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Cidade e Beleza . José Mauricio de Carvalho
Descrição
Muito se escreve sobre a cidade e seus desafios. Há o desafio social representado pela melhoria das condições de vida, há o desafio ecológico que pede um relacionamento mais respeitoso com o ambiente natural (o tratamento dos esgotos, o aumento da área verde, o cuidado com a água, etc.), há o desafio do turismo, há o desafio da civilidade representado pela gentileza nas relações pessoais e no respeito aos bens, o desafio da preservação do patrimônio cultural operacionalizado na manutenção dos bens materiais e imateriais, o desafio da melhoria do ensino, dos serviços de saúde, do transporte, enfim há mesmo muito a ser feito para tornar a cidade um lugar agradável para se viver. São muitos e duros estes desafios. Algumas vezes eles parecem menores para uma cidade como São João quando se observa a quantidade de declarações de amor que recebe. São frases em caminhões, faixas espalhadas no meio dos prédios, propagandas coladas nos automóveis, etc. Infelizmente muito do que é dito é palavrório vazio desacompanhado de qualquer atitude coerente. É um tipo de declaração também comum entre casais imaturos quando frases como eu te amo não traduzem o amor proclamado em atenção, respeito, cuidado, companheirismo, etc. Diante de tantas dificuldades e coisas a organizar fica de lado a preocupação com a beleza, mas cuidar do belo é também um desafio importante. Se existe o desafio ecológico precisamos vencê-lo em praças e ruas bonitas, se temos o desafio social precisamos melhorar as condições de vida dos mais pobres com bairros mais belos e que favoreçam bons serviços públicos, etc. Se há o desafio do turismo é necessário vencê-lo com uma cidade limpa, agradável, e com bons serviços. Enfim, boa parte de nossos desafios convergem para a organização de um espaço urbano que seja também belo. O belo de que falamos refere-se à fruição estética tal como foi pensada a partir do século XVIII, antes a representação do que produzia gosto era matéria da Poética, ciência que cuidava da arte e do que era produzido. Uma cidade bela possui características importantes: a simetria, a perfeição sensível e expressão adequada de seus monumentos. A noção de simetria remonta ao filósofo grego Aristóteles. Foi ele quem tratou a simetria como uma qualidade capaz de ser abraçada no seu conjunto por um só golpe de vista. Um casario simétrico mantém equilíbrio nas suas proporções, na distância das edificações, na forma delas e nas cores que ostentam. Embora possa haver diferentes estilos arquitetônicos numa cidade, a falta de simetria nas edificações não permite uma agradável percepção do conjunto. De modo que harmonizar os diferentes estilos arquitetônicos é desafio de uma cidade que se volta para o turismo e que possui um conjunto arquitetônico com exemplares de vários estilos. A organização simétrica precisa vir completada pelo cuidado com a edificação. Só uma construção bem cuidada, sem intervenções que a descaracterizam, que não perde de vista o conjunto e o movimento dos cheios e vazios que contém pode proporcionar o prazer da admiração. Este prazer nasce da admiração sem palavras, pois ela não tem necessidade de conceitos ou explicações. Finalmente, a adequada expressão do belo completa simetria e harmonia com a expressão da beleza. Para ser belo é preciso que o objeto tenha sido feito com atenção nos detalhes, que atraia para ele o olhar admirado. O que foi dito sugere que as intervenções no espaço urbano precisam vir acompanhadas da preocupação com a beleza para se ter uma cidade melhor para se viver.
José Mauricio de Carvalho . Departamento de Filosofia da UFSJ
Fonte: Tribuna Sanjoanense . 11 a 17 de maio de 2010
José Mauricio de Carvalho . Departamento de Filosofia da UFSJ
Fonte: Tribuna Sanjoanense . 11 a 17 de maio de 2010