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Geraldo Nery Gouveia: maestro da música e da vida .André Eustáquio
Descrição
No distrito de Jacarandira, distante 42 km de Resende Costa, nascia em 17 de maio de 1926 um homem que marcaria a vida de muitos jovens daquele lugar: Geraldo Nery Gouveia, carpinteiro de profissão e maestro por amor e convicção. Sua atuação no meio musical, inicialmente como instrumentista, começou em 1955, quando iniciou seus estudos de música com Moisés de Paula, maestro da banda de música de Morro do Ferro, distrito de Oliveira, MG. Em meio a muitas dificuldades, incluindo aulas e ensaios no sá¬bado à noite e no domingo, surgia a. primeira formação da banda de música de Jacarandira, Lira de São Sebastião, que iria mudar para sempre a vida de Geraldo Gouveia.
A música se entranhou na alma de Geraldo Gouveia sem pedir licenças. O talentoso carpinteiro, exímio na arte de confeccionar rodas d'água de engenho, também começou a mostrar enorme aptidão para a música. De clarinetista da primeira banda, pouco tempo depois Geraldo Gouveia assumiu a regência da segunda formação da Lira de São Sebastião em 1967. Em entrevista ao JL, publicada em março de 2005, o maestro conta como foi a formação dessa banda: "Passados 12 anos (desde 1955, ano em que foi criada a primeira banda), o senhor Nicodemus (Coelho, homem de grande liderança no distrito de Jacanrandira) manifestou vontade de formar outra banda, mas só que dessa vez houve a preocupação de encontrar pessoas dispostas a ficar em Jacarandira. Arrumei caderno para todo mundo e a banda começou de novo, e continua até hoje".
Geraldo foi o grande mestre da música em Jacarandira. Um líder que soube doar seu talento em prol de uma comunidade. Ensinou música, garimpou talentos, organizou encontros de bandas, rompeu grandes barreiras para cultivar a arte, enfim, fez história. As pessoas de Jacarandira recordam sua perseverança e seu empenho: "Ele não se amedrontava com a distância, muito menos com o frio. Em todas as alvoradas e festas religiosas, lá estava o senhor Geraldo, vindo de sua casa ainda de madrugada, para reger a banda", lembra Jesus Agnélio, integrante da banda e ex-aluno do maestro.
Mas o tempo implacavelmente foi passando e há dois anos o Geraldo Gouveia entregou a regência da Lira de São Sebastião ao atual maestro, Ednilson. Aquele homem bem disposto e alegre não mais encontrava forças para continuar o seu oficio. Surgiram os problemas de saúde e, no dia 9 de julho último, aos 85 anos, o maestro Geraldo Nery Gouveia dava, em Belo Horizonte, seu último suspiro, em decorrência do agravamento de um enfisema pulmonar. Saía dos palcos da vida o maestro, o amigo e o grande líder e incentivador da cultura na comunidade de Jacarandirá. Entrava, porém, para sempre no coração e na saudade de muitos que tiveram o privilégio de conviver e estudar com ele.
O seu sepultamento em Jacarandira, na tarde de domingo, 10 de julho, tristemente marcou a despedida de um grande homem que escreveu traços da história de sua comunidade nas linhas de uma partitura. Nos acordes da música, ele formou uma geração, fez muitos amigos, colaborando incansavelmente com a promoção da cidadania. Como despedida, imersos num profundo e intraduzível sentimento de emoção e saudade, os músicos das três bandas presentes no sepultamento (Resende Costa, Desterro de Entre Rios e Jacarandira) executaram duas músicas que ele mesmo pediu que fossem toca homenagens foram feitas, revelando carinho e reconhecimento (ler a homenagem feita pelo trompetista José Luis Messias Santos).
O senhor Geraldo, viúvo desde 1980, quando faleceu sua esposa Elzi Coelho Leão, deixou oito filhos e importante legado para aqueles que acreditam na arte e estão dispostos a investir em talentos, conferindo oportunidade aos jovens. Sua memória certamente se imortalizará nos acordes da Lira de São Sebastião e em cada página de uma partitura musical executada em Jacarandira. Em poucas palavras o seu sobrinho, Zinho Gouvea, que o acompanhou em seus últimos momentos, resumida e perfeitamente retratou quem foi Geraldo Nery Gouveia: "um maestro da música e da vida, que vai deixar bastante saudade".
