a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

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Velhos tempos . Jota Dangelo

Descrição

A gente saía cedo de casa porque o campo do Athletic parecia que ficava em outro estado, outra cidade. E talvez ficasse mesmo: em Matosinhos. E não havia dinheiro para condução. Para quem ia no dedão, era longe. Íamos a pé mesmo, devagar e sempre, beirando o córrego do Lenheiro e observando os urubus que revoavam na região. E eram muitos. O Cortume Tortoriello ficava nas proximidades do campo do Athletic. Era um cheiro horrível, competindo com o que exalava do próprio riacho, também empestado pelos detritos despejados pelos esgotos das redondezas. Os urubus desapareceram, já que o Cortume acabou, mas até hoje temos problemas sanitários por ali.

Era dia de clássico, Athletic e Minas. E nós, athleticanos, obedecendo ao chamado dramático do Dr. Garcia de Lima, de Pedro de Souza, do Coqueiro, tínhamos que comparecer ao estádio do alvinegro para torcer e empurrar o time. Teria sido por esta razão que acabei como torcedor também do Botafogo? Por causa das cores do Athletic? É possível. Mas não pendi para o Atlético de Belo Horizonte, nem para o Cruzeiro, nem para o América. Para nenhum outro time, na verdade. Porque, simplesmente, ninguém sabia, naquela época, que estes times existiam na capital mineira. Só se conseguia escutar, no rádio, uma emissora: a Rádio Nacional, com suas transmissões do campeonato carioca de futebol. Por esta razão, a maioria da minha geração era Athletic ou Minas, em São João del Rei, e, no Rio, Botafogo, Flamengo, Vasco ou Fluminense. E ponto final. S. Paulo era como se estivesse do outro lado do mundo, em matéria de futebol.

Íamos para o campo do Athletic com a fúria sagrada dos torcedores fanáticos, dos que são possuídos pela inconseqüência dos 15, 16 anos, quando se pensa que um jogo de futebol é uma questão de vida ou morte, mais ainda naqueles tempos de amadorismo, nos quais era inconcebível ter, no seu time, um jogador que, de coração, fosse torcedor de uma outra agremiação. Os tempos mudaram. O futebol hoje é um negócio, pelo menos para os jogadores: vale a melhor oferta, o coração não tem a menor importância.

Aboletávamos na arquibancada, sob os bambuzais, dispostos a esguelar até à rouquidão e à afonia: "Esquirrum, esquirrá, o Athletic vai ganhar; Esquirrum, esquirrá, Waldemarzinho vai centrar; Esquirrum, esquirrá, e o Dunga vai chutar; Esquirrum, esquirrá, e a bola vai entrar; Esquirrum, esquirrá, mais um gol lá no placar!" Velhos tempos de muita rivalidade, de ídolos que cultivávamos como se fossem os melhores jogadores do mundo: Reinaldo, Dunga e Waldemarzinho no Athletic; Santão e Sabino, no Minas. Sem contar o entusiasmo incontido do Dr. Garcia de Lima, o eterno presidente do Athletic, tão torcedor como qualquer um de nós, pronto às comemorações, na vitória, e às lamentações, na derrota nunca aceita de todo. Às vezes me pergunto: por que será que tudo isto acabou? Ou quem sabe é assim mesmo: tudo tem o seu tempo e, como nós mesmos, muda, se altera e acaba por desaparecer?

Fonte: Gazeta de São João del-Rei

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