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Reflexões sobre a cultura brasileira . José Maurício de Carvalho
Descrição
A terceira edição de Desenvolvimento e Cultura (publicado pela Fundação Alexandre de Gusmão de Brasília) recoloca no cenário cultural brasileiro o belo livro de Mário Vieira de Mello Com ele o autor pretende esclarecer os fundamentos da cultura brasileira, atribuindo nossos problemas à ausência de discussão ética, obscurecida pelo esteticismo romântico herdado da França. O livro é organizado em oito capítulos nos quais aborda vários aspectos da cultura brasileira. Há questões sociológicas, literárias, políticas, além das filosóficas. Sua tese principal é a incompatibilidade entre o esteticismo vindo da Renascença italiana via romantismo francês e os valores propostos na Reforma protestante. No quinto capítulo é que este tema será aprofundado. Nele investiga as contradições e os problemas da modernidade. Aí aprofundará questões filosóficas como verdade e erro e bem e mal. Observa que nações produtoras de ideias como Inglaterra, França, Itália e Alemanha encontram-se atualmente confusas com sua própria evolução intelectual. Observa ainda que certas tradições não se formam no espaço restrito do nacionalismo lembrando que: há racionalistas que não são franceses, estetas do belo que não são italianos, empiristas que não são ingleses, etc. Na tentativa de entender a raiz da crise atual presente nas filosofias moderna e contemporânea vai buscá-la na incompatibilidade entre o ideal italiano de beleza autônoma e a cultura ético-religiosa inaugurada pela reforma protestante e articulada no romantismo. Afirmou: “Quando no século XIX o espírito estetizante do Renascimento italiano se fez sentir em toda a Europa, através da enorme influência do romantismo, tornou-se de uma evidência inescapável o fato de que a imagem de Deus e a ideia de bem haviam sofrido uma perda extremamente séria e que agora a sua autoridade era ignorada” (p. 161). Esta perda é a raiz última da crise hodierna. O livro de Mario Vieira de Melo aborda aspectos importantes para o estudo da cultura brasileira. Quais destacar? De início a compreensão dos problemas decorrentes da visão romântica do bom selvagem concebida por Rousseau e sua proposta de evitar a interpretação terceiro-mundista do desenvolvimento brasileiro nascida do marxismo. Também é importante a preocupação do autor em associar o progresso econômico com uma visão ampla de cultura, bem como a necessidade de repensar as questões éticas no Brasil de hoje, aspectos que propôs no capítulo quarto. No capítulo quinto ele reduz a influência européia no Brasil às ideias românticas do século XIX, não considerando a amplitude de nosso diálogo com outras tradições filosóficas, esta é uma dificuldade de sua análise. Há outro problema: a avaliação da renascença portuguesa que o autor entende inexistente. Além disto, o pombalismo (século XVIII) não se explica, como sugere o autor, por uma adesão acrítica à cultura francesa. O movimento parece ser uma revisão do chamado segundo período do contra-reformismo lusitano (século XVII) e do estreitamento do debate ético ao combate à riqueza e redução do sexo à sua função reprodutiva. A aproximação do romantismo francês no Brasil do século XIX foi, assim nos parece, um esforço para o país se afastar da influência portuguesa nos momentos iniciais da sua independência política. No último capítulo o autor não só superestima a destruição da moral católica pelo romantismo francês, porque o tradicionalismo é romântico e é herdeiro da moralidade católica, como desconhece o impacto decorrente da escola culturalista. No seio dela há a superação do estreitamento moral do contra-reformismo e da moral frouxa do romantismo. Contudo, o entendimento de uma crise de valores que marca o pensamento europeu no século XX nos parece um bom ponto de partida para entender as dificuldades atuais de nosso país.
José Mauricio de Carvalho . Filósofo e Psicólogo . Departamento de Filosofia da UFSJ
José Mauricio de Carvalho . Filósofo e Psicólogo . Departamento de Filosofia da UFSJ