São João del-Rei, Tiradentes e Ouro Preto Transparentes

a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Tecendo a história da Companhia Têxtil São Joanense . 1891/1991

Descrição



A Companhia Têxtil São Joanense sofreu profunda transformação ao longo de seus 100 anos de vida ativa na comunidade de São João del-Rei. Neste seu século de existência, ela se transformou: evoluiu, mudaram os setores de produtividade, os objetivos estatuários, mas em nenhum momento foram interrompidas suas atividades produtivas, ou a Cia. deixou de gerar empregos e oportunidades.
Em fevereiro de 1891 foi fundada a Companhia Industrial São Joanense que tinha como objetivo fabricar tecidos de algodão e, com o passar dos anos, outros materiais têxteis. Caracterizava-se como Sociedade Anônima. O capital de ações pulverizado entre os acionistas era no total de 1.000 ações.





Chácara da Olaria
A Chácara da Olaria pertencia a Antônio Euzébio da Paixão. Possuía uma posição estratégica na cidade de São João del-rei, considerando a facilidade de escoamento da futura produção e a chegada da matéria-prima.
A Estrada de Ferro Oeste Minas já estava em pleno funcionamento.
No pátio da fábrica foi criado um desvio. Assim, um dos grandes problemas da época, que era o transporte, já estava solucionado. Também era uma área com abundância de água, muito necessária para uma fábrica têxtil.


 Bernardo Cordeiro: Primeiro funcionário cadastrado na Companhia Industrial São Joanense.



O começo 1891/1900

30/06/1891
1ª aquisição de matéria-prima para a futura produção: fardos de fios de algodão “tintos e crus”: importados da Inglaterra.
Compra de máquinas a vapor, tecelagem, de acessórios da Inglaterra.

Novembro de 1891:
Primeiro pagamento ao tecelão inglês George Tates, contratado para montar e instruir sobre o funcionamento das máquinas, à razão de uma Libra Esterlina por dia.

30/04/1892
Aquisição da Primeira Caldeira.

31/12/1892
Primeira produção de tecidos da Cia:
454.796m de riscado de primeira, pesando 856 Kg.
513.788m de riscado de segunda, pesando 904 Kg.
O Sr. Olympio efetuou a primeira venda de tecidos no valor de 4.007.722 réis.

1894
Primeiro pagamento de dividendos aos 107 acionistas da Companhia.





A virada do século 1900/1920

Grandes transformações ocorreram: alterações substanciais no quadro acionário; o fim da importação da matéria-prima, ampliação das instalações fabris e a criação de novos setores – “Fiação e Tinturaria”; ampliação da área já existente de tecelagem.

1904
A Companhia Cedro Cachoeira e Bernardo Mascarenhas passou a fornecer a matéria-prima.

12/04/1906
Primeira Máquina para Tinturaria “JIGGER” para tingir tecido por 43.180,00.

1907
De Victor Uslaender e Cia máquinas para fiação e tinturaria.
Ampliam a tecelagem.
Ocorreu a primeira compra de cento e vindo e oito fardos de “Algodão em Lã” (expressão da époda) a 1.120 réis por quilo.

1908
A matéria-prima, algodão, foi comprada com o prazo de cento e sessenta dias e o produto – pano – vendido a 90 dias.
Nesse momento completou-se a integração: da matéria-prima ao produto acabado.
1909
Muda o sistema de alimentação das máquinas: implantação de eletrificação de parte da fábrica.
1º motor elétrico de Sotlp, marca General Electric.
Com a aquisição de máquinas apropriadas “CHAPON FRAME” – inicia-se a fabricação de cobertores.



Paralelamente foi efetuada a compra do descaroçador de algodão.
Por volta de 1917 a Companhia já produzia vários tipos de pano coloridos, como zefir, brins, cobertores e flanelas.

A CHEGADA DO ALGODÃO
O trem entrava no desvio do pátio da Companhia carregado de lenha e matéria-prima. O algodão era encaminhado para o descaroçador, onde sofria a separação das grossas impurezas, co¬mo o caroço. As cascas e caroços eram utilizados na caldeira. O produto, propriamente dito, seguia para a lavagem e tingimento. Em seguida coloca¬vam ao sol para a secagem. Após essa etapa co¬meçava o processo de fiação. O resultado seria o fio cru ou colorido (azul-escuro, azul-claro, pre¬to, cinza, rosa e vermelho).
O escoamento da produção da indústria, nesta época, era feito através do transporte ferro¬viário. A mercadoria era entregue para o balan¬ceiro, e ficava sob responsabilidade da estação. Com o passar dos anos, a produção foi crescendo e passou a ser transportada com mais freqüência, por carroças que chegavam a carregar 20 fardos; cada fardo levava 20 peças de aproximadamente 50 metros cada. Os maiores consumidores da épo¬ca eram o Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
'” A semente de algodão era joga¬da num canto, fazia aquela altu¬ra de semente e nós, meninos tra¬vessos, gostávamos de virar cam¬balhota e caíamos lá em baixo”. A semente era aproveitada na cal¬deira.

"O algodão vindo do Ceará pos¬suía fibras longas. Fazíamos o es¬cartamento das máquinas, de acordo com o comprimento das fi¬bras: logo, tendo um bom resul¬tado, o fio possuía mais elastici¬dade, tornando-se mais forte. Já o algodão do Paraná não tinha a mesma qualidade das fibras do al¬godão do Ceará, mas era bem mais limpo”.

1917 - As casas dos operários pertenciam à Cia. que lhes cobra¬va aluguel. Com o passar dos anos os trabalhadores as adquiriram.




           

A companhia e a comunidade



A comunidade São Joanense carregava em suas veias características marcantes de seus colo¬nizadores, os italianos, como por exemplo o uso de tamancos de madeira, feitos pelos próprios usuários. Este costume se observava nos empregados da indústria.
Os horários de funcionamento da fábrica orientavam a cidade em sua vida diária. Um sonoro tocar, alternado de apitos da caldeira a vapor, marcava os dois turnos de trabalho (06:30h às 17:30h; 18:00h às 22:00h), intercalados com os intervalos de lanche, almoço, café e janta.
Elementos sonoros e fatos do cotidiano como o costume da última turma de operários andar de tamancos no trajeto para suas casas davam o soar de uma bateria, tá lá, tá lá, os empregados, acompanhando o som de seus sapatos, cantavam músicas da época. Por onde passavam deixavam marcado o fim de. sua luta diária.
Festas como primeiro de maio, churrascos de fim de ano, organizados pelos próprios trabalhadores, jogos de futebol e o desfile de 07 ele Se¬tembro estreitavam, cada vez mais os laços entre a comunidade e a fábrica.



Os treinos de futebol eram feitos nas folgas do trabalho, domingos e feriados. Os times infantis e juvenis tinham treinadores e até técnico, que eram operários da companhia, que costumavam dar as instruções de futebol nos intervalos de seu trabalho.
Os trabalhadores da fábrica desfilavam no dia Sete de Setembro com seus uniformes. As mulheres com tecido tipo zefir marrom-claro e os homens de azul-claro. "Uniforme, macacão, aqueles tênis, tudo machucando, a gente custava para desfilar; a gente não estava acostumado. Só usávamos tamancos”.



