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Se deseja descobrirr seus antepassados, boa viagem . Pedro Belchior

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Documentação do Museu Regional oferece ricos detalhes históricos a quem quer conhecer suas origens familiares para além de nomes e datas

Francisca amava João Francisco. Nasceu Rita Augusta, que se casou com Francisco Antônio. Tiveram três filhos: Theodolindo, Salatiel e Francisca, que se casaram com Maria Rosa, Teodora e José Francisco, por sinal, três irmãos. A quase-quadrilha drummondiana – que nasceu, labutou, odiou, amou e morreu pelos idos de 1850 –, ressuscita hoje na pesquisa do ‘curioso’ tetraneto de João Francisco, o comerciante Geraldo de Castro Teixeira, o ‘Didi’ proprietário do bar do Zotti, no centro da cidade. Curiosidade por vezes desprovida de interesse histórico é o que move os poucos são-joanenses e moradores de outras cidades brasileiras e do exterior – cujos antepassados remontam à cidade tricentenária e comarca do Rio das Mortes, que abarcava até o século 19 todo o sul de Minas e parte do centro-oeste mineiro e da atual Campos das Vertentes – a se embrenhar pelos 23 mil documentos disponíveis no Museu Regional.

Há duas historiadoras da cidade que se dedicam ao levantamento da origem de famílias da cidade e da antiga comarca. Edriana Aparecida Nolasco e Ângela Márcia Chaves, ambas formadas em Filosofia pela UFSJ e a primeira especializada em História de Minas na mesma universidade, afirmam, porém, que "mais de 95%" dos que ‘encomendam’ árvores genealógicas são moradores de grandes cidades – "geralmente Rio e São Paulo" – com antepassados na região. "Há muitos casos de pesquisadores de outras cidades que solicitam nossos trabalhos para não precisar se deslocar até aqui", lembra Ângela. Quanto à ausência de são-joanenses no Museu, Edriana e Ângela atribuem-na à "apatia" local por desvendar suas origens, mas não arriscam maiores explicações.

Edriana, que há cinco anos se dedica a rastrear a árvore genealógica dos outros, resume: "90% das pessoas querem saber nomes de pessoas que formaram seus antepassados, sem no entanto explorar o contexto histórico em que viveram: que atividade econômica exerciam, qual sua importância na sociedade local, sua postura política e o legado que deixaram para as próximas gerações". São João del-Rei, há 290 anos transformada em vila, com fama de portadora das ditas ‘origens mineiras’, é local de estudo privilegiado da história social, política e cultural de Minas e do Brasil por três séculos.

A descoberta das origens familiares pode ser a porta de entrada para o conhecimento das sociedades anteriores. Para isso, o acervo do Museu Regional dispensa economia: há testamentos, inventários – relação dos bens deixados por alguém que morreu –, processos criminais, procurações, libelos acusatórios, sesmarias e registros de compra e venda. Aos montes. Inventários e testamentos são os documentos mais examinados, por registrarem logo nas primeiras páginas nomes dos pais, filhos e irmãos do falecido. Para quem quer algo além de nomes e datas, porém, os inventários ‘post-mortem’ são um universo a ser explorado. "Eles indicam a dimensão de riqueza material deixada pelo falecido, como imóveis, número de escravos e dívidas", diz Edriana. Não raro, livros e instrumentos musicais figuram entre os bens domésticos dos inventários, podendo revelar gostos culturais e atividades artísticas.

As procurações, em que um indivíduo destina poderes a alguém para tratar de negócios em seu nome, revelam a "mobilidade social" dentro da família. "Por esse documento podemos rastrear a partir de que geração a família se espalhou geograficamente, e o que motivou o afastamento de sua terra natal", afirma a historiadora. Caso o falecido tenha deixado órfãos menores de 18 anos, os inventários trazem o ‘auto de contas’, em que o tutor presta satisfação à Justiça de como os órfãos estão sendo tratados. Segundo Edriana, esse tipo de documento "permite traçar um panorama riquíssimo dos antepassados, porque chega a acompanhar de cinco a dez anos da trajetória individual dos órfãos sob tutela".

