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Pracinhas octogenários recordam sexagenária Tomada de Montese . Pedro Belchior

Descrição

"Na fila dos feridos, o padre são-joanense Francisco Elói, falecido em 2003, fazia a encomendação de todos, inclusive a minha", recorda-se o major Cleto Pellegrinelli

Quase 60 anos depois, não é preciso pedir aos ex-combatentes são-joanenses que façam um esforço de memória sobre a tomada de Montese. As lembranças vêm de forma espontânea. Os olhos de cada octogenário brilham ao relatar experiências nas frentes de batalha italianas na 2ª Guerra Mundial e a participação na conquista da cidadela medieval montanhosa e fria defendida pelos alemães, em 14 de abril de 1945.

Corações e mentes de ex-combatentes, familiares e representantes de unidades militares de Minas e do Rio de Janeiro serão tocados por recordações e homenagens de 15 a 17 de abril, em programação com seresta, concerto de gala, cultos religiosos e entrega de medalhas dos 59 anos da conquista (leia programação abaixo). O 11º Batalhão de Infantaria aguarda 400 pessoas não-residentes em São João.

Na década de 40, São João del-Rei abrigava um dos três regimentos do Exército brasileiro, ao lado do Rio e de Caçapava (SP), e enviou à Itália mais de 5 mil homens de vários pontos do Brasil, de Santa Catarina ao extremo Norte, dentre eles 167 são-joanenses. “A unidade são-joanense tinha dois batalhões, ambos pequenos, com cerca de 100 homens cada. Foi quando surgiu um terceiro batalhão, o de guerra, que inchou o Regimento”, lembra o ex-combatente capitão Ary Roberto de Abreu, 79, belo-horizontino residente em São João há 40 anos. Parte do efetivo de guerra foi alojada na sede da Rádio São João.

Depois de atravessar o Atlântico a bordo do navio norte-americano “General Meigs”, em novembro de 1944, enfrentaram o rigoroso inverno de Montese, sempre na defensiva, aguardando o ataque aos alemães planejado para o início da primavera européia, em março. “Muitos alemães chegavam ao front dentro de supostas ambulâncias da Cruz Vermelha, mas não estavam adoentados, era apenas um disfarce. Em muitas dessas ocasiões, a gente ‘pedia fogo’: atirava em todos, acabava com tudo”, conta o major são-joanense Cleto Pellegrinelli, 83, filho de imigrantes italianos.

Sargento com apenas 20 anos, idade em que foi à guerra, Ary diz que a relação com seus subordinados era, comumente, de igual para igual. “Éramos como uma irmandade, eu e mais 11 elementos isolados do mundo”. Lembranças fortes, o capitão reformado conta duas. Uma sobre o soldado que, antes de morrer, lhe pediu que cuidasse de sua mãe viúva e sem outros filhos. “Onde estaria o soldado, depois de morto? Fui encontrá-lo numa padiola entre outros corpos, com a cabeça toda enfaixada. Seu rosto, antes avermelhado, estava amarelo, mórbido”.

Sobre o outro caso, Ary se alonga por 20 minutos, ao se lembrar dos três ferimentos – provocados por tiros de projéteis, um deles ainda alojado em suas costas – que sofreu na ofensiva contra alemães em Montese. “Durante o combate, perdi o movimento do braço esquerdo, mas com o direito eu pude socorrer um companheiro cuja ferida no tórax chegou a expulsar parte do seu intestino. Fiz um curativo improvisado, amarrando com tiras de camisa o ferimento do rapaz, empurrando para dentro o intestino cheio de terra e pedrinhas”.

O major Cleto Pellegrinelli, ferido por um projétil entre as duas costelas, lembra a fila pelo socorro médico, onde alemães e brasileiros se revezavam pelo atendimento. “Optaram por me dar um comprimido sonífero em vez de anestesia geral, e retiraram a bala alojada nas costas. Horas depois, fui enviado ao hospital para uma operação, uma espécie de ‘limpeza geral’ para tirar a carne em volta do ferimento, que tinha ficado preta. Depois da cirurgia, devo ter dormido por mais de 24 horas”. Na fila, prossegue Cleto, “o padre são-joanense Francisco Elói, falecido em 2003, fazia a encomendação de todos os feridos, inclusive a minha”. Os dois se encontrariam pelas ruas de São João por mais 60 anos. Em 1993, Cleto se reuniu a um grupo de ex-combatentes para visitar Montese, onde reviu o esconderijo do alemão responsável pelo projétil em suas costas.

A guerra terminaria para os brasileiros em 14 de abril de 1945, dia da Tomada de Montese. O saldo de mortos e desaparecidos chegou a 465, cinco deles são-joanenses. Há casos de neurose entre ex-combatentes – alguns até hoje internados no Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro –, mas o alcoolismo, segundo o capitão Ary, é uma das maiores heranças de guerra deixadas aos expedicionários. Ary, Cleto e outros cinco expedicionários residentes em São João fazem parte da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), que congrega outros 5 mil espalhados pelo país. 

 
PROGRAMAÇÃO DO 59º ANIVERSÁRIO DA TOMADA DE MONTESE

Quinta-feira, 15
20h: Seresta com o Coral da Associação São-joanense dos Aposentados e Pensionistas – ASAP – e Banda de Música do 11º BI.

Sexta-feira, 16
20h: Concerto de Gala com dobrados e música popular pela banda do 11º BI, no Teatro Municipal, aberto ao público.

Sábado, 17
8h30: Cultos religiosos – na Igreja de São Gonçalo, missa; na sede do 11º BI, sessão espírita; também no 11º BI, culto evangélico.
10h – Formatura na praça dos Expedicionários, com discursos, entrega de medalhas e participação de representantes de escolas militares de Minas e do Rio de Janeiro

Fonte: Jornal Cultura Local . Editora Ponte da Cadeia
www.editorapontedacadeia.com.br

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