São João del Rei Transparente

Publicações

Tipo: Artigos / Cartilhas / Livros / Teses e Monografias / Pesquisas / Personagens Urbanos / Diversos

Escopo: Local / Global

 

Nomes que ilustram nossa terra . Abgar Campos Tirado

Descrição

Os traços biográficos aqui apresentados, relativos a José das Chagas Viegas, Luís de Melo Alvarenga, Antônio de Lara Resende, Elpídio Antônio Ramalho e Fábio Nelson Guimarães, correspondem a alocuções em homenagem aos mesmos, por mim proferidas na Academia de Letras de São João del-Rei, em 1987, 1989, 1990, 1991 e 1996, respectivamente. Os textos foram mantidos em sua versão original; daí o fato de algumas situações mencionadas já se terem modificado, bem como não estarem mais entre nós várias outras pessoas neles citadas.

Dr. José das Chagas Viegas . centenário de nascimento

Nasceu o Dr. José das Chagas Viegas em São Tiago, então distrito de Bom Sucesso, MG, no dia 23 de julho de 1887, filho do casal Antônio Xavier das Chagas Viegas e Maria Christina Santiago Viegas, que gerara ainda outros filhos, todos ilustres, a saber: Dr. Augusto Viegas, advogado, tribuno, beletrista, historiador e político eminente; Dr. Henrique das Chagas Viegas, advogado; e Dr. Antônio das Chagas Viegas, conceituado médico, que por duas vezes foi prefeito de São João del-Rei.
Tendo sofrido o tremendo golpe de perder o pai, vítima de latrocínio, perpetrado por um agregado de sua fazenda, José, aos oito anos de idade, mudou-se com sua família para a cidade que amorosamente adotaria como sua: São João del-Rei.
Iniciou seus estudos na Escola de D. Olímpia de Oliveira e posteriormente no Externato do Professor Travanca, onde conheceria aquela que seria o anjo de sua vida: Celina Amélia, filha do ilustre Coronel Severiano Nunes Cardoso de Resende, diretor do Instituto de Humanidades São Francisco de Assis, onde estudaria a seguir.
Em 1908 falece sua mãe. Pouco depois, José parte para o Rio de Janeiro, onde cursou Odontologia, diplomando-se em 1911. No mesmo ano, a 22 de abril, une-se em matrimônio com aquela jovem admirável, que já lhe prendera o coração: Celina Amélia de Resende. Oficiou a cerimônia o Padre Júlio Ferreira.
As atividades do Dr. José Viegas se estenderam por variados campos: Trabalhou durante dez anos na Santa Casa da Misericórdia e também na Estrada de Ferro Oeste de Minas. Foi dentista do Estado, servindo na assistência dentária escolar, no primeiro posto inaugurado na cidade, quando prefeito o Dr. Andrade Reis. Mantinha também consultório em sua residência, mas saía sempre, a cavalo, para prestar assistência dentária no meio rural, levando em uma mula os equipamentos.
Na política, manteve sempre uma linha coerente, jamais pensando em servir-se dela em benefício próprio, tendo pertencido ao PP, ao PSD e ao MDB, sendo grande amigo e fiel correligionário do saudoso Presidente Tancredo Neves. Com noventa anos de idade, Dr. José ainda ia exercer o seu direito de voto.
Dinâmico e prestativo, pertenceu à Diretoria do Minas Futebol Clube, bem como foi sócio do Clube X.
De sólida formação cristã, especificamente católica, foi provedor das Irmandades do Santíssimo Sacramento, dos Passos e da Boa Morte, além de ter sido “rei”, na Confraria de Nossa Senhora do Rosário.
Grande inteligência criativa, inventou o afamado “tinteiro econômico”, cuja característica principal era não derramar tinta, o qual teve incrível aceitação, ganhando reputação internacional, precursor que era da caneta-tinteiro. Produzia-o o próprio inventor, em fábrica caseira.
Homem culto, de aguçada sensibilidade, soube amar como poucos a Arte Teatral. Nesse campo, desenvolveu inúmeras atividades. Foi autor (revista teatral-São João del-Rei), ator e, sobretudo, grande incentivador e promotor de encenações de peças teatrais e de operetas, tendo sido Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Teatral Artur Azevedo e Diretor do Departamento Teatral da Sociedade de Concertos Sinfônicos. Assim, foi o responsável pela apresentação de peças como “O Remorso Vivo”, “Tim-tim por Tim-tim”, “Periquito”, “A Morgadinha de Val-Flor”, “Amor Molhado” e das operetas “A Viúva Alegre” e “O Conde de Luxemburgo”, de Franz Lehar; “Sonho de Valsa”, de Oscar Strauss; e “A Princesa das Czardas”, de Kalman. Bem relacionado com grande artistas, também promoveu, entre outras, as apresentações em São João del-Rei de Companhias como as de Procópio Ferreira, Palmeirim Silva, Margarida Sper, Eva Todor, Nino Nello e Vicente Celestino.
