a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Senhor Bom Jesus dos Montes, do alto de vossa colina, olhai misericordioso para São João del-Rei! . Antônio Emílio da Costa

Descrição

Em São João del-Rei, o povo do Senhor dos Montes já está em festa. Desde a tarde desta sexta-feira, 26 de agosto, mal o sol se despede por detrás da Serra do Lenheiro, no alto da colina do Cristo, foguetes fazem riscos de cometa dourado e estouram no céu crepuscular. Avisam que dentro em pouco começará a novena ao generoso e complascente crucificado padroeiro. O sino, da capela humilde, dobra leve e veloz, espalhando pelos quatro ventos seu som menino. A vida não envelhece no alto do Senhor dos Montes. Pode ser que se ouça até, pelo autofalante, o canto da Ave Maria. Coisas imemoriais de São João del-Rei, de alguns recantos esquecidos de Minas...

Durante toda a semana será assim. E mais: a comunidade do bairro se mobilizará limpando a pequenina igreja, roçando o mato, capinando a rua, lavando a roupa dos santos e dos anjinhos, lustrando as lanternas, aparando as velas das tochas, recolhendo prendas para os leilões, preparando empadinhas de massa grossa, quentão, caipirinha, biscoitos fritos de açúcar e coco, bolos de laranja, quibes, pastéis, coxinhas e tudo saudoso que só se encontra nas barraquinhas sobreviventes de um tempo que já se foi. Mas que no bairro do Senhor dos Montes, felizmente, volta todo ano, no começo de setembro, até que chegue o primeiro domingo do mês. Neste dia santos saem em procissão.

O bairro do Senhor dos Montes tem como muralha protetora a Serra do Lenheiro, onde à mão, sobre a terra, no cascalho, se catou muito ouro nos primeiros anos setecentos. Entre ela e ele, corre o Ribeirão de São Francisco Xavier - cordão d'água que atraiu, amarrou e amansou violentos bandeirantes, seduzidos pela cobiça e pela riqueza, mal se assentara naquele chão de meu Deus o Arrarial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes.

Daquele tempo, o ouro acabou. Contemporânea, a violência encontrou outras causas, outras raízes, sobreviveu, se urbanizou. Mas a riqueza interior do povo do Senhor dos Montes - indiferente ao exaurir aurífero e às insanidades humanas que se nutrem de desigualdades e injustiças - prossegue serena, convicta e inabalável, setembro a setembro, como o olhar indagativo da imagem do Cristo crucificado, de Nossa Senhora das Dores e de Nossa Senhora da Piedade que este ano, no entardecer do próximo dia 4, percorrerão as ruas, becos, atalhos e trilhas do Senhor dos Montes, olhando do alto, contemplativos e misericordiosos, para a outra - barroca e altiva - São João del-Rei.

Esta, cá de baixo, mirando os foguetes, ouvindo os sinos, imaginando o sabor das delicias e ansiando as emoções que já não sente mais, cidade importante, imponente, barroca e altiva sentirá no coração um aperto: http://www.youtube.com/watch?v=GwFUr5ARJfM&feature=player_embedded#!

Fonte: Direto de São João del-Rei . Tencões e Terentenas


Mais informações:
Inventário do Bairro Senhor dos Montes
Grutsem . Grupo Teatral Senhor dos Montes
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