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Livros . Jota Dangelo
Descrição
Corro os olhos pelas minhas estantes lendo os títulos dos livros enfileirados. Alguns não significam muita coisa, outros quase nada, ou nada. Mas alguns deles me obrigam a retirar o volume da estante e, ávido, buscar trechos, ler parágrafos. De uns poucos paro na dedicatória, quase sempre uma frase dócil, prenúncio de amizade sincera.
Retiro do seu lugar o Dom Quixote, de Cervantes, e folheio as páginas em busca das ilustrações de Gustave Doré, meu ídolo de adolescência, gravuras mestras, de requinte imensurável, gravadas por H. Pizan. Quantas e quantas vezes, com meu colega de turma no Ginásio Santo Antônio, Leo Cunha, íamos para a biblioteca municipal apreciar as ilustrações de Doré na edição gigante que adormecia, e creio que ainda adormece, entre as obras raras daquela instituição.
Namoro demoradamente os cinco volumes dos Sermões, de Padre Vieira, joia da literatura portuguesa, fruto de uma oratória brilhante-e inigualável. Procuro, quase que automaticamente o Sermão da Quadragésima Hora para reler trechos de um dos textos mais belos do jesuíta que chegou a propor ao Rei de Portugal, num equívoco histórico, a doação de parte do nordeste brasileiro para os invasores holandeses.
No final da prateleira estão os dois volumes de Guerra e Paz, de Tolstoi, um dos meus livros de "meia cabeceira", e antes deles a obra prima de Fiedor Dostoievski, Crime e Castigo. Naquela obra, a de Tolstoi, recordo, conta-se a história do príncipe André, um dos personagens mais fascinantes do livro. Por causa deste personagem nosso segundo filho recebeu o nome de André...
Detenho-me um pouco à vista de duas coleções: a primeira, em sete volumes, obras dos randes pensadores, filósofos e ficcionistas e, entre elas, a Ilíada, de Virgílio, A República, de Platão, Elogio da loucura, de Erasmo, a Poética, de Aristóteles; a segunda, uma coletânea, adquirida por meu pai e que passou para minhas mãos, dos grandes julgamentos da História. E logo depois um presente do meu amigo Sérgio Farnesi, A Interpretação dos sonhos, de Freud.
Olho as estantes. Páginas e páginas. Bom ter convivido com elas. Livros. Foram, e são, meus companheiros de toda a vida. Não há sensação melhor do que abrir as páginas de um livro e mergulhar na riqueza das palavras, deixar a imaginação alçar voos e construir cenários, ambientes, atmosfera, clima, onde as ações se desenrolam. E voltar páginas atrás para certificar-se de detalhes; avidamente, varar madrugada na curiosidade angustiante de saber o desfecho do enredo, meticulosamente descrito.
Parafraseando o samba, ouso dizer que "quem não gosta de livro, bom sujeito não é ... "
Fonte: Gazeta de SJDR, 9 de Abril de 2011