Ocupava o Dr. José Viegas a Cadeira nº 5 da Academia de Letras de São João del-Rei.
Com respeito a sua personalidade, a seu modo de ser, era uma pessoa calma, sempre gentil, comunicativa e de prosa amena e agradável. Apreciava particularmente contar as anedotas referentes ao conhecido homem de letras Emílio de Menezes, bem como se comprazia em falar de teatro e de operetas, mostrando um interesse especial pela “Princesa dos Dólares”. Em seu último anos, era comum encontrá-lo, nas imediações de sua residência, mais precisamente na chamada esquina do Bico de Lacre, falando na possibilidade da apresentação de alguma opereta, sempre lúcido, ativo e cortês.
Combalida sua saúde, recolheu-se a sua residência, onde pouco a pouco foi-lhe a vida fugindo, vindo a falecer no dia 21 de abril de 1979. Velado no salão de sua própria casa, seguiu o féretro para o cemitério da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, onde, antes da inumação, fez-se ouvir em belo e justo elogio fúnebre o pranteado presidente Tancredo Neves, que, por impressionante coincidência o haveria de seguir na Vida Eterna, seis anos depois, no mesmo dia do falecimento de seu amigo Dr. José Viegas.
Ao eminente Dr. José Viegas, sobrevive a viúva, a extraordinária D. Celina, uma das mais renomadas educadoras que já passaram por nossa cidade, por 28 anos professora da E. E. João dos Santos, e durante trinta e três anos, proprietária e diretora de um internato para moças, personalidade ímpar, cristã modelar, mãe extremosa, que, aos 97 anos de idade, é ainda exemplo de dinamismo e de vida voltada ao bem do semelhante, a qual, tendo perdido a visão, continua com entusiasmo suas atividades, na mais completa conformação com a vontade de Deus.
São filhos do casal: Dra. Celina Viegas, diplomada em enfermagem superior, advogada, tendo por longos anos exercido com brilho o magistério superior, na Universidade Federal de Juiz de Fora; Dr. José Guilherme de Resende Viegas, advogado e jornalista no Rio de Janeiro, ex-diretor da Agência Nacional, casado com D. Odete Viegas; Dr. Milton de Resende Viegas, conceituado médico, que, após vários anos trabalhando no Rio de Janeiro, retornou a sua cidade natal, aqui tendo sido vereador, presidente da Câmara Municipal e notável prefeito; nessa condição, recebera de seu venerando pai um único pedido: que procedesse à reforma do teatro Municipal, o que foi feito. É fundador e Presidente de honra da Academia de Letras de São João del-Rei e ex-presidente da antiga Fundação Municipal; Dr. Milton é casado com a sra. Geni de Souza Viegas; Dr. Luiz Carmelo Viegas, advogado, escritor e poeta, casado com a sra. Hilda Passarini de Resende Viegas; e Dr. Murilo das Chagas Viegas, advogado e funcionário estadual. Quatorze netos e treze bisnetos completam hoje o quadro de descendentes do casal Dr. José e D. Celina Viegas.
Pelo centenário de nascimento do Dr. José Viegas, foi celebrada Santa Missa na Catedral-Basílica de N. Senhora do Pilar pelo Revmo. Padre Raimundo Inácio, grande amigo da família, considerado membro da mesma. Na ocasião, foi convidado a falar sobre o homenageado o Dr. José Raimundo Lobato Costa, Presidente da Sociedade de Concerto Sinfônicos, que era considerado pelo primeiro como verdadeiro filho.
Quando hoje penetramos no “foyer” de nosso Teatro Municipal e contemplamos a placa ali afixada em homenagem ao inolvidável Dr. José das Chagas Viegas, sentimos sua lembrança corporificar-se na mais sólida presença e, como que nos parece estarmos por ele sendo recebidos, com aquela afabilidade, aquele profundo calor humano, a nos convidar a amar ainda mais a Deus e a vida, através do amor sem limites à divina sublimidade da Arte. 

