Tentando recuperar mais de sete mil quilômetros perdidos desde 1940, e certos da importância do trem, ferroviários reúnem-se em São João em maio
Marcando os 150 anos da ferrovia no Brasil, São João del-Rei sedia, de 6 a 8 de maio, o 5º Seminário Nacional de Preservação Ferroviária. Percorrendo os trilhos do passado, o seminário pretende discutir a preservação e olhar para o futuro ferroviário do país. O gerente do complexo turístico ferroviário de São João, Berenício Donizetti Carvalho, diz que o seminário “é importante para discutir as últimas notícias e o retorno das atividades dos trens de passageiros no Brasil”. As inscrições para o evento custarão R$15,00 para estudantes e associados do Movimento de Preservação Ferroviário (MPF) e R$30,00 para os demais participantes. O seminário é promovido pela MPF e pela Associação Brasileira de Trens Turísticos Culturais (ABOTTC).
De acordo com Berenício, São João "abriga o maior complexo com locomotiva a vapor do Brasil, e é a única ferrovia do mundo que usa o sistema com cada trilho separado a uma distância de 76 centímetros. Esse diferencial baixou o custo da construção”. A Estrada de Ferro Oeste de Minas, inaugurada em agosto de 1881, lembra Berenício, "nasceu a leste com nome de Oeste para desbravar esta região, que realmente cresceu. No início surgiu uma vila com o nome de Arraial do Divino, hoje Divinópolis”. Os vagões que trilhavam do município de Antônio Carlos a São João del-Rei 72 quilômetros, hoje percorrem apenas doze quilômetros e 700 metros, de São João a Tiradentes. São João possuía uma linha que fazia o trajeto até as Águas Santas, mas que foi interrompido. Berenício disse que "se for interesse do governo restaurar o trajeto a Estação local administraria, mas os custos são muito altos".
Com 28 mil quilômetros atuais de trilhos, locomotivas já cortaram 35 mil quilômetros de terra até o ano de 1940. Berenício disse que essa desativação ocorreu em função de “o traçado e perfil dos trilhos serem muito ultrapassados e os trechos, deficitários. Seria mais fácil à integração nacional se houvessem mais locomotivas circulando, mas para que haja mais trens é necessário evoluir o traçado das ferrovias para deixar o transporte mais rápido, o que possibilita concorrer com as rodovias”.
A estação ferroviária são-joanense, diz Berenício, recebe em média mil turistas nos finais de semana, e “procura mostrar aos visitantes o costume do passado e a importância de preservar esse tipo de transporte para o país. Minha família toda trabalhava em ferrovia. Como meu pai era agente ferroviário, minha casa era dentro da estação, e foi lá que nasci. Por isso eu sei da importância do trem. Meu sangue não corre por veias, corre por trilhos. O trem nunca sai da mesma forma”.
A turista juiz-forana Angélica Correia Cladi Bellotdi trouxe na sexta-feira, 23, seus dois filhos para conhecerem a Maria Fumaça. "Quando eu vim tinha a idade da minha filha mais nova”. Jonas, 9, filho de Angélica, disse que a sua mãe fez uma surpresa e que gostou muito. Sara, 6, disse que quer andar de novo. Angélica diz que seus filhos gostam muito de história e que já visitou vários lugares com eles para conhecerem melhor o passado do país.
Ferrovia x rodovia
Cada vagão de um trem tem a capacidade para transportar de 80 a 100 toneladas, o que corresponde a uma carga de cinco carretas. Como um trem tem aproximadamente cem vagões, ele transporta, na mesma distância, uma carga que corresponderia a 500 carretas. Berenício diz que “a manutenção de uma locomotiva é mais barata, os trens não causam congestionamento e as ferrovias são mais ágeis na carga e descarga. Além disso, o índice de poluição causado pelo transporte rodoviário é muito maior que o causado pelo transporte ferroviário”. E comenta que “é importante construir mais ferrovias, mas há que se levar em consideração a topografia e os obstáculos a serem transpostos. Também é importante preocupar-se com a os impactos ambientais que, com a tecnologia existente hoje, serão reduzidos. Todo país que quer ser auto-sustentável precisa de mais ferrovias, para transportar maior quantidade de carga”.
Aílton Alexandre Assis, professor de geografia em São Tiago, lembra que o transporte rodoviário “possui algumas vantagens como não depender do relevo, ter um itinerário mais flexível e ser mais ágil. Os trens dependem do sistema de distância entre os trilhos, caso tenha sido construído para locomover-se em trilhos separados por 60 centímetros, ele não circulará em trilhos com distância de um metro, perdendo-se”.
DIA . TURNO . PROGRAMA
5ª feira, 6 . Noite
Abertura / Conferência Magna
6ª feira, 7 . Manhã
Plenária: Revitalização dos transportes sobre trilhos
6ª feira, 7 . Tarde
Grupos temáticos
Sábado, 8 . Manhã
Preservação do patrimônio histórico cultural.
Turismo Cultural Ferroviário.
Sábado, 8 . Tarde
Programação turística-cultural opcional
Fonte: Jornal Cultura Local . Editora Ponte da Cadeia
www.editorapontedacadeia.com.br
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