São João del-Rei, Tiradentes e Ouro Preto Transparentes

a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

São João Del Rei . Jornal do Brasil . Maria Lucia Dahl . colunista do Caderno B do Jornal do Brasil

Descrição

21 de abril de 2008

Continuo a viagem pela Estrada Real que me leva a caminhos oficiais cujos traçados remontam ao século 18. Isso faz com que o viajante entre e saia de períodos da História passando por três séculos dela num piscar de olhos ou, para usar expressão local, "no intervalo de um pulo de tisiu", pássaro preto bem pequeno que habita a região e dá pulinhos muito rápidos gritando: tisiu!

– Tudo aqui é diôu, como diz meu namorado americano – comentou Alessandra, outra mulher batalhadora que encontrei na Estrada, dona da Paraty Adventure.

– Seu namorado se chama Jô? – perguntei.

– Não – respondeu ela. – Eu que o chamo de diôu, por que tudo pra ele é dioutro mundo...

Então pegamos o caminho de São João Del Rey e de repente, saindo de uma cidadezinha de periferia, surge do nada um homem nu. Quem sabe se inspirou em Fernando Sabino, ou o Fernando Sabino nele, já que são mineiros, uai, vai entender o que se passa na cabeça deles... O fato é que o homem nu surgiu do nada. Completamente diôu, e, para reforçar a surpresa, uma cobra verde deu uma rastejada rápida na frente dele e do carro, fato que confirmaria inteiramente a idéia de alguns estrangeiros de que o Brasil é habitado por índios e serpentes. Ao lado deles um pequeno barraco escrito: "Country Club".
Então passamos pelo Circuito das Águas e pelo Circuito das Montanhas Mágicas até chegar ao Paço do Lavradio, em São João Del Rey, terra de Tiradentes e Tancredo Neves, cuja casa tive a oportunidade de ver, linda, na sua simplicidade harmoniosa, dentro do centro histórico. De lá fomos para a Pousada Paço do Lavradio, de outra jovem mulher batalhadora, a Vanessa, que recebe os hóspedes com bolinhos, sucos, café, queijos e muita simpatia e dedicação.
À noite encontramos a Mariana, outra mulher incrível (é um verdadeiro desfile delas por aqui), desde que conseguiram se impor e serem destrancadas de suas próprias casas depois de séculos, abrindo logo pousadas, restaurantes, agências e ateliers. Mariana, de 25 anos, aluga cavalos mangalargas para cavalgadas de 50, 60 pessoas.
Durante o jantar, um amigo perguntou a ela por que tinha se separado do marido, se parecia que se davam tão bem.

– Tava na hora de jogar o trem pro alto, sô... – respondeu ela.

– Mas vocês eram tão felizes... –continuou seu amigo.

– O dia do benefício é a véspera da ingratidão – respondeu Mariana, rindo muito.

No dia seguinte, cavalgamos os seus animais, coisa que eu não fazia desde os pangarés de Petrópolis, durante as férias, quando era criança.
Duas horas de cavalgada pela trilha dos Inconfidentes, onde os próprios se encontravam para discutir com Tiradentes, longe da estrada oficial, no cruzamento de seis cidades no meio do mato, diante de um desfile de montanhas, cachoeiras e animais. Aqui as enormes aranhas fazem teias tão espessas que parecem uma seda prateada por cima das nossas cabeças.
Nando Chaves, o guia turístico da cavalgada, é descendente direto da irmã de Tiradentes, Antonia Rita da Encarnação Xavier, na sua sétima geração. Enquanto respiramos o ar das montanhas e entramos trilha adentro da nossa História, Nando nos conta que São João Del Rey foi, em 1713, a capitania reunida de São Paulo e Minas Gerais. Duas horas depois, continuávamos o papo com Nando, agora na sua cachaçaria visitada por alguns artistas plásticos, além de turistas. Quando confessei que estava um pouco cansada, Nando me respondeu, estendendo um copinho em minha direção:

– Toma um golinho que esse trem passa...

Tomei alguns antes de visitar a fábrica de estanho Ame Artes, onde assisti à feitura mágica do metal observando o líquido fervente se transformar nas mais diversas formas antes de se converter em taças e copos. Então passamos pelo centro histórico, onde as igrejas barrocas de Nossa Senhora do Rosário, das Mercês e do Carmo convivem com beleza e harmonia. E continuamos nossa viagem rumo a Catas Altas, passando por Lagoa Dourada, a terra do rocambole. Ao contrário das igrejas da praça, os fabricantes competem denominando-se "O mais antigo", "O mais delicioso", "O mais famoso" ou "O tremendão". Deixo então os acolhedores são-joanenses rumo ao Circuito de Vilas e Fazendas, continuando, como diz Alessandra, uma das viagens mais "diôus" que jamais fiz pelo Brasil.

Fonte: Jornal do Brasil
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