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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
O desenvolvimento e a preservação cultural . José Mauricio de Carvalho
Descrição
Vivemos numa cidade com passado um passado importante, melhor seria dizer numa micro-região de grande importância histórica, pois aqui ao lado há as cidades de Tiradentes e Prados. A cidade de Congonhas dista cem quilômetros o que considerando os padrões brasileiros é pouco. Esse fato traz o desafio de pensar o que fazer com esse patrimônio cultural construído. Ele nos formou, somos o que somos por conta dele, mas seremos amanhã o que nossas escolhas hoje nos fizerem ser.
O desafio da preservação tem gerado discussões intermináveis sobre o que fazer do futuro que devemos construir. O problema parece mal colocado porque expressa um antagonismo entre preservação e desenvolvimento. Parece que quem defende a preservação é contra o desenvolvimento e vice-versa. Colocar assim o problema é colocá-lo mal. Preservar e desenvolver são partes do mesmo desafio.
Por que não há incompatibilidade entre o desenvolvimento e o cuidado com o patrimônio material e imaterial? Porque o passado e o futuro são instâncias do tecido que nos forma. Somos históricos, criaturas do tempo. O passado é de onde surgem as coisas que recebemos, de lá veem nossos costumes, valores, recordações, bens materiais já edificados, etc. Nossa herança genética é fruto do passado, nós a recebemos. O presente é o instante vivido, é o momento em que decidimos o que fazer com tudo isso que recebemos. No fundo é o que existe. O passado está no presente na forma do já vivido, do já ter sido. O futuro ainda não existe, é a projeção do que seremos com base nas escolhas que estamos fazendo agora. O futuro é reunião de esperanças, de projetos, de sonhos, de possíveis. Não temos garantias de como ele será, mas vamos vislumbrando o que as coisas vão se tornando com alguma antecedência. O homem não é o que é se não considera as instâncias que o tecem. A consciência histórica ensinou-nos que não se pode dispensar nenhum dos aspectos do tecido que nos forma.
No que se refere ao patrimônio construído sua preservação segue a mesma lógica da vida. A sociedade não pode parar de desenvolver, o problema é saber o tipo de desenvolvimento que escolheremos. São João não está impedida de crescer. Novas regiões são e serão construídas. A questão é outra. Que crescimento queremos ter? Esse crescimento precisa ser pensado, planejado. Podemos continuar crescendo sem áreas verdes, ocupando encostas e várzeas dos rios, sem preocupar com o zoneamento urbano, sem plano diretor, sem cuidar das áreas permeáveis, com as pessoas destruindo e construindo de forma clandestina? O aquecimento global, a intensificação das chuvas, o caos do trânsito, a violência urbana, a piora na qualidade de vida estão nos obrigando a repensar esse modelo de desenvolvimento. Não é possível que cada cidadão faça o que lhe der na cabeça enquanto o poder público se omite. O que também não precisamos é destruir as partes mais antigas da cidade por conta da necessidade de desenvolver. As mais lindas capitais européias como Paris, Praga, Lisboa, Roma, Londres, etc. estão aí para nos dizer que não precisamos destruir o antigo. Por outro lado, mesmo a população das áreas antigas pode ter internet, televisão de LCD, merece ter esgoto tratado, água de qualidade, ruas bem varridas, tratamento médico de alta qualidade, etc. Isto é, tudo o que as novas tecnologias e a ciência de hoje produzirem, tudo o que o progresso econômico gerar pode entrar no quotidiano dessas pessoas. Não é preciso renunciar a nenhum benefício do progresso porque se vive numa área antiga.
A preservação do patrimônio histórico de nossa cidade e da região é um desafio que o país e a humanidade nos pedem para enfrentar. Podemos preservar sem abrir mão de viver o nosso tempo. Esse desafio só será vencido se organizarmos o caos urbano e planejarmos o desenvolvimento. O desafio que temos é: o que fazer do futuro com o passado que temos?
José Mauricio de Carvalho – Departamento de Filosofia da UFSJ-Universidade Federal de SJDR
O desafio da preservação tem gerado discussões intermináveis sobre o que fazer do futuro que devemos construir. O problema parece mal colocado porque expressa um antagonismo entre preservação e desenvolvimento. Parece que quem defende a preservação é contra o desenvolvimento e vice-versa. Colocar assim o problema é colocá-lo mal. Preservar e desenvolver são partes do mesmo desafio.
Por que não há incompatibilidade entre o desenvolvimento e o cuidado com o patrimônio material e imaterial? Porque o passado e o futuro são instâncias do tecido que nos forma. Somos históricos, criaturas do tempo. O passado é de onde surgem as coisas que recebemos, de lá veem nossos costumes, valores, recordações, bens materiais já edificados, etc. Nossa herança genética é fruto do passado, nós a recebemos. O presente é o instante vivido, é o momento em que decidimos o que fazer com tudo isso que recebemos. No fundo é o que existe. O passado está no presente na forma do já vivido, do já ter sido. O futuro ainda não existe, é a projeção do que seremos com base nas escolhas que estamos fazendo agora. O futuro é reunião de esperanças, de projetos, de sonhos, de possíveis. Não temos garantias de como ele será, mas vamos vislumbrando o que as coisas vão se tornando com alguma antecedência. O homem não é o que é se não considera as instâncias que o tecem. A consciência histórica ensinou-nos que não se pode dispensar nenhum dos aspectos do tecido que nos forma.
No que se refere ao patrimônio construído sua preservação segue a mesma lógica da vida. A sociedade não pode parar de desenvolver, o problema é saber o tipo de desenvolvimento que escolheremos. São João não está impedida de crescer. Novas regiões são e serão construídas. A questão é outra. Que crescimento queremos ter? Esse crescimento precisa ser pensado, planejado. Podemos continuar crescendo sem áreas verdes, ocupando encostas e várzeas dos rios, sem preocupar com o zoneamento urbano, sem plano diretor, sem cuidar das áreas permeáveis, com as pessoas destruindo e construindo de forma clandestina? O aquecimento global, a intensificação das chuvas, o caos do trânsito, a violência urbana, a piora na qualidade de vida estão nos obrigando a repensar esse modelo de desenvolvimento. Não é possível que cada cidadão faça o que lhe der na cabeça enquanto o poder público se omite. O que também não precisamos é destruir as partes mais antigas da cidade por conta da necessidade de desenvolver. As mais lindas capitais européias como Paris, Praga, Lisboa, Roma, Londres, etc. estão aí para nos dizer que não precisamos destruir o antigo. Por outro lado, mesmo a população das áreas antigas pode ter internet, televisão de LCD, merece ter esgoto tratado, água de qualidade, ruas bem varridas, tratamento médico de alta qualidade, etc. Isto é, tudo o que as novas tecnologias e a ciência de hoje produzirem, tudo o que o progresso econômico gerar pode entrar no quotidiano dessas pessoas. Não é preciso renunciar a nenhum benefício do progresso porque se vive numa área antiga.
A preservação do patrimônio histórico de nossa cidade e da região é um desafio que o país e a humanidade nos pedem para enfrentar. Podemos preservar sem abrir mão de viver o nosso tempo. Esse desafio só será vencido se organizarmos o caos urbano e planejarmos o desenvolvimento. O desafio que temos é: o que fazer do futuro com o passado que temos?
José Mauricio de Carvalho – Departamento de Filosofia da UFSJ-Universidade Federal de SJDR