Professor Antônio de Lara Resende

Percorrendo o Jornal do Brasil de 21/11/88, deparei em seu “obituário” com a notícia que assim tinha início: “ANTÔNIO DE LARA RESENDE, 94 anos, de câncer na laringe, em Belo Horizonte”. E seguiam vários dados sobre o ilustre morto. Invandiu-me profundo pesar em razão da leitura desse passamento. Não foi, contudo, surpresa. Sabia-o muito doente; seus parentes me falavam de seu estado e o desenlace iminente era previsível. E assim tomei conhecimento da morte daquele homem extraordinário, sócio-correspondente desta Academia de Letras e a quem, faz muito, aprendera eu a admirar.
Realmente, desde criança ouvia eu referências acerca daquele severo e respeitado educador, fundador do afamado Instituto Padre Machado. Foi, contudo, ao chegar-me às mãos o segundo volume de suas MEMÓRIAS, que passei a conhecê-lo mais amplamente e a admirá-lo ainda mais.
Antônio de Lara Resende nasceu no dia 24 de setembro de 1894, na Fazenda do Vale Novo, situada em São Gonçalo da Ponte, hoje denominado Belo Vale. Foi seu pai Antônio Sebastião de Resende, fazendeiro, nascido no dia 20 de janeiro de 1861, na Fazenda de Santo Antônio, situada na Freguesia da Laje de Tiradentes, hoje Resende Costa. Mais tarde, transferiu-se para a Fazenda da Boa Esperança, em São Gonçalo da Ponte, onde viria a conhecer sua futura consorte, Macrina Augusta Albergaria Lara, professora como o pai, ouropretana, que faleceria aos 40 anos de idade, a 16 de de novembro de 1903, deixando órfãos 10 filhos, o primeiro com 18 anos de idade e com menos de 14 meses a última!
O casamento dos pais de nosso focalizado se dera no ano de 1884.
Após o prematuro falecimento da esposa, Antônio Sebastião, no ano de 1895, regressa a Laje, em difícil situação econômica. Seu falecimento se deu na referida localidade, a 07 de outubro de 1933.
Antônio de Lara Resende, levado para Laje (Resende Costa) com 04 meses de idade, ali viveu até completar 10 anos.
No Arraial da Laje, teve como primeiro mestre a Leonardo Francia.
Após o irreparável fato do falecimento de sua querida mãe, Antônio, como sucedeu a seus irmãos, passou a residir em casa de parente, sendo que esse período foi um dos mais difíceis de sua vida, pois foi tratado quase como um escravo, o que o levou mais tarde a fugir da casa que tão rigidamente o abrigava.
Seu sonho maior era prosseguir seus estudos e grande era sua frustração por não conseguir fazê-lo. Todavia, pessoas generosas conseguiram que ele fosse admitido na renomada Escola do Caraça, mais propriamente Escola Apostólica Nossa Senhora Mãe dos Homens, destinada à formação de sacerdotes, a qual manteve também, paralelamente, um colégio para os não vocacionados. Mas foi no seminário que Antônio se fez aluno, sendo que os anos ali passados foram para ele os mais felizes de sua vida. O início de seus estudos no Caraça se deu no dia 20 de março de 1909. ali pôde ele receber os benefícios da severa e eficiente pedagogia caracense e ali conheceu mestres admiráveis como Padre Cruz, Padre Van Pohl, Padres João e Guilherme Vaessen, que eram irmãos, Padre Sarnel e vários outros.
Ao término do quinto ano, já senhor de vasta cultura sobretudo humanística, Antônio apresenta um problema de saúde, talvez o que poderíamos chamar de “stress”, provavelmente motivado pelo conflito não revelado de que, apesar de ter recebido tantos benefícios, não sentia ser o sacerdócio sua verdadeira vocação, muito embora fosse exemplar católico. Aconselhado  por seus superiores, afasta-se da escola antes do término do ano letivo, precisamente a 18 de setembro de 1913, a fim de que pudesse restabelecer-se e mais tarde retomar seu curso de formação eclesiástica. Retornando a Resende Costa, após refletir longamente, desiste de voltar para o seminário, passando a aceitar alunos particulares, naquela cidade.
