a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

José Bombeiro . Francisco José dos Santos Braga

Descrição


Sr. José Bombeiro no  Carnaval de antigamente 2006 . Ft Alzira Agostini Haddad

José Estêvão do Carmo (26/12/1947-15/06/2010) era o quinto filho de Benedito Espírito Santo do Carmo (trompetista da Banda de Santa Cecília, sediada no Morro da Forca, e compositor, autor da melodia que deu origem à Marcha Fúnebre “Virgínia”) e Lindalva Lopes do Carmo, que tiveram, além dele, os seguintes filhos em ordem cronológica: Teresa, Etevaldo (falecido), Mercês, Aparecida (falecida), Júlia (residente em Madre de Deus) e Felipe (“Ninico”), residente em Barra do Piraí-RJ.
Meu biografado teve, com sua esposa Mercês Carvalho do Carmo, os seguintes filhos: Luciano Trindade do Carmo (grande clarinetista e informante de dados para esta notícia), Lindalva, Patrícia, Lourdes, Aparecida e Alessandra.
Deixou os seguintes netos que muito amava: Lucas (que promete ser excelente tubista), Isabella (que o avô ainda pretendia introduzir na banda), Adrian, Wesley e Maria Emanuella, essa última nascida em 19 de março, dia de São José.
Além de Zé Bombeiro, devido à sua profissão, ele costumava ser chamado de Zé Combate ou Zé Combatão, apelidos que bem exprimem seu caráter e a pessoa de fibra que era para todos os que o conhecemos. É bem provável que esses apelidos que lembram denodo e guerra tenham se impregnado no seu caráter ao longo de sua vida. Mas relatou-me sua irmã Júlia que, na verdade, Zé Combate, no seu primeiro emprego na Padaria Nossa Senhora do Carmo, costumava ingerir muitos pães-combate, para desespero de seu proprietário Sr. Geraldo. Daí o apelido que o acompanhou pelo resto da vida.
Esse pão-combate é chamado diferentemente em outras regiões do País: no Rio o chamam de pão careca, em Divinópolis de pão sovado, e assim por diante.
“Julinha, um dia você vai ver: meu nome ainda vai sair no jornal”, assim dizia à sua irmã querida, seguro de que o que realizava beneficiava a comunidade e beneficiaria os pósteros.
Suas paixões sempre foram a UFSJ e a BTF-Banda Theodoro de Faria.
Na UFSJ, foi funcionário exemplar, querido por todos os funcionários, acostumados a seu jeito bonachão e característico, sempre arrastando os chinelos para atender aos mais diferentes chamados das gerências.
1968: minha irmã Celina Maria Braga Campos, então solteira, apresentou a seguinte sugestão a Júlio Teixeira, Diretor da Fundação Universitária Municipal de São João del-Rei: de contratar-se o conhecido bombeiro hidráulico José Estêvão do Carmo, com larga experiência. O Diretor levou ao conhecimento do Marechal Cyro do Espírito Santo Cardoso, que prontamente aquiesceu.
A partir de então e através de todas as transformações por que passou a Fundação até atingir o “status” de Universidade Federal, o Zé Bombeiro desempenhou regularmente suas obrigações, conquistando todos por sua simpatia e bonomia.
Na Banda Theodoro de Faria, foi Presidente em diversas ocasiões.
Foi ele quem reestruturou a Semana da Música (semana em que ocorre o Dia de Santa Cecília, 22 de novembro), que já faz parte do calendário musical de nossa terra. Recentemente comentava que a edição da Semana da Música de 2006, de todas, tinha sido a de seu maior agrado, já que conseguira mobilizar toda a comunidade musical da cidade: as duas orquestras centenárias, a Sinfônica, o Conservatório, corais, cameratas, grupo de choro e bandas civis e militares. Mesmo nas ocasiões que não estava ocupando a Presidência da Banda Theodoro de Faria (por exemplo, atualmente a preside o Sr. Juanito André do Sacramento), o Zé Bombeiro lá estava para atuar ativamente conseguindo adesão de todos os parceiros e somando forças para que o resultado fosse o melhor possível. Para consecução desse objetivo, não poupava esforços. Se precisasse, recorria diretamente ao gabinete do Governador Aécio, especialmente nos pleitos musicais para São João del-Rei e região, mantendo canal direto com Andréa Neves da Cunha, a coordenadora do Grupo Técnico de Comunicação do Governo mineiro, para ver atendidas suas reivindicações em benefício das bandas locais e vizinhas, buscando equipá-las de instrumentos novos e outros recursos.