Que o legado e o exemplo do maestro Geraldo Gouveia continuem vivos em Jacarandira. Que as gerações futuras dêem prosseguimento à sua obra "com fé em Deus e pé na tábua", como ele mesmo disse no fim de sua entrevista ao JL, em 2005.
Homenagem
Hoje, 10 de julho de 2011, Jacarandira se entristece ao se despedir de um ilustre e inesquecível amigo que sempre viveu intensamente as questões de sua comunidade. No futebol, não há quem não se lembre deste companheiro. Percebia-se claramente o seu amor pela música ao ser constantemente flagrado assoviando pelas ruas as diversas músicas executadas pela Lira. Mãos habilidosas, que na entalha dava à madeira cores e formas dignas de arte.
Sempre sorrindo, nunca permitiu que os espinhos da vida lhe tirassem o desejo de viver. Tinha a Lira de São Sebastião como a "menina de seus olhos" e esta se orgulha imensamente de ter tido em sua história um mestre que, com seus olhos enxergou um caminho de conquistas; com seus ouvidos, notas da esperança; com seus punhos fortes, compassos da vitória e, com seu coração, entregou-se como regente. Coração este que nunca falhou na marcação. Fizesse frio ou calor, chuva ou sol, sempre lutou bravamente para que a cultura das bandas de música não se enfraquecesse em nosso estado e para que, em especial a Lira de São Sebastião se tornasse um motivo de orgulho e admiração para os moradores de Jacarandira.
Mestre, amigo companheiro e eterno maestro, seu clarinete não se calou, pois cada nota que dele saiu estará sempre no coração daqueles que o amam. Temos certeza que Deus o receberá de braços abertos na grande "lira de eternidade". Seguimos no solo da vida lembrando sempre de seu exemplo.
Seu amor pela Lira em uma ocasião durante o primeiro encontro de bandas. Ao subir ao palco para testá-lo, mencionou a seguinte frase: "meu sonho era realizar um encontro de bandas em Jacarandira; amanhã, se eu morrer, morro feliz". É neste espírito que queremos seguir seu trabalho, doando nossas vidas incondicionalmente. Sua falta será sentida, sua presença, lembrada. Diante de tudo, a Lira de São Sebastião só tem uma coisa a dizer: Muito obrigado e vá com Deus!
Homenagem: José Luis Messias Santos (Trompetista da Lira de São Sebastião)
Texto: André Eustáquio
Fonte: Jornal das Lajes – Agosto de 2011
A música se entranhou na alma de Geraldo Gouveia sem pedir licenças. O talentoso carpinteiro, exímio na arte de confeccionar rodas d'água de engenho, também começou a mostrar enorme aptidão para a música. De clarinetista da primeira banda, pouco tempo depois Geraldo Gouveia assumiu a regência da segunda formação da Lira de São Sebastião em 1967. Em entrevista ao JL, publicada em março de 2005, o maestro conta como foi a formação dessa banda: "Passados 12 anos (desde 1955, ano em que foi criada a primeira banda), o senhor Nicodemus (Coelho, homem de grande liderança no distrito de Jacanrandira) manifestou vontade de formar outra banda, mas só que dessa vez houve a preocupação de encontrar pessoas dispostas a ficar em Jacarandira. Arrumei caderno para todo mundo e a banda começou de novo, e continua até hoje".
Geraldo foi o grande mestre da música em Jacarandira. Um líder que soube doar seu talento em prol de uma comunidade. Ensinou música, garimpou talentos, organizou encontros de bandas, rompeu grandes barreiras para cultivar a arte, enfim, fez história. As pessoas de Jacarandira recordam sua perseverança e seu empenho: "Ele não se amedrontava com a distância, muito menos com o frio. Em todas as alvoradas e festas religiosas, lá estava o senhor Geraldo, vindo de sua casa ainda de madrugada, para reger a banda", lembra Jesus Agnélio, integrante da banda e ex-aluno do maestro.
