a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

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A inconfidente e sua cidade . Hipólita Jacinta Teixeira de Melo . Luiz Cruz

Descrição

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo. Ou melhor, Dona Hipólita, como ficou conhecida em toda região do Rio das Mortes. Este é um nome que deveria ser conhecido e trabalhado, principalmente nas escolas. Dona Hipólita foi uma mulher excepcional para o seu tempo, educada e culta. Foi a única que participou ativamente do movimento da Inconfidência Mineira.  Ela morava na Fazenda da Ponta do Morro, situada no sopé da Serra de São José, ponto estratégico do Caminho Velho, que ligava Vila Rica a Paraty, e de lá enviava bilhetes aos inconfidentes, principalmente ao Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, em São José del Rei, e ao seu marido, o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que era companheiro do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, no Regimento de Dragões de Minas. Por esta participação, na Conjuração Mineira, Dona Hipólita teve os seus bens seqüestrados pela Coroa Portuguesa, inclusive os recebidos de herança paterna. Após longo processo, conseguiu resgatar e reaver quase todo seu rico patrimônio. Somente Dona Hipólita recebeu tal pena, mas através de suas habilidades e influência conseguiu reverte a severa punição.
Dona Hipólita é natural de Prados e foi batizada na  Matriz de Nossa Senhora da Conceição local, em 15 de setembro de 1748. Seu marido, o Coronel Antônio Francisco de Oliveira Lopes nasceu em Barbacena, em 23 de novembro de 1749. Nessa época, tanto Prados quanto Barbacena integravam o termo da Vila de São José del Rei, hoje a cidade de Tiradentes.  Mesmo depois de casada, Dona Hipólita  continuou residindo na Fazenda da Ponta do Morro. O casal não teve filhos, mas adotou uma criança que fora abandonada na porta de sua fazenda, Antônio Francisco Teixeira Coelho, que seria, futuramente, o Barão da Ponta do Morro. Teixeira Coelho era filho de Maria Silveira Bueno, a irmã de Bárbara Eliodora. Dona Hipólita criou, ainda, outra criança também deixada em sua porta, Francisco da Anunciação Teixeira Coelho, que foi vigário e deputado à Assembléia Provincial entre os anos de 1866/67. Seu marido foi preso por participar da Inconfidência Mineira, processado e condenado ao exílio na África, onde faleceu. Dona Hipólita deixou um testamento admirável, transcrito nos Autos de Devassa, volume 9, pág.429 a 436, e através dele podemos compreender melhor sua extraordinária figura. Provavelmente, foi a mulher mais rica e generosa de sua época. Ela faleceu no dia 27 de abril de 1828 e sepultada na capela-mor da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na sede do arraial.
Recentemente foi inaugurado na Praça Dr. Viviano Caldas, no núcleo histórico de Prados, um monumento em homenagem à Dona Hipólita. Lá podemos apreciar um trecho de uma carta ao padre Toledo, redigida por ela: “mais vale morrer com honra que viver com desonra”.
Um dos primeiros a revelar e estudar sobre a importância de Dona Hipólita, como inconfidente,  foi o pesquisador Tarquínio J. B. de Oliveira. Mas muito mais precisamos fazer para reparar a falha que foi a omissão de seu nome nas páginas dos nossos livros de história. Em 1984, organizamos uma pequena expedição para visitar as ruínas da Fazenda da Ponta do Morro, eu, o Yves Alves que era diretor da Rede Globo, a professora da UFMG Lucy Fontes e o pesquisador Olinto Rodrigues. Registramos, fotograficamente, a expedição. A famosa fazenda foi demolida e dela restaram apenas algumas pedras do alicerce. A floresta da Serra de São José já encobria quase toda a área onde existiu a casa, onde sucederam importantes momentos da história da independência do Brasil de Portugal.
Mas Prados não tem somente Dona Hipólita, tem muito mais ... A primeira referência à localidade Ponta do Morro, vamos encontrar no livro Cultura e Opulência  do Brasil, de Antonil, publicado em Lisboa, em 1711. A ocupação do arraial deve ter iniciado nos primeiros anos do século XVIII, e o próprio Antonil registra sua surpresa com a quantidade de lavras de ouro, bem como as trincheiras e fosso utilizados na Guerra dos Emboabas. Outra informação antiga e curiosa está registrada no Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, de Waldemar de Almeida Barbosa. Trata-se de uma carta do governador Luís da Cunha Meneses a S.Majestade, datada de 26 de agosto de 1785, informando que em uma lavra, ao pé do arraial de Prados, foi encontrado um esqueleto de 56 palmos de comprimento (cerca de 11 m) e na altura 46 palmos (cerca 9 m), que os pretos que trabalhavam na lavra tinham quebrados os ossos achando que eram raízes de pau. Remetia os ossos em um caixote, para análise.  Ainda informa que outros três esqueletos já haviam sido encontrados na comarca.
A origem do nome Prados vem dos dois bandeirantes de Taubaté (SP), Manoel e Felix Mendes Prado (tio e sobrinho), que foram os primeiros a chegar no local para garimpar, por volta de 1704. O município de Prados foi criado pelo Decreto Nº 41, de 15 de abril de 1890, desmembrado de Tiradentes.
A grande produção de ouro possibilitou a construção de uma das mais belas igrejas da região, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição (tombada pelo IPHAN-MinC, em 6 de dezembro de 1996, processo 0870 T-73, inscrição 608, Livro Belas Artes Vol 2 folha 30; 543 Livro História Vol 2 folha 30), que se destaca na paisagem, com sua fachada ricamente decorada em pedra, torres retangulares e cúpulas em formas piramidais e um pelouro flamejante em cada quina. Do lado oposto, pode-se apreciar a singela igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Negros.