Uma atividade pela qual nutria especial carinho era ajudar na distribuição de agendas culturais produzidas e comercializadas por Alzira Agostini Haddad, cuja arrecadação é toda direcionada a ações beneficentes. Sua parceira Alzira, desolada com a sua morte pré-matura, o tem na conta de parceiro fiel. Em suas palavras: “(…) o nosso grande ator sócio-cultural e mestre, o Sr. José Bombeiro. Deixou muitos amigos, saudades.”
A morte o encontrou ativo e cheio de vigor. No dia 13 de junho, atuou como musicista na procissão em honra de Santo Antônio e na véspera de seu falecimento brincou e dançou calorosamente com sua netinha nos braços.
Do cortejo fúnebre ficaram estampadas em minh’ alma as seguintes impressões:
A Banda Theodoro de Faria — uma de suas paixões — tocou em sua homenagem duas Marchas Fúnebres até a Igreja de Nossa Senhora das Mercês.
A Missa de Réquiem do Pe. José Maria Xavier foi executada pela Orquestra Ribeiro Bastos, sob a batuta competente de sua maestrina Maria Stella Neves Valle.
Após a missa de corpo presente celebrada por Pe. Ramiro José Gregório, o corpo de Zé Bombeiro foi conduzido ao cemitério das Mercês ao som dos acordes e notas dolentes de sua preferida Marcha Fúnebre “Virgínia”, composição de seu pai, com harmonização e orquestração de José Lino de Oliveira França (1893-1952). (Consta que foi composta por Benedito Espírito Santo do Carmo no dia da morte de sua mãe, o qual a homenageou da seguinte forma: entrando num quarto com muito pesar e dor, de lá saiu meia hora depois com a partitura da melodia que chamou de “Virgínia”.)
No cemitério, ainda se apresentou um grupo de sopros da Banda Theodoro de Faria, que Zé Bombeiro carinhosamente chamava de “Família BTF”, finalizando com um arranjo da conhecida peça “Amigos para Sempre” de Andrew Lloyd Webber.
Ouviu-se ainda elogio fúnebre na voz do Reitor da UFSJ Helvécio Luiz Reis, do Presidente da Banda Juanito André do Sacramento e do seu sobrinho Raimundo.
Zé Bombeiro viveu intensamente seus 62 anos que lhe foram concedidos nesta terra. Era padrinho do time do Guarda-Mor, encontrava-se toda tarde com amigos para uma partida de truco, era amante da dança, pé-de-valsa, boêmio e flamenguista “doente”. Faleceu no dia da estreia do Brasil na Copa.
Antes de escrever esta matéria, encontrei-me com seu filho Luciano, em busca de dados, o qual me confidenciou que ele sempre anunciava minha chegada com entusiasmo: “Meu amigo de Brasília chegou!” E lá passávamos horas e horas em nosso assunto predileto: bandas.
O que falta ainda dizer sobre meu amigo Zé Bombeiro? Talvez tenha ficado algo inconcluso em sua vida: a sua busca incessante, mas sem sucesso, pelas partituras manuscritas de autoria de seu pai Benedito (1906-1984), em sua passagem pelas bandas onde trabalhou nas cidades de Ibertioga e Ibituruna. Consta que Benedito teria composto, pelo menos, algumas Marchas, um Hino à Nossa Senhora Aparecida e um dobrado “Francisco Braga”, dedicado a mim. Também acho que Zé Bombeiro teve uma frustração na vida ou um sonho não concretizado que eu deixei estampado num ensaio que escrevi e levei ao site São João del-Rei Transparente:
“(…) acompanhado do musicista Sr. José Estêvão do Carmo, dirigi-me a Ibituruna e constatei o péssimo estado de conservação do acervo da banda local, tendo recomendado à UFSJ-Universidade Federal de São João del-Rei a criação de um Museu Bandas de Música das Vertentes para acondicionamento, arquivo e digitalização das partituras que se encontram nas respectivas sedes em processo de decomposição.” (http://www.saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/50)
Será que devo dizer tudo? Vá lá então: ele queria que esse Museu tivesse o nome de seu pai.

Francisco José dos Santos Braga . compositor e pianista, bacharel em Letras pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, bacharel em Música (Composição) pela UnB, mestre em Administração de Empresas pela FGV de São Paulo e membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 26/06/2010
Francisco José dos Santos Braga é membro da Associação Amigos de São João del-Rei
Cadastre lideranças engajadas, sua ação sociocultural, seu projeto, produto, entidade, pesquisa, agenda cultural etc - contribua, complemente, atualize, curta e compartilhe!

Compartilhar no Facebook Compartilhar no Instagram Compartilhar no Whatsapp Imprimir

ESSE PORTAL É UM PROJETO VOLUNTÁRIO. NÃO PERTENCE À PREFEITURA MUNICIPAL | CADASTRE GRATUITAMENTE A SUA AÇÃO SÓCIOCULTURAL