Pouco tempo depois, recomendado, é admitido como professor do Ginásio Santo Antônio, de São João del-Rei, no qual ingressa a 25 de abril de 1915, a princípio como professor do Curso Preparatório e, logo depois, do Curso Ginasial, tendo sido também regente dos alunos. Era o Ginásio Santo Antônio de Frei Florentino Brölmann, de Frei Cirilo de La Rose, de Frei Cândido Vroomans e de outros. Ali lecionou o Prof. Lara Resende até o final de 1920. ainda professor do Ginásio Santo Antônio, casa-se no dia 12 de janeiro de 1918, em Resende Costa, com Maria Julieta de Oliveira, natural da mesma cidade, que lhe sobrevive. Desse matrimônio lhes nasceram 20 filhos, sendo que seis deles faleceram antes dos dois anos de idade. São os outros: Gilberto, (o primogênito, nascido a 14/10/18), Olavo (recentemente falecido), Otto, Vicente, Fernando, Maria da Conceição, Geraldo, Márcio, Maria Teresinha, Maria Julieta, Acílio, Maria Lúcia, Maria da Glória e Luiz.
Com as responsabilidades financeiras advindas com o crescimento da família, seu salário no Ginásio Santo Antônio se mostrava insuficiente; daí a necessidade de procurar outro meio de subsistência. Entre várias opções, incluindo convites para dirigir colégios ou lecionar em outras cidades, opta o Prof. Lara Resende por fundar seu próprio colégio em São João del-Rei. Assim nasceu o internato que se tornaria o afamado Instituto Padre Machado. O início das aulas se deu no dia 25 de janeiro de 1921, na primeira sede da escola, uma casa na esquina da Rua da Prata com o Largo de São Francisco. No dia 30 de junho do mesmo ano, o Asilo de São Francisco, mantido pela Venerável Ordem Terceira do mesmo nome, é entregue à responsabilidade do Instituto Padre Machado, que então se transfere para o prédio ocupado pelo primeiro, situado em frente ao Quartel do Exército. Desde o princípio, fez o professor Lara Resende questão de que seu colégio fosse uma família, dentro da qual se incluía sua própria. Também os órfãos do asilo eram tratados como membros daquela grande família. Mantinha o Instituto o Curso Primário e o Curso Preparatório, chegando a iniciar o antigo curso ginasial. No ano de 1933 o Instituto passa a Sociedade Anônima, continuando o Prof. Lara Resende como Diretor e com a maioria das ações.
Os filhos já crescidos, São João del-Rei não oferecia ao Prof. Lara Resende o campo ideal para o desenvolvimento da educação dos mesmos. Era necessário buscar um centro maior. Experimentou mudar-se para Belo Horizonte, começando a trabalhar naquela capital, continuando o Instituto em São João del-Rei, confiado a diretores substitutos. Mas como esse procedimento não deu certo, em dezembro de 1939 o Instituto Padre Machado se transfere para Belo Horizonte, continuando o Prof. Lara Resende em sua direção até março de 1950, quando a renomada Casa de Ensino é entregue aos padres barnabitas (Ordem de São Paulo Apóstolo) a cuja frente se encontram até hoje.
Inúmeros foram os cargos e funções entregues ao Prof. Lara Resende durante sua longa vida. Entre outras atividades, foi Presidente do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais e Presidente Nacional dos Estabelecimentos Particulares de Ensino. Quando da aprovação das escolas de ensino superior de São João del-Rei, pertencentes à Fundação Municipal São João del-Rei, exerceu importante papel para o sucesso do empreendimento, incumbido pelo Conselho Estadual de Educação de fazer vistorias e amplo levantamento das condições para funcionamento das referidas escolas, o que foi feito com sumo empenho e interesse, no que resultou em pronta aprovação dos cursos pretendidos por aquela Fundação, berço da atual Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei (FUNREI), instituição federal filha do amor do saudoso Presidente Tancredo Neves a sua Terra Natal, consumada por ato do Presidente Sarney.