Mas o tempo implacavelmente foi passando e há dois anos o Geraldo Gouveia entregou a regência da Lira de São Sebastião ao atual maestro, Ednilson. Aquele homem bem disposto e alegre não mais encontrava forças para continuar o seu oficio. Surgiram os problemas de saúde e, no dia 9 de julho último, aos 85 anos, o maestro Geraldo Nery Gouveia dava, em Belo Horizonte, seu último suspiro, em decorrência do agravamento de um enfisema pulmonar. Saía dos palcos da vida o maestro, o amigo e o grande líder e incentivador da cultura na comunidade de Jacarandirá. Entrava, porém, para sempre no coração e na saudade de muitos que tiveram o privilégio de conviver e estudar com ele.
O seu sepultamento em Jacarandira, na tarde de domingo, 10 de julho, tristemente marcou a despedida de um grande homem que escreveu traços da história de sua comunidade nas linhas de uma partitura. Nos acordes da música, ele formou uma geração, fez muitos amigos, colaborando incansavelmente com a promoção da cidadania. Como despedida, imersos num profundo e intraduzível sentimento de emoção e saudade, os músicos das três bandas presentes no sepultamento (Resende Costa, Desterro de Entre Rios e Jacarandira) executaram duas músicas que ele mesmo pediu que fossem toca homenagens foram feitas, revelando carinho e reconhecimento (ler a homenagem feita pelo trompetista José Luis Messias Santos).
O senhor Geraldo, viúvo desde 1980, quando faleceu sua esposa Elzi Coelho Leão, deixou oito filhos e importante legado para aqueles que acreditam na arte e estão dispostos a investir em talentos, conferindo oportunidade aos jovens. Sua memória certamente se imortalizará nos acordes da Lira de São Sebastião e em cada página de uma partitura musical executada em Jacarandira. Em poucas palavras o seu sobrinho, Zinho Gouvea, que o acompanhou em seus últimos momentos, resumida e perfeitamente retratou quem foi Geraldo Nery Gouveia: "um maestro da música e da vida, que vai deixar bastante saudade".
Que o legado e o exemplo do maestro Geraldo Gouveia continuem vivos em Jacarandira. Que as gerações futuras dêem prosseguimento à sua obra "com fé em Deus e pé na tábua", como ele mesmo disse no fim de sua entrevista ao JL, em 2005.
Homenagem
Hoje, 10 de julho de 2011, Jacarandira se entristece ao se despedir de um ilustre e inesquecível amigo que sempre viveu intensamente as questões de sua comunidade. No futebol, não há quem não se lembre deste companheiro. Percebia-se claramente o seu amor pela música ao ser constantemente flagrado assoviando pelas ruas as diversas músicas executadas pela Lira. Mãos habilidosas, que na entalha dava à madeira cores e formas dignas de arte.
Sempre sorrindo, nunca permitiu que os espinhos da vida lhe tirassem o desejo de viver. Tinha a Lira de São Sebastião como a "menina de seus olhos" e esta se orgulha imensamente de ter tido em sua história um mestre que, com seus olhos enxergou um caminho de conquistas; com seus ouvidos, notas da esperança; com seus punhos fortes, compassos da vitória e, com seu coração, entregou-se como regente. Coração este que nunca falhou na marcação. Fizesse frio ou calor, chuva ou sol, sempre lutou bravamente para que a cultura das bandas de música não se enfraquecesse em nosso estado e para que, em especial a Lira de São Sebastião se tornasse um motivo de orgulho e admiração para os moradores de Jacarandira.
Mestre, amigo companheiro e eterno maestro, seu clarinete não se calou, pois cada nota que dele saiu estará sempre no coração daqueles que o amam. Temos certeza que Deus o receberá de braços abertos na grande "lira de eternidade". Seguimos no solo da vida lembrando sempre de seu exemplo.
Seu amor pela Lira em uma ocasião durante o primeiro encontro de bandas. Ao subir ao palco para testá-lo, mencionou a seguinte frase: "meu sonho era realizar um encontro de bandas em Jacarandira; amanhã, se eu morrer, morro feliz". É neste espírito que queremos seguir seu trabalho, doando nossas vidas incondicionalmente. Sua falta será sentida, sua presença, lembrada. Diante de tudo, a Lira de São Sebastião só tem uma coisa a dizer: Muito obrigado e vá com Deus!
Homenagem: José Luis Messias Santos (Trompetista da Lira de São Sebastião)
Texto: André Eustáquio
Fonte: Jornal das Lajes – Agosto de 2011