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"Maestro" e literato Abgar Campos Tirado, glória de São João del-Rei . Por Francisco José dos Santos Braga

Descrição

Retorno hoje às páginas deste prestigioso periódico para falar de um assunto que muito me agrada: escrever sobre Música e, especialmente, sobre um “maestro” e pianista são-joanense cuja vida tem sido marcada pelo zelo e competência no trato dessa Arte. Refiro-me a Abgar Antônio Campos Tirado, meu mestre de piano, que nos idos de 1963, me preparou com orientações seguras para meu ingresso no Conservatório Estadual Padre José Maria Xavier, na classe da saudosa Profª  Mercês Bini Couto (1916-2010), o que se deu no ano seguinte.
Foi dessa forma que tive a oportunidade e o privilégio, nos meus verdes anos, de frequentar a residência dos Tirado Lopes e testemunhar a dor que representou para a família de Abgar a partida precoce da saudosa chefe do lar, mãe, esposa extremada e pianista, D. Águeda Campos Tirado (1903-1962).
Para homenagear o Prof. Abgar, essa figura ímpar das letras e da música erudita são-joanenses, a amiga Alzira Agostini Haddad, sabedora dessa nossa ligação artística de longa data, teve a feliz ideia de sugerir-me alinhavar uma lauda que retratasse minha admiração pelo amigo e colega musicista. Difícil missão essa que me atrevo a cumprir, já que são insuficientes as páginas de um alentado livro para descrever o gênio e o brilho do meu biografado.
Vejamos inicialmente seus projetos atuais no campo da música erudita, sua maior especialidade a meu ver. Em 1987 estreou e este ano vai tocar de novo o arranjo da primeira parte do 1º movimento do Concerto nº 1 de Tchaikovsky com a Banda do Regimento Tiradentes. Em julho, no próximo Inverno Cultural da UFSJ, deve fazer, em primeira audição, o solo do Concertino em forma de suíte “Mandacaru”, para piano e orquestra, de Normando Carneiro da Silva, regente em Natal (fundador da Camerata do Conservatório Estadual  Pe. José Maria Xavier, quando Abgar era seu Diretor. Consta também que Normando compôs uma missa inédita dedicada ao Prof. Abgar.) Confessou-me ainda Abgar que planeja tocar o Concerto nº 2, de Carl Maria von Weber, com acompanhamento de orquestra, no segundo semestre deste ano.
Já que falei sobre o nosso querido Conservatório, lembro que Prof. Abgar foi seu ilustre Diretor, durante o longo período de janeiro de 1977 a dezembro de 1991.
Dignas de nota foram as suas realizações nesse cargo, dentre as quais importa destacar as seguintes, devido à sua importância cultural: fundação da Camerata e do Coral Opus 78; instalação de masterclasses de diversos instrumentos; duas edições internacionais do CLAMC-Curso Latino-Americano de Música Contemporânea, sob a supervisão do compositor são-joanense José Maria Neves (1943-2002); montagem das óperas Rigoletto e La Traviata de Verdi e Tosca de Puccini, com solistas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; reforma do auditório que, após alterações inclusive acústicas do projeto, foi promovido a “Teatro Presidente Tancredo Neves”, inaugurado por Risoleta Neves. Na sua despedida do Conservatório, em 1991, o Diretor Abgar foi o responsável pela ópera Bastien und Bastienne de Mozart, bem como pela tradução para o português dos diálogos, contando só com a participação de músicos do Conservatório.
Prof. Abgar teve destacada atuação como pianista solista e com acompanhamento de orquestra, nos festivais de música erudita de Aiuruoca, no período de 1965 a 1969, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Divinópolis e Ouro Preto. Ainda se apresentou em Ourinhos-SP,  em Curitiba a quatro mãos com Maria Amélia Viegas e na Capela do Palácio da Guanabara.