O Prof. Lara Resende foi, antes de tudo, um educador. Moldado pela consistente pedagogia caracense, alimentado por vastas e profundas leituras sobre o assunto e dotado de fina intuição pedagógica, sabia ser rígido, sem deixar de ser visceralmente humano. Sua autoridade carismática fazia-o respeitado e amado.
Católico como poucos, era exemplar vicentino, que, acima de tudo, colocava a virtude da Caridade. Dotado de temperamento forte, sabia ser combativo, nunca fugindo a uma polêmica, tendo tido embates públicos com figuras da estatura de um Basílio de Magalhães. Jornalista, sempre combateu em prol da boa imprensa, sobretudo católica. Era empreendedor arrojado, sincero, de uma franqueza que não se intimidava e, com sua robusta inteligência e rica cultura, sabia ser profundo analista da alma humana e da realidade social. Como escritor foi verdadeiro estilista. Era também poeta e latinista emérito. Foi igualmente um semeador de bibliotecas e de quantos livros queridos ele se despojou, para o enriquecimento do espírito de outras pessoas!
É grande a relação de pessoas de notável expressão cultural e moral que tinham no Prof. Lara Resende um amigo íntimo e querido. Entre elas, sejam lembrados Jackson de Figueiredo, Murilo Mendes, Alceu de Amoroso Lima e o grande são-joanense, o inesquecível Presidente Tancredo Neves.
A leitura dos dois volumes de memórias do ilustre mestre nos leva a um gratificante conhecimento de sua pessoa, de tal modo são vivas suas lembranças e tão notável é sua capacidade de comunicar-se através da palavra escrita! Nesses livros, de páginas tão belas, encontramos, sobretudo, duas passagens que nos marcam de maneira especial, dilacerando-nos a alma. São páginas antológicas, impregnadas de um sentimento humano tão poderoso que nos aniquila. A primeira passagem está contida no primeiro volume: é a dolorosa narrativa do falecimento de sua amada mãe, fato já aqui referido. A segunda, encontrada no segundo volume, descreve a agonia e morte de seu filhinho José, no dia 24 de abril de 1926, aos 22 meses de idade.
Admirando tanto o Mestre, através de referências de pessoas que com ele conviveram e através de seus escritos, não tivera ainda a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Para felicidade minha, esse encontro se deu em outubro de 1981, por ocasião da inauguração da placa com seu nome, na biblioteca da Fundação Municipal São João del-Rei, no majestoso prédio que antes abrigara o Colégio Santo Antônio, do qual o ilustre homenageado deixara de ser professor, havia quase 61 anos! Convidado a participar da Mesa Diretora dos trabalhos, tive a honra de participar da mesma com o renomado educador. Após a sessão, pude com ele manter uma conversa pessoal, durante a qual, entre assuntos variados, tive a grande satisfação de ouvir de sua boca elogios sobre os méritos e virtudes de meu querido pai, que chegara mesmo, quando bem jovem, a ser convidado a trabalhar com ele no Instituto Padre Machado.
A placa, afixada na biblioteca do hoje Campus Santo Antônio e que ocupa vasto salão, outrora um dos salões de estudo do extinto Colégio dos padres franciscanos, contém os seguintes dizeres:

Ao Prof. Antônio de Lara Resende
A gratidão eterna da Fundação Municipal São João del-Rei
Presidente Fund.
Dr. Cid de Souza Rangel
(Seguem os nomes dos diretores)
Outubro 1981
Em retribuição à homenagem, que muito o sensibilizou, o Prof. Lara Resende faz a doação à Biblioteca dos 20 volumes da Enciclopédia Britânica, confirmando uma vez mais sua generosidade.
Apresentada essa breve síntese de tão grande vida, podemos concluir que homens como Lara Resende, como Tancredo Neves e alguns outros nascidos e criados em nosso solo pátrio, pela fulgurante magnitude de suas vidas, tornam-se exemplos, não apenas para os brasileiros, mas se constituem em modelos para toda a humanidade.

Luiz de Melo Alvarenga

Cada grande personalidade que desaparece do cenário dos vivos, se, através de seus feitos e realizações notáveis, enriquece com sua memória a comunidade a que pertence, inevitavelmente, entretanto, gera por força de sua ausência física uma dilatada e impreenchível lacuna, junto à mesma comunidade, que se vê, sob esse aspecto, como que lesada e empobrecida. O saudoso nome de Luiz de Melo Alvarenga se inscreve nessa gloriosa galeria de varões ilustres, cuja vida e cuja presença se constituem em luz e modelo para seus concidadãos.
Inesquecível em sua avantajada estatura e elegante porte e, sobretudo, inolvidável por sua aprimorada cultura e acendradas virtudes cristãs, tudo revestido de exemplar modéstia, Luiz de Melo Alvarenga viu a luz do mundo nesta São João del-Rei das igrejas e dos dolentes sinos, da música e da religião, das formosas pontes e casarões, no dia 11 de março de 1902, filho do exemplar casal Farmacêutico Antônio Cândido Martins de Alvarenga e Afonsina de Melo Alvarenga, sendo seus irmãos: José de Melo Alvarenga, general, casado com Ofélia Graça Alvarenga, falecidos, que tiveram 4 filhos; Antônio de Melo Alvarenga, médico, casado com Cloris Junqueira Alvarenga, falecidos, que deixaram 8 filhos; Sara Alvarenga Castanheira, casada com Sílvio Castanheira, falecidos, pais de 6 filhos; Maria de Lourdes Alvarenga Junqueira, casada com Dr. Moacir de Abreu Junqueira, falecidos, que tiveram 6 filhos; e Sílvia de Melo Alvarenga, solteira, por muitos anos eficiente e dedicada professora do então denominado Grupo Escolar João dos Santos, hoje aposentada.
Menino inteligente, responsável e sagaz, Luiz freqüentou com grande aplicação o Liceu São Gerardo, dirigido pelo Prof. Antônio Augusto Ribeiro Campos, ali bem ao lado da Igreja de São Gonçalo Garcia. Transferindo-se posteriormente para Belo Horizonte, freqüenta o Instituto Claret, ingressando, a seguir, na Escola da Farmácia, onde uma vez mais demonstra seu invulgar brilhantismo, ao bacharelar-se, em 1919, com apenas dezessete anos de idade. Uma vez formado, regressou imediatamente a São João del-Rei, a fim de assumir os destinos da Farmácia Alvarenga, de propriedade de seu falecido genitor.
Vivendo para o estudo e para o trabalho, não estava, todavia, insensível aos apelos do coração, desejoso de constituir um lar alicerçado nos mais sólidos fundamentos cristãos. Para tal, destinou-lhe o Criador a admirável e virtuosa jovem Alice de Abreu Junqueira, filha de Aristides Junqueira e Corina de Abreu Junqueira, nascida no Rio de Janeiro a 30 de setembro de 1903 e falecida a 22 de janeiro de 1966, em São João del-Rei, estando sepultada no cemitério da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
Foi no dia 30 de setembro de 1936, em Belo Horizonte, que Luiz e Alice realizaram seu casamento, aquela “longa conversação que sempre parece breve demais”, no dizer de André Maurois sobre o casamento feliz. Da união sacramental nasceram-lhes os filhos: José Luiz, coronel do Exército, residente em Brasília, casado com Neusa Maria Leão Alvarenga, pais de 4 filhos; Luiz Antônio, funcionário aposentado do Banco do Brasil, casado com Eunice Moura Alvarenga, com 4 filhos; Aristides, que honra o altíssimo cargo de Procurador Geral da República, residente em Brasília, casado com Rosaly de Oliveira Alvarenga, com 2 filhos; Ivan, advogado, funcionário da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, casado com Sílvia Teixeira Alvarenga, com 3 filhos; Afonsina, psicóloga, funcionária pública estadual, residente em Belo Horizonte, solteira; e Miriam, assistente social, funcionária pública municipal, residente em Belo Horizonte, casada com Juan José Perez, argentino, com 2 filhos.
