendo precisar o nome exato nem por quanto tempo. Lembra-se de que seu pai participava das reuniões de colaboradores salesianos e que saía sempre dessas reuniões levando a edição mais recente do referido periódico para sua residência.
Tendo solicitado informações ao supracitado CSDP, obtive a seguinte informação:
“Quanto ao periódico dos cooperadores, acredito que deve estar relacionado ao Boletim Salesiano, que é publicado até hoje, mas de 1956 a 1971 chamava-se Revista Salesiana: Órgão dos Cooperadores Salesianos do Brasil. Este boletim/revista era e ainda é distribuído para todas as casas salesianas.” (Informante: Márcia Madeira, em 28/06/2011)

 

² Foi com grata satisfação que tive acesso a esta 1ª edição do “Tribuna Sanjoanense”, perfeitamente preservada e emoldurada em um quadro pelo saudoso Major Dermeval Antônio do Carmo (São João del-Rei, 20/5/1920-Juiz de Fora, 17/8/2009), pelos bons ofícios de sua filha Geraldina.

 

³ Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, Brasília, 2011, p. 221.

 

⁴ Mozart Novaes aqui falava saudosamente de dois célebres jornais são-joanenses, que tinham circulado até 1963: O Correio e Diário do Comércio. O primeiro foi fundado em 1926 e o segundo, em 1938. “Diário do Comércio” era porta-voz da UDN, dirigido por Matheus Salomé de Oliveira, sendo articulistas Geraldo Guimarães, Sebastião de Oliveira Cintra, etc., e “O Correio” era órgão de divulgação do PSD, dirigido por Augusto Viegas e Tancredo Neves.

 

⁵ Douglas Cameron (Dundee, na Escócia, 1902-Londres, 1974).

 

⁶ “Montani semper liberi” (Os montanheses são sempre livres) é o lema oficial do Estado da West Virginia dos Estados Unidos da América, sugerido pelo artista Joseph H. Diss Debar e adotado em 1872, e emoldura o seu Grande Selo, expressando o espírito independente inerente a todos os cidadãos daquele Estado norte-americano.
Também tal inscrição se encontra em monumento na Praça da Estação em Belo Horizonte.
Finalmente, “Montani semper liberi” é o título de um poema de Fellipe Eduardo Gerçossimo (in http://www.supertextos.com/texto/Montani_semper_liberi/11516), em que o poeta é indagado “Donde vens?”. Ao que responde, entre outras coisas, “(...)que venho dos montes / De onde brotou a Liberdade.”

 

⁷ A Academia de Letras de São João del-Rei, que neste 2011 completa 40 anos de profícua existência consagrada às Letras, seria fundada quase cinco anos depois dessa primeira edição de Tribuna Sanjoanense, mais precisamente em 21 de janeiro de 1971.
A respeito desta matéria, tenho ainda duas observações a fazer. Conforme já afirmei em matéria anterior publicada em 1º/05/2010 (in http://bragamusician.blogspot.com/2010/05/meu-mestre-inesquecivel-padre-luiz-zver.html), o Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei – CAC — planejado por um grupo de intelectuais em outubro de 1958, fundado oficialmente em março de 1959 e presidido durante quase todo o tempo de sua duração pelo inesquecível Pe. Luiz Zver —, desenvolveu inúmeras atividades culturais e de fato desempenhou as funções que em 1970 seriam desmembradas entre a Academia de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico, podendo ser considerado “o precursor” das duas entidades.
Outro fato curioso nesse texto é que ele chama nossa cidade de Princesa do Oeste, título também disputado por outras cidades mineiras, a saber: Divinópolis, que neste ano de 2011 completa 100 anos, Oliveira e Lagoa da Prata, pelo menos. Deixo a cargo de outros estudiosos provar a autenticidade e a precedência do epíteto referente a São João del-Rei.

Fonte: Blog de São João del-Rei, 6 de Dezembro de 2011

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