A música é um dos traços mais fortes da cultura de Prados. A Orquestra e Banda Lira Ceciliana foi criada em 1858, por José Estevão Marques da Costa, e mantém, até o presente, toda a tradição musical colonial, realizando uma das mais comoventes Semana Santa, tudo acompanhado da melhor música, composta para cada cerimônia. Prados é a cidade que tem, proporcionalmente, o maior número de músicos do Brasil. Cada família tem pelo menos um músico. Passear pelas ruas de Prados, nas manhãs de domingo, é um encontro memorável com os dobrados musicais. Os ensaios da banda acontecem todos os domingos, às 10 horas, na Casa da Música, e o som contagiante  toma conta da cidade.
Neste ano será realizado o 29º Festival de Música de Prados, que é uma promoção da prefeitura local, da Lira Ceciliana, da USP, através da Escola de Arte e Comunicação e patrocínio da FAPESP. É um dos mais importantes festivais de música promovidos no País. Este festival foi idealizado pelo maestro, compositor e musicólogo Adhemar Campos Filho (nascido em 17 de janeiro de 1926 e falecido em 19 de julho de 1997, que dedicou 49 anos de sua vida às atividades musicais da Lira) e o maestro e professor da USP Olivier Tony. Além de cursos e oficinas, o festival realiza vários concertos em Prados e nas cidades vizinhas, compartilhando a boa música  com a população regional e milhares de turistas que passam por aqui no inverno.
Outra tradição de mais de 130 anos é o Passeio à Serra de São José, realizado anualmente em julho, quando a banda de música e quase toda a população sobem a serra para um piquenique. É um momento de lazer e confraternização da comunidade pradense.
O artesanato de Prados é um atrativo à parte. Os animais silvestres esculpidos em madeira pelos artesãos locais são fascinantes e devem ser apreciados nos diversos ateliers pela cidade. Uma visita obrigatória é ao casarão da Selaria Estrela, onde pode-se apreciar a montagem artesanal de selas. Couro, papel machê, ferro, bambu, cipó, tecidos e outros materiais são utilizados para a confecção de peças utilitárias e decorativas. O artesanato de Prados é, atualmente, uma das principais fontes de emprego e renda da cidade.
Como em toda cidade histórica mineira, as festas dos padroeiros das igrejas são acontecimentos marcantes.  Folias de Reis e São Sebastião. A Festa do Congado que vem sendo revitalizada. O Festival de Cachaça e Tira-gosto. Cavalgadas, passeios ciclísticos e outras atividades compõem o calendário anual. Antes de visitar a cidade, não deixe de contatar a Secretaria de Turismo para se informar sobre os eventos, através do telefone (32) 3353-6798. Prados está a cerca de 190 km de Belo Horizonte, com acessos pelas BR 383 e 265.
Depois de percorrer pelas ruas de Prados, o destino é o arraial do Bichinho. Este arraial pertenceu a Tiradentes até 1938, depois foi incorporado ao município de Prados. Mas o nome oficial do local é Vitoriano Veloso, desde 1894, numa homenagem ao inconfidente Vitoriano Gonçalves Veloso, alferes e alfaiate, que foi preso, condenado e exilado para a África, morrendo em Moçambique, em 1803. No Bichinho há uma verdadeira preciosidade, a igreja de Nossa Senhora da Penha de França, com altares dourados e toda decorada com pinturas em estilo rococó, de autoria de Manoel Victor de Jesus. Do conjunto de pintura devemos ressaltar a beleza dos forros da capela-mor e da nave. A igreja foi recentemente restaurada, está impecável. Mas sua restauração só foi possível graças à mobilização da comunidade do Bichinho, que contribuiu com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nas mais diversas formas para a recuperação do templo, que é tombado desde 1949. O Bichinho é um dos lugares da moda e freqüentado por muitos turistas, principalmente paulistas. Depois da instalação da Oficina de Agosto, as lojas e oficinas de artesanato foram surgindo dia-a-dia, hoje são muitas por todos os cantos do arraial.
Prados é uma das cidades potenciais do turismo mineiro, inquestionavelmente! Porém, precisa urgentemente de uma política de preservação, pois o núcleo histórico vem sendo cada vez mais desfigurado, maltratado, reduzido, exprimido por construções desproporcionais e de uma fealdade enorme. Falta orientação para as novas construções, e, a primeira vista, pode-se constatar diversos problemas ambientais  dos imóveis, destacando-se a densidade de ocupação e volumetria em desacordo com o belo conjunto arquitetônico, além da ocupação das margens do ribeiro. Não podemos nunca esquecer que uma cidade boa para o turismo, antes de tudo, tem  que ser boa para sua população. Tem que ser agradável, bonita, bem cuidada e amada, primeiramente pela própria comunidade. A luta pela preservação do patrimônio de Prados deve ser um desafio tanto para suas autoridades municipais quanto para  seus habitantes.
Como já é tempo de nos preparar para o Carnaval, lembramos que, em 2005, Prados realizou o melhor carnaval da região das Vertentes e um dos melhores de Minas. Música, alegria, cultura! O tradicional carnaval do Boi Mofado vai brilhar ainda mais este ano. Não deixe de conferir: o Carnaval de Prados, será inesquecível.

* Luiz Cruz é professor, artista plástico e bombeiro voluntário em Tiradentes

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