Senhor de apreciável cultura, notadamente no campo de nossa história, não quis o farmacêutico Luiz de Melo Alvarenga guardar apenas para si, egoisticamente, o fruto de suas pacientes pesquisas; assim, deu a lume trabalhos de reconhecido valor, como os artigos para a revista “Vozes de Petrópolis”, sobre as igrejas de São João del-Rei, artigos esses que foram, pela própria Editora, reunidos em um volume, sob o título de “Igrejas de São João del-Rei”. Igualmente escreveu artigos sobre Francisco de Lima Cerqueira, Pontes de Pedra de São João del-Rei, Felisberto Caldeira Brant e Documentos Genealógicos de Bárbara Eliodora e Tiradentes.
Por solicitação do então prefeito de nossa cidade, Dr. Antônio das Chagas Viegas, escreveu “Respostas a um Questionário sobre a cidade de São João del-Rei”.
Comemorando o 250º aniversário da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, atendendo a pedido do pároco Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, escreve “Catedral-Basílica de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei, MG – Brasil”, com impressão patrocinada pela própria paróquia, em 1971.
Em 1984, por solicitação do então Secretário de Turismo, Dr. Luiz d’Angelo Pugliese, publica “Rápido Passeio pela Cidade Colonial Mineira de São João del-Rei”.
Sobre a Santa Casa da Misericórdia desta cidade, bicentenário nosocômio, escreveu um livro, infelizmente ainda não publicado.
Deixou inéditas “Efemérides de São João del-Rei”, além de vários artigos, ficando inacabado um dicionário para palavras cruzadas.
Sempre zeloso em todos os encargos que abraçava, labutou em campos diversos, tendo sido Chefe da Fazenda (tesoureiro) de nossa Prefeitura Municipal. No setor cultural, ornou com o fulgor de sua inteligência e nobreza de sua presença, como membro efetivo, esta Academia de Letras, bem como o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei. Lembra-me muito bem aquela sessão desta Arcádia, quando o ínclito Acadêmico nos trouxe momentos de enlevo e encantamento, ao apresentar o elogio de seu patrono nesta Casa, o admirável são-joanense Aureliano Pereira Correia Pimentel, de quem se mostrou digno sucessor.
Incansável colaborador de nossa Santa Casa da Misericórdia, foi ali devotado Provedor, tendo sido responsável pela farmácia daquela respeitável instituição, desde o falecimento da saudosa irmã Vicência, até os derradeiros dias de sua própria existência terrena.
Ali, bem aconchegado à vetusta igreja de Nossa Senhora do Rosário, junto a seus entes queridos, Luiz de Melo Alvarenga passou sua fecunda e iluminada vida; ali, naquela mesma casa, teve seu encontro sereno e santo com a morte, à uma hora da madrugada do dia 23 de novembro de 1989.
Aqueles mesmos sinos das velhas igrejas por ele tão celebradas se incumbiram, com seus fúnebres dobres, de levar à cidade entristecida a dolorosa notícia de seu passamento.
Velado em sua residência, muitos foram os que para ali se dirigiram, a fim de, orando junto a seu corpo, prestarem-lhe a homenagem final.
Sai o préstito, seguindo pelo Largo do Rosário, passando, na Rua Direita, bem junto a sua amada Catedral-Basílica de Nossa Senhora do Pilar, cujos sinos como que soluçavam à passagem do cortejo, que lenta e religiosamente se dirigia à Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Aqui é concelebrada a Santa Missa de Corpo Presente, por Monsenhor Almir de Resende Aquino, pároco de Carmópolis de Minas e ex-pároco de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei, pelo padre José Jorge Nicolau, pároco de Ibituruna e pelo padre Francisco Rodrigues Lustosa, pároco de Coronel Xavier Chaves. À homilia, em belo panegírico, discorreu Monsenhor Almir sobre os méritos daquele que já iniciara sua vida na Eternidade. A seguir se deu a inumação no campo santo de Nossa Senhora do Carmo.
Confