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Se meu jardim der flores . Artur Cláudio da Costa Moreira

Descrição

Tenho aqui, diante de mim, na tela do computador, fotos da São João dei-Rei antiga, abrangendo os dois últimos séculos. Onde os fotógrafos felizes eternizaram nossas praças, não consigo ver, nenhum jardim que não tivesse flores. Elas são tão importantes na vida das pessoas que, em épocas importantes, Dia das Mães, dos Namorados, casamentos e outras mais sempre são dadas em sinal de amor fraterno ou outro que venha ser mais profundo.
As canções as exaltam, como na bela Se meu Jardim Der Flor, cantada por Tadeu Franco, de autoria de dois letristas de alta estirpe Zé Renato / Xico Chaves: “Se meu jardim der flor/Colore minha saudade//No meio dessa cidade/Que a manhã clareou/Virá um beija-flor/Aqui, ali sem pousar..” ou então na bela canção dos Titãs, Os Cegos do Castelo, “... Euvou cuidar/Do seujardim/Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele..”, que gosto muito de ouvir na voz de meu amigo Ronaldo Cardoso, o Ronaldo Vu. Tantas outras há por aí.
Outro dia, vi em uma reportagem no Jornal Hoje, que falava do cuidado que os moradores de Nova Iorque têm para com seus jardins. Cuidam deles como se de suas próprias casas fossem. A municipalidade lá fornece muitos insumos, os habitantes, as flores, com o intuito claro de tornar a cidade mais bonita.
Hoje, quando abri o UOL, a primeira notícia que vejo é esta “O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico) tombou os jardins da orla de Santos (no litoral de São Paulo) durante uma reunião realizada no dia 28 de junho. O tombamento ainda não foi publicado no ‘Diário Oficial’”.
Bem, parece que aqui na terra onde os sinos falam anda-se na contramão de tudo. Como a reforma dos jardins da Avenida Presidente Tancredo Neves, parece que tomou assalto as ideias de supostos paisagistas de que jardins só precisam de grama e árvores qüe não dão flores e sombra. Cortaram árvores e sumiram com as flores. Está certo que reconstruíram a fonte, mas onde estão as flores?
Depois, após nosso abatimento com a queda das palmeiras impêriais do Largo de São Francisco e uma demora sem fim de arrumação, brindaram a população da cidade com um pavoroso jardim, sem flores. Ali existiam roseiras, margaridas e outras espécies que davam uma contra cor ao verde contínuo da grama. Ainda que force minha memória -já lá não tão boa -, não me recordo de época qualquer em que os jardins de São João estivessem sem flores e rosas, margaridas que, muitas vezes, eram colhidas à socapa para dá-las à namorada ou para um bem-me-quer-mal-me-quer.
Todas as pessoas que a mim chegam, perguntam o que fizeram ali naquele jardim. Ele precisava de cuidados, sim, mas não de ser extinto.
Na primeira reforma em larga escala dos jardins da cidade, subiram pequenos muros, para que a população sem educação neles não pisasse e até os utilizassem como bancos (alguns foram cobertos por cimento, não sei para quê). A intenção foi boa. O resultado, nem tanto. Mas durou, embora largados à sua própria sorte.
Em outros lugares, vimos o pessoal do entorno das praças arrogarem a si o apadrinhamento delas e como ficaram bonitas sob seus cuidados. Largo da Cruz, das Mercês, praça Dr. Salatiel, são belos exemplos.
Nesta segunda reforma, ampla, geral e irrestrita os muros foram postos ao chão (dinheiro público sendo jogado fora, de novo), as flores foram lançadas ao lixo ou aterros, as árvores estão sendo enforcadas - segundo um amigo meu, engenheiro agrônomo, existe um limite certo para se colocar terra, se não ocorre um asfixiamento delas. Não sei o que pretendem com esta reforma. Poupar dinheiro público, já que a jardinagem se tomaria desnecessária? Sei lá!
A reforma da praça de Matosinhos brindou os moradores com concreto. Nada de flores e árvores.
Há o costume secular do corte de árvores e sua não reposição. Quem não se lembra dos belos flamboyants da pracinha em frente ao Maria Teresa e da Rua Cristóvão Colombo. Como ficavam lindos na jrimavera!
Será que as pessoas, além de se esquecerem da poesia da vida, já se esqueceram da poesias das flores?
Será que nós são-joanenses só viveremos das lembranças do que aqui tínhamos?
Espero que não! Que nossos jardins, deem flores!

Artur Cláudio da Costa Moreira . Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e da SAB

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 17/07/2010
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