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a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Santa Cruz da Cabocla . Ulisses Passarelli

Descrição

Conta-se que durante uma forte seca no início do século XIX, uma índia com seus dois curumins, fugindo da aridez do interior, caminhava rumo ao litoral. Não suportou a peleja contra a natureza e pereceu de fome, sede e sabe-se mais o quê... Debaixo de um cajueiro foi encontrada morta com seus dois indiozinhos.
Este acontecimento triste ocorreu no lugar chamado Peixe-boi, naquele tempo muito afastado da cidade do Natal, com parcas casinhas esparsas no matagal. É o atual Bairro Felipe Camarão.
Mas o fato trágico não seria apagado pela história nem pelo descaso do tempo. Sua lembrança foi deixando marcas no bairro da capital potiguar. Uma duna próxima ganhou o nome de Morro da Cabocla, alusão à índia. Este nome ainda é conhecido por lá.
Para marcar o local da sua morte, fincaram uma cruz de madeira. O povo sem nenhum esforço e com plena naturalidade a denominou SANTA CRUZ DA CABOCLA.
A cruz tornou-se um símbolo religioso no lugar, respeitado e cada vez mais prestigiado, à medida que ia aumentando o número de casas no local. Por décadas marcou a paisagem com sua simplicidade humilde, os braços enfeitados de fitas de promessa, ofertas e muitas pedrinhas como é de costume, representando cada oração oferecida em sufrágio daquela alma. E umas raras velas ...
Posteriormente fizeram um nicho protegendo a cruz.
A necessidade de espaço obrigou a construção de um oratório, onde já cabiam algumas pessoas.
Hoje já é uma capela, motivada pelo número crescente de fiéis. E diante dela há um adro simples e um esboço de praça. O nome da capela veio expontaneamente: Capela da Cabocla, ou da Santa Cruz da Cabocla, nomes populares.
Ficou na tradição oral que a cabocla chamava-se Luzia. De imediato o povo aproximou: Luzia ... Santa Luzia. E o orago é esta santa, popular e queridíssima protetora “das vistas” (Visão e olhos). E no altar vê-se Santa Luzia com a salva na mão contendo os dois olhos e ao lado da imagem a cruz primitiva, que ficava no nicho. Cruz em madeira, pintada de verde, com a seguinte inscrição em baixo relevo: “Luzia 77 1800”, encoberta por muitas fitas coloridas que os devotos ali prenderam. A inscrição lembra o nome da cabocla e sua remota data de falecimento: 7 de julho de 1800.
É um notável exemplo da persistência da tradição oral em uma comunidade. Mas não uma mera persistência e sim um fator que motivou a própria evolução gradativa da paisagem urbana naquele ponto, que a partir de uma cruz tosca chegou a uma praça com capela, sem que a narrativa de recuado e trágico fato motivador se perdesse na poeira dos tempos e nas tempestuosas mudanças sociais que tem ocorrido.
E que por lá continue a Santa Cruz da Cabocla, em sua atraente humildade, rompendo o tempo com sua história legitimamente folclórica e se bem que triste, também encantadora; com Santa Luzia da Cabocla Luzia abençoando os moradores das cercanias, que com tanto zelo conservaram a fé e a tradição.

Fonte: Boletim da Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore, n.3, dez. / 1997, Natal / RN. p.6-7.
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