1920/1950
No final da década de vinte foi criado o setor de “Fundição” na indústria. Esse setor surgiu devido à necessidade de manutenção das máquinas ali existentes, pois suas peças danificadas não eram encontradas no mercado nacional. O fundidor fundia qualquer peça; a matriz era feita de madeira pelo carpinteiro da época. Nesse período a fundição chegou a prestar serviço para fora da fábrica.
O sistema de controle horas/trabalho que mais marcou a memória dos operários foi o do vintém de 40 réis, que havia saído de circulação. Colocavam um quadro na parede com as moedas relativas ao número de trabalhadores. Quando o pessoal chegava de manhã tirava a moeda que lhe correspondia e colocava-a dentro do cofre; o controle era feito pelo porteiro: abria o cofre e verificava os que haviam trabalhado; e tornava a colocar as moedas no quadro.
Na época da guerra, 1930, a indústria produziu um tecido, brim azul-marinho, que foi confeccionado especialmente para exportação, encomenda feita através do Rio de Janeiro.
Os produtos acabados continuavam os mesmos, mas o pano xadrez aumentou sua produção e o tergal ocupou seu espaço no mercado nacional.
Na década de quarenta chegou-se a exportar flanela para a Argentina.
“Tínhamos medo de ir para casa à noite, então nós dormíamos na fábrica, do lado da caldeira; era quentinho, nos cobríamos com a linhagem e dormíamos ali. Era tudo mato, mas tinha um caminho que passava, saía num portão grande que ia na fábrica; diziam que certa hora da noite aparecia uma mulher toda vestida de branco e nós tínhamos um medo tremendo, devido a nossa idade (12 anos). Essa coisa da época... Que companheirada boa...”
“ A situação da fábrica ta muito ruim; não esquenta a cabeça com isso não, enquanto o algodão for comprado a quilo, e o pano vendido a metro, não há prejuízo.”
“1928 A Leesona era só para meninas menores. Quando completavam mais idade, passavam para tecelagem. Tocavam três teares.”
“Na época da guerra tudo parou.” “Nunca deixamos de receber”. “Havia estoque de matéria-prima e a fábrica parou somente um dia. O apito não tocou”.

A grande virada: Modernização
1950/1991
Em 1950/60 ocorre uma revolução tecnológica na Companhia. A nova administração investe valores incalculáveis, em máquinas modernas.
Reformularam todo o cascamifício, colocando equipamentos que permitiram, em duas décadas, saírem das selfatinhas das cardas completamente obsoletas. A aquisição do conjunto witthin permitiu dar o primeiro ganho de produtividade na nova fase da empresa.
1960170 - Compra de 11 teares Somet, de 3,80m, que era o que havia de mais moderno no mundo, na fabricação de tecidos e na fabricação de cobertores. Obteve-se um ganho de produtividade 10 vezes do que se ganhava, referente à produção de cobertores. Simultaneamente, foi a primeira fase do cotonifício, quando começou a substituir -se os filatórios velhos por outros mais atuais. Isso determinou o investimento na preparação da fiação, as maçoraqueiras Saco lowell, aquisição dos passadores e também 6 cardas modernas de alta produção. A compra dos teares Howa e Sulzer completou mais uma etapa da grande virada da São Joanense, pois possibilitou condições para a melhoria da qualidade dos tecidos da companhia; (exportação para a Holanda e Itália).
1970/80 - Cresceu o volume de produção da fábrica.
um mercado ainda não absorvido. A produção aumentou de 440 mil metros na década de 60 para 01 milhão de metros de pano (80).
Durante a década de 80 foi criada a Companhia Têxtil de Pirapora.

TREINAMENID E ESPECIALIZAÇÃO:
CUIDADO COM O PESSOAL
Desde 60 começou-se a investir maciçamente no treinamento e formação de pessoal. Foi incentivada a realização de cursos de especialização dentro e fora da companhia, em nível nacional e internacional. A fábrica possui um centro de treinamento, onde todos os funcionários passam por um período de até 90 dias. Dentro desse espírito, a Companhia Têxtil São Joanense já fez 19 operários padrão do Estado de Minas Gerais e um operário padrão do Brasil.
Uma característica na formação do quadro pessoal da companhia é a sucessão de gerações que nela trabalham. Algumas seções chegam a passar de pai para filho.

“ A fábrica foi e é importante para São João del Rey. A cidade deve uma parte grande à fábrica de tecidos. Quantas famílias foram e são criadas por essa fábrica, quanta gente depende dali”.
“A fábrica era minha vida, eu entrei tão novo e trabalhei tantos anos, que até hoje sonho com a fábrica; eu sonho que estou trabalhando, que estou naquela luta...”

Pesquisa Histórica e Texto: Moema Grazziotin Gonçalves . Coordenação: Gaia . Fotografia e História . Arte: Roberto Silva

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