Dentre as suas centenas de composições, destaco as mais conhecidas, com o local onde foi apresentada no Brasil e no exterior: Salve Regina (Arg.), Panis Angelicus (Roma e Sicília); Ária Antiga, bem como Prelúdio, Marcha e Final, trilhas sonoras para dois filmes do Festival JB-Mesbla de BH, com destaque para a segunda partitura composta para o filme “Regeneração?” do diretor são-joanense Sérgio Ratton; Improviso em fá menor, tocado por Humberto Rutowitsch Garrón em Wichita, Kansas; e Novena de Nossa Senhora do Pilar, dedicada ao Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, composta e apresentada em 2008 em nossa cidade. Como se vê, embora nunca tenha saído do País, suas músicas já chegaram aos quatro cantos do Orbe. Buscando homenagear Abgar através de sua música, a WM Filmagens, com orientação de Toninho Ávila, lançou em 2009 o DVD - São João del-Rei Barroca, Colonial e Eclética, que é um documentário sobre esta cidade. Além de narrador e autor do texto, Prof. Abgar assina também todas as músicas da trilha sonora.
Outra área em que se impôs seu gênio artístico foi a da composição de hinos, sacros e profanos, especializando-se na autoria tanto da letra quanto da música.
Nos seus cursos de formação teve como professores de piano Nilce Cavalcante Alves, Mercês Bini Couto e Ismênia Castelli Panzera.
Frequentou ainda os seguintes cursos de reciclagem oferecidos pelos pianistas Venício Mancini, André Luis Pires, Armando Amado Júnior e Miguel Rosselini . Participou ainda de cursos públicos de Técnica e alta Interpretação Pianística ministrados por Jacques Klein (RJ, 1963) e Magdalena Tagliaferro (Uberlândia, 1980).
Pode-se ainda citar as grandes execuções de Prof. Abgar de obras para piano com acompanhamento orquestral. Inicialmente, executou em 1ª audição a Fantasia Brasileira de Nilo Weber, aos 21 anos de idade. Mais tarde, notabilizou-se tocando o Concerto nº 9 em mi bemol de Mozart, o Concerto nº 3 em dó menor de Beethoven e a Rhapsody in Blue de George Gershwin.
Igualmente ganhou notoriedade em outra área que exige perícia e entendimento perfeito da harmonia: a de pianista acompanhador, fazendo a parte de orquestra nos seguintes concertos: Concerto em lá menor de Schumann (1997), Concerto nº “Imperador” de Beethoven(2008) e Concerto nº 2 de Mendelssohn (2009).
Lembrar os artistas notáveis que freqüentaram a casa de Abgar é uma obrigação. Amigo dos grandes pianistas brasileiros, acolheu alguns dos principais, a saber: Isabel Mourão, que está residindo entre nós são-joanenses, Celina Szrvinsk, Anna Stella Schic (1925-2009), Arnaldo Estrella (1908-1981), Berenice Menegale e Magdalena Tagliaferro (Petrópolis, 1893-Rio de Janeiro, 1986). Além de pianistas, também visitaram a residência de Abgar a soprano Rute Pardini e os compositores José Maria Neves, Gilberto Mendes, Almeida Prado (1943-2010), o português Jorge Peixinho (1940-1995), o francês Michel Philipot (1925-1996), os uruguaios Conrado Silva e Héctor Tosar (1923-2002) e o argentino Eduardo Bértola (1939-1996).
Em especial, a amizade imorredoura entre Abgar e Magdalena Tagliaferro, grande pianista laureada em todos os teatros do mundo e participante dos mais famosos júris de concursos internacionais, trouxe e tem trazido belos frutos e benefícios incontáveis à nossa cidade que ela amou e incluiu no circuito de suas apresentações, todas as vezes que retornava ao Brasil. Por causa dessa grande amizade, Abgar participou com comovente colaboração literária de Magdalena Tagliaferro (Irmãos Vitale Editores, SP,  1983, p. 117), um livro biográfico e de depoimentos de personalidades sobre a “Grande Dama do Piano Brasileiro”, como convidado da autora Helena Beatriz Greco Laguna.