Busca pelos antepassados dispensa profissionalismo

O primeiro passo para montar a árvore genealógica é, segundo Edriana, certificar-se de que um de seus antepassados nasceu ou viveu em São João ou na comarca do Rio das Mortes. "Geralmente, a memória de pessoas mais velhas da família pode indicar outros nomes, tornando mais fácil a pesquisa". Depois, procurar no acervo – a maior parte registrada em banco de dados – os documentos disponíveis com o nome pesquisado. "É bom ter muita paciência, porque um documento leva a outro, que leva a outro, e assim sucessivamente. Levantar nomes e datas de nascimento e morte dos antepassados pode levar meses ou dias, dependendo do tamanho das famílias e do grau de detalhamento dos documentos", avisa Edriana.

Há outros empecilhos: a sociedade dos séculos 18 e 19 dispensava maior atenção com sobrenomes. Na pesquisa do comerciante Didi, por exemplo, o trisavô Francisco Gomes Teixeira apareceu em outros documentos com dois nomes diferentes: Francisco Alves Silva e Francisco Gomes Silva. Outro obstáculo é a caligrafia. Como 100% dos documentos judiciais nos séculos 18 e 19 eram manuscritos, pode demorar dias até que o pesquisador se adapte à descuidada escrita do século 18 e pomposa caligrafia da centúria seguinte.

Mesmo assim, Didi, que pela primeira vez se debruça sobre inventários e testamentos do Museu Regional, já chegou aos tetravôs – quinta geração familiar anterior à dele. Declara ter se motivado pelos "casos" contados pelo pai, e planeja "deixar registrado à sua geração e a outras seguintes os nomes dos antepassados". Coleciona resultados preliminares: as duas "famílias-base" da sua genealogia, Zeferino e Teixeira, tiveram "origem comum" na região de Andrelândia, Piedade do Rio Grande e Madre de Deus de Minas, e deslocaram-se para São João no fim do século 19.

"Outro fato curioso é que as duas famílias sempre casaram entre si", afirma, dando o exemplo mencionado no início da reportagem. "Até a minha geração, as duas famílias – Zeferino virou Castro – mantiveram essa tradição. O João Francisco, por exemplo, é meu tetravô pelo lado da avó materna e trisavô por parte do avô materno". Complicado? "As alianças matrimoniais foram extremamente importantes para perpetuar as riquezas entre as famílias da elite local", sublinha o historiador e professor da UFSJ Afonso de Alencastro Graça Filho ("A princesa do Oeste e o mito da decadência de Minas Gerais", editora Annablume, 2002), citando o relato da inglesa Maria Graham, que passou pelo Brasil entre 1821 e 1823: "as ligações de famílias aqui são tão estreitas como as de um clã da Escócia. Têm seu lado mau nos constantes casamentos entre parentes próximos como tios e sobrinhas, tias com sobrinhos etc., de modo a acumular fortunas e concentrar afeições num círculo fechado e egoísta".

Um site na internet trata sobre as origens da família Silveira em São João, fincada na cidade com a vinda de Amaro, filho do casal português Manuel e Máxima. Amaro fixou-se na “recém-fundada” São João del-Rei há 289 anos. “Creio que veio auxiliar as tropas da Colônia durante a invasão dos franceses ao Rio de Janeiro. Por volta de 1715, transferiu-se com a família (mulher e três filhos) para a recém-fundada Vila de São João del-Rei”, diz a autora do site. Mais informações em http://www.marta.amato.nom.br/silveira.htm.
No endereço “A grande família”, uma listagem com a descendência de dezenas de pessoas traz nomes de pelo menos seis diferentes famílias são-joanenses.

Se o leitor deseja rastrear suas origens, mas não possui tempo – ou paciência – para pesquisa no Museu Regional, pode se corresponder com a historiadora Edriana pelo correio eletrônico drinasco@yahoo.com.br. O telefone do Museu é (32) 3371-7662.

Fonte: Jornal Cultura Local . Editora Ponte da CadeIA
www.editorapontedacadeia.com.br

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