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Historiadores descobrem imagens do século XVII . Peças se encontram em igreja de Lagoa Dourada Minas Gerais

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Construída no final do século XIX, a igreja de Santo Antônio, no município de Lagoa Dourada, guarda preciosidades originadas no século XVII que hoje ainda são pouco conhecidas. Através de pesquisa no acervo da paróquia, os historiadores e restauradores Edmilson Barreto Marques e Carlos Magno Araújo encontraram documentação que comprova a presença de um escultor antecessor de Aleijadinho, na região do Campo das Vertentes. O artista que teria vivido nos arredores de São João del-Rei entre os séculos XVII e XVIII ainda não tem sua real identidade descoberta e é conhecido na região por Mestre de Lagoa Dourada.
Araújo afirma que a descoberta das obras foi uma surpresa para os restauradores. “Na verdade esse artista nós descobrimos meio por acaso quando fomos convidados pelo padre para fazermos a conservação do acervo que ele mantinha guardado na casa paroquial”. Araújo explica ainda, que ao começarem o trabalho, os restauradores descobriram semelhanças com peças existentes em outras igrejas de Minas Gerais. “Quando viemos trabalhar na restauração das peças nós reparamos que já tínhamos trabalhado com algumas imagens muito parecidas. A partir daí, começamos a agrupar e a perceber que tinham sido feitas realmente por um único artista”. Marques explicou que são poucos os dados sobre o escultor. “Ainda não temos muita coisa, o que sabemos é que ele antecedeu todos os mestres do barroco, sejam eles portugueses ou brasileiros”, concluiu.
“Ele certamente veio para a região das minas com os bandeirantes. Acredito que esse artista tenha trabalhado aqui ainda no final do século XVII. Provavelmente estamos falando de um dos santeiros mais antigos de Minas Gerais”, comemorou Araújo.
A semelhança é perceptível entre a maioria das peças do acervo. De acordo com os restauradores, detalhes como os traços do rosto, cabelo e vestes são peculiares ao Mestre de Lagoa Dourada: “As imagens têm um tratamento muito rígido das linhas, as roupas são sempre com dobras verticais, o planejamento, que seria o restante dos panos, também cai de forma muito antinatural. No tratamento dos cabelos, dos olhos e das bocas percebemos que se trata de um único artista”, analisou o restaurador.
Cerca de 20 imagens foram catalogadas até agora. A maioria das obras está na cidade, mas há registros de existência de peças também em municípios das Vertentes. “Já descobrimos obras desse artista em outras localidades como São Tomé das Letras, Congonhas, Ouro Branco, Prados e Resende Costa”, afirmou Araújo.
Parte das peças que formam o acervo Igreja de Santo Antônio, em Lagoa Dourada, é composta por imagens pertencentes à igreja de Nossa Senhora das Mercedes, que foi demolida. No final da década de 90, as peças que hoje estão na matriz foram guardadas para evitar que fossem roubadas. “Por volta de 1998 elas foram retiradas de todos os altares e guardadas em função da série de roubos que estavam acontecendo nas igrejas”, explicou Pe. José Walter S. de Carvalho, pároco da Igreja de Santo Antônio.
Os restauradores acreditam que o principal motivo pelo qual as peças passaram despercebidas ao longo dos últimos anos foi a dificuldade de acesso. “A região de Ouro Preto e Mariana sempre foi mais estudada do que a região de São João, aqui no Campo das Vertentes. Além disso, algumas dessas imagens se encontravam em capelas rurais ou em igrejas fechadas”, explicou Marques. “Provavelmente muitas pessoas de Lagoa Dourada não sabem da existência dessas imagens”, complementou Magno.
Dentre as principais descobertas relacionadas às obras, está o período em que foram feitas. Os pesquisadores defendem que a partir dos documentos existentes na igreja é possível acreditar que obras do artista tenham influenciado o barroco. “Inicialmente nós achamos que era um artista mais rústico do início do século XIX, por apresentar em suas obras algumas características neoclássicas. Mas tivemos acesso a documentos que comprovam que essas peças são muito mais antigas, o que nos levou a crer que o Mestre de Lagoa Dourada, ao invés de ser um artista pós-barroco, na verdade ele antecedeu o barroco”, afirmou Araújo.
Padre Walter comemora a descoberta. Para o sacerdote, as peças conferem importância histórica à região. “Ele é totalmente desvinculado das escolas européias. É um trabalho muito primitivo e que revela também uma certa beleza, um certo planejamento em esculpir uma imagem que é para a devoção da comunidade, para o ornamento dos altares. Além disso, dá uma importância histórica à região”.
A estimativa é de que o número de peças creditadas ao Mestre de Lagoa Dourada cresça. Os restauradores pretendem continuar as pesquisas sobre o artista e as obras. A dupla se empenha agora na tentativa de tombamento do acervo para facilitar a aquisição de recursos para a restauração das peças.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei 23/01/2010

Mais informações
Cajuru e Correa Pais - A Descoberta de Dois Mestres das Minas Setecentistas
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