Também mostrou domínio absoluto do universo musical e filosófico de Nitzsche, ao discorrer  e solar peças escolhidas do renomado filósofo-músico na PUC-BH, na UFJF e no Campus Dom Bosco da UFSJ.
Outra área de sua competência, pelo menos desde 1993, é a de comentarista sacro da Semana Santa de São João del-Rei. Suas explicações do texto sacro e da música constituem um ponto alto das festividades na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, transmitidas pela Rádio São João del-Rei e TV Campos de Minas, além de outros veículos, disponibilizadas também na Internet para todo o mundo em tempo real. São altamente comovedores os seus comentários sobre os Ofícios de Trevas, levando amiúde o público às lágrimas.
Atualmente Prof. Abgar é o Presidente de Honra da Sociedade de Concertos Sinfônicos. Também outra atividade em que se destacou foi sua participação em várias bancas julgadoras, cabendo citar as mais importantes: em Juiz de Fora e Varginha (de piano) e na UFSJ (literária).
Bacharel e licenciado em Letras Anglo-Germânicas pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras em 1962 (atual UFSJ), Abgar foi orador pela turma saudando o paraninfo Cardeal Dom Carlos Carmello de Vasconcelos Motta (1890-1982).
Professor de Português e Inglês por concurso de provas e títulos na rede estadual, hoje Prof. Abgar está aposentado, mas atua ainda como professor voluntário de Latim no Seminário Diocesano São Tiago. Através do magistério, orgulha-se de ter colaborado para o florescimento de novas lideranças locais e até nacionais, e para a melhoria do padrão intelectual e espiritual de seus alunos.
Ainda cabe lembrar que Abgar é sempre convidado por diversas entidades a palestrar sobre assuntos variados que brilhantemente domina, tais como: Hino Nacional Brasileiro, Beethoven, Villa-Lobos, Pe. Antônio Vieira (em 2008, em comemoração pelo IV centenário do nascimento do orador sacro português) e outros.
Sobre a participação ativa de Abgar em academias, institutos e entidades beneficentes e culturais cabem algumas palavras. Inicialmente, é membro efetivo da Academia de Letras de São João del-Rei desde 1972, sendo o saudoso Prof. Domingos Horta (Itabira, 1904-São João del-Rei, 1967) patrono da cadeira que Abgar ocupa. O elogio ao Prof. Domingos Horta, pronunciado em 1979, está estampado na Revista da Academia de Letras, Ano I, nº 1, 2005, p. 127-136. Salvo engano, Abgar é o membro efetivo vivo mais antigo da Arcádia são-joanense.
Pertence também à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais que se reuniu extraordinariamente em São João del-Rei para dar posse ao nosso conterrâneo ilustre. A cadeira que Abgar ocupa tem como patrono o grande orador são-joanense Dr. Belisário Leite de Andrade Neto (1911-Rio de Janeiro, 1977). O elogio a Belisário pronunciado por Abgar por ocasião de sua posse está estampado na Edição Comemorativa do 33º Aniversário da Academia Municipalista de Minas Gerais, Edições AMULMIG, Belo Horizonte, 1996, p. 15-24.
Devo ainda salientar que o Prof. Abgar é membro de outras ilustres entidades, tais como sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e do Rotary Club; sócio correspondente da Academia Valenciana de Letras (para a qual escreveu artigo sobre Beethoven, intitulado “A Vitória do Espírito sobre a Adversidade”, publicado no Livro Comemorativo dos 60 anos da criação da Academia Valenciana de Letras, vol. 1, nº 1, Editar Editora Associada, Valença-RJ, 2009, p. 147-152). Da Fundação Oscar Araripe em Tiradentes é membro curador. Também é colaborador permanente do jornal da ASAP sobre temas os mais variados. Finalmente, é conselheiro do CEREM – Centro de Referência Musicológica José Maria Neves.

Fonte: Blog do Braga
Francisco José dos Santos Braga é membro da Associação Amigos de São João del-Rei

Mais informações:
Abgar Campos Tirado
Abgar Campos Tirado foi homenageado na Semana Santa Cultural 2011 . São João del-Rei
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