a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

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Das serenatas . Jota Dangelo

Descrição

Os anos dourados se foram. O romantismo não tem mais Vez. O sexo banalizou-se, desde que a propalada liberdade sexual foi conquistada, como se fosse um direito inalienável dos seres humanos. O perigo de uma gravidez indesejada  foi afastado com a descoberta dos anticoncepcionais, a pílula do dia seguinte. A banalização do sexo, se trouxe uma possibilidade de impotência em menos tempo, a dificuldade eventual
da ereção foi sanada com o Viagra. De resto, se as conquistas tecnológicas permitiram avanços, também não deixaram de provocar retrocessos. Computadores, internet, chats, resultam também em individualismo exacerbado: acabaram-se as visitas cordiais de fim de tarde e começo de noite, a novela tomou o lugar das possíveis visitas, a TV a cabo substituiu o cinema, pelo menos em matéria de conforto. Além disso, muita gente (pelo menos os menos fanáticos) deixou de ir aos estádios de futebol. A infância ainda conserva
algum encanto, mas a adolescência perdeu sua espontaneidade, seu lirismo, embora não tenha perdido sua inexperiência e seu raciocínio curto, transformados em imediatismo, em certo grau de violência e desrespeito. Percebo nos jovens,  com exceções, é claro, uma falta de objetivo, uma insegurança e pouca determinação, pouco vocabulário e muita pretensão.

Uma das coisas que desapareceu com o romantismo foi a serenata. Ainda há adultos fazendo serestas ambulantes e mais raras ou no aconchego dos bares, como acontece às , terças no Bonfim, ali no Antônio José, no que se convencionou chamar Terça Com Aldo, em homenagem ao mais antigo seresteiro de São
João dei-Rei, que conheci ainda nos tempos do Bife de Ouro, do Joanino Lobosque, na Rua do Comércio. Saudosistas dos velhos tempos das serenatas ali se reúnem para ouvir e para cantar as músicas que embalavam romances e namoricos passageiros, mas também noivados fechados e casamentos firmados. E logo, aos cantores ou simples ouvintes, se achegam músicos de todos os recantos para uma noitada de MPB, bem diferente do que se ouve hoje na maioria dos programas de rádio e de TV, um desastre musical embalado por letras de uma indigência mental que nos aproxima de QI de chipanzés.
Eu tive muita sorte. Minha geração foi de serenatas. Fiz parte de seresteiros diversos, primeiro com Romeu, Toninho, João Bosco e Olegário (os Nascimento Teixeira), Diomedes e Tidinho (os Garcia de Lima), José Antônio Rodrigues, aos quais juntou-se depois o Claret e seu violão mágico; depois foi com a turma do Bife de Ouro, Rômulo Magalhães, Almeida, Ercy, Agostinho França, Jesus, Zé Feio. Mesmo
em Belo Horizonte, com os Nascimento Teíxeira e o Claret, deixamos nossa marca seresteira. Algumas das serenatas na capital foram feitas com piano, transportado numa caminhonete...
Aqui em dei-Rei, houve um tempo em que o Lions partia para serenatas pelas ruas da cidade. Eliane Abreu tinha até um caderninho com as letras das canções, repertório romântico, às vezes doce, às vezes amargo, como costumam ser as relações amorosas. Posso estar mal informado: o Lions ainda faz essas serenatas? O que ainda resta, pelo que vejo, é um programa do SESC, de muitos anos, o  Minas ao Luar, que aparece anualmente na cidade. Bem, sempre é possível contar com a Terça Com Aldo para quem gosta
de relembrar a poesia dos velhos tempos ...

Fonte: Gazeta de SJDR, 27 de agosto de 2011.

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