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Para a Cera do Santo Sepulcro . Marcelo Álvaro de Souza

Descrição


Matraca é presença marcante durante os cortejos religiosos
Os católicos de nossa cidade têm um antigo e tradicional costume de visitar as igrejas do centro histórico na noite da quinta-feira da Semana Santa. Isso porque cada uma delas, exceto a “Matriz” do Pilar, monta um cenário bíblico ou uma exposição sacra, normalmente na capela-mor, sempre com galhos de arnica e folhas de rosmaninho nos altares laterais e no chão, criando no interior do templo um clima verdadeiramente místico. É exatamente nessa ocasião que se ouve o conhecidíssimo brado “Para a cera do Santo Sepulcro!”, seguido de toque de matraca.
Faz-se isso para chamar a atenção dos visitantes, pedindo-lhes que façam doações em dinheiro.
Recentemente, esse assunto causou-me certa preocupação, porquanto, no ano passado, ao visitar as tais igrejas, só ouvi o tal brado na igreja de São Francisco. Se calarem essas bocas e essas matracas que dão vida ao citado brado, a tradição de nossa Semana Santa estará, lamentavelmente, diminuída. 
Talvez induzido pela certeza de que as doações da Sexta-feira Santa são enviadas obrigatoriamente ao Vaticano, sempre achei que as do dia anterior, conseguidas nas tais visitas, também o fossem, e seriam usadas na compra de velas para iluminação do Santo Sepulcro em Jerusalém na cerimônia do Sábado Santo. Para mim, cera significava vela.
Andei pesquisando para tentar encontrar mais informações a respeito do brado. Comecei, é claro, pela tumba em que Jesus foi posto após morrer na cruz, ou seja, o Santo Sepulcro. Hoje, exatamente naquele local, existe uma suntuosa basílica, talvez o lugar mais sagrado de Jerusalém. Na cerimônia do Sábado Santo, muitas velas são consumidas na iluminação do Santo Sepulcro em Jerusalém. São de cera puríssima, produzida por abelhas, e são de altíssimo custo.
Depois resolvi falar do assunto com um amigo dileto, monsenhor Pedro Terra Filho. Nascido na mineira cidade de Luminárias, veio morar, em tenra idade, acompanhando seus pais, aqui em nossa cidade. Daqui, partiu, ainda menino, para o Seminário de Mariana e, de lá, ao término dos estudos seminarísticos, foi receber as ordens sacras na Cidade Eterna. Por ser detentor de graus acadêmicos de licenciatura em Teologia Dogmática, pela Pontifícia Universidade Gregoriana, e por ser licenciado em Ciências Bíblicas e Orientais, pelo Pontifício Instituto Bíblico, sediado em Roma, é, sem dúvida, uma autoridade eclesiástica de notório saber litúrgico. Aticei-lhe os conhecimentos, dizendo-lhe que eu tinha dúvidas a respeito do brado e dos objetivos das doações. Simplesmente, perguntou-me: “Você sabe para onde é transladado o Santíssimo Sacramento, logo após a missa solene da Ceia do Senhor?”. Respondi-lhe: “Para a Capela do Santíssimo!”. Continuou: “Onde o Santíssimo Sacramento é colocado?”. Dei uma titubeada e respondi: “Não sei!”. Fiquei surpreso ao ouvir o que ele disse, porque eu nunca ouvira isso de ninguém: “No sepulcro!”.
O culto monsenhor falou-me de uma obra denominada Arte Nella Chiesa, do arquiteto italiano Angelo Raule, onde há referências abalizadas a respeito desse sepulcro. E resumiu para mim uma afirmação de Raule: “Sepulcro é o lugar onde se coloca o Santíssimo Sacramento depois da Quinta-feira Santa”. E arrematou o monsenhor, que traz São João del-Rei no coração: “Desde o século 18, após a Missa da Ceia do Senhor, o Santíssimo Sacramento é transladado para sua capela na Catedral do Pilar, em tocante procissão, e é depositado no sepulcro, onde fica até a hora da Sagrada Comunhão no dia seguinte. Fica iluminado por velas de cera puríssima, que são, também aqui, muito caras”.
Depois de tudo isso, concluí que as tais doações ficam por aqui mesmo, para aquisição dessas velas. Quanto ao brado, ainda vou descobrir de onde veio e o que realmente significa. Desconfio que ele só seja dado aqui em São João. Por fim, um apelo às irmandades e confrarias. Que os irmãos, usando hábitos e opas, com matracas às mãos, bradem o “Para a cera do Santo Sepulcro” nas portas de todas as igrejas do centro histórico na noite das visitações!

Marcelo Álvaro de Souza é são-joanense e reside em Belo Horizonte; escritor, músico e coronel reformado do exército
Fonte: Site Semana Santa 2010 . São João del-Rei

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