a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

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Fazendas do Sul de Minas - arquitetura rural nos séculos XVIII e XIX . Cícero Cruz

Descrição

De volta à casa grande
Setenta fazendas dos séculos 17 e 18 do Sul de Minas dão o tom histórico ao livro que será lançado este mês pelo arquiteto Cícero Cruz

Texto: Fernando Torres | Fotos: Divulgação / Robson Regato

FAZENDA DA BARRA, na serra da Mantiqueira: rota de transporte não oficial do ouro

De repente, entre a passagem do século 17 e 18, milhares de portugueses invadem as Minas Gerais em busca de ouro. Pouco a pouco, o desbravamento e a povoação do território formam uma rede de caminhos entre as vilas e a costa brasileira. Fazendas são erguidas às margens das trilhas, especialmente no sul do estado. A mudança da capital do vice-reino de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, e a vinda da família real para o Brasil, em 1808, aceleram esse processo e fortalecem o poder econômico dos fazendeiros mineiros. Não por acaso, o século 19 assiste à intensa proliferação de propriedades autônomas, que, com o fim do ciclo do ouro, tornam-se responsáveis pelo abastecimento das cidades.

A história desses núcleos rurais, símbolos da mineiridade, é resgatada no livro Fazendas do Sul de Minas Gerais, do arquiteto Cícero Ferraz Cruz, natural de Varginha. Resultado de 10 anos de estudo, a obra revela que, ao contrário das fazendas paulistas, a produção mineira não se concentrava na cafeicultura – era bem mais diversificada. “Inicialmente, a pecuária constituiu a principal atividade. Em seguida, vieram cana-de-açúcar, milho, arroz, feijão, fumo e, só então, o café”, diz Cícero.

CÍCERO CRUZ: visita a mais de cem fazendas
CÍCERO CRUZ: visita a mais de cem fazendas

Mas, embora os produtos fossem variados, a arquitetura das fazendas seguia linhas uniformes. A maior parte delas, por exemplo, utiliza a técnica construtiva conhecida como gaiola de madeira. “As paredes são erguidas em torno de armação parecida com uma gaiola”, explica o autor. Apesar de receber influência da gaiola pombalina – método desenvolvido pelo Marquês de Pombal após o terremoto de Lisboa, em 1755 –, a técnica ganhou vida própria em Minas, graças à qualidade das madeiras brasileiras.

Para compor o livro, patrocinado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Cícero visitou mais de cem fazendas, das quais pelo menos 70 foram incluídas. Entre elas, algumas ganham destaque. Originária do século 18, a Fazenda da Barra, em Delfim Moreira, está encravada na serra da Mantiqueira, próxima aos rios Sapucaí e Verde. “Além de suas características físicas serem típicas do período, ela se localiza em um descaminho, rota não oficial do ouro, traçada pelos mineradores para fugir do fisco”, diz Cícero. Já a Fazenda do Mato, em Três Pontas, representa a evolução das construções no século 19, com a planta em L. “A casa impressiona pelo bom estado de preservação, com piso, paredes e armários intactos.”

FRASE: "A produção mineira era diversificada" - Cícero Cruz

Interior de outra típica fazenda do Sul de Minas
Interior de outra típica fazenda do Sul de Minas

A propósito, a conservação das fazendas do Sul de Minas é muito variável. Cícero relata que, enquanto algumas estão praticamente derrubadas, outras sofreram intervenções que as descaracterizam. Há também aquelas bem restauradas. “Considero que as fazendas em estado ideal são aquelas que tiveram manutenção ao longo do tempo.” Em muitas delas, ainda há moradores, apesar de não constituir a residência principal da família. Mas isso não impede que, com jeitinho, o visitante encontre café passado na hora ou uma tacinha de licor caseiro de jabuticaba. Tudo servido com a histórica hospitalidade mineira.

Contato: Cícero Ferraz Cruz . ciceroferrazcruz@gmail.com
Fonte: http://www.revistaviverbrasil.com.br/51/materias/01/livro/de-volta-a-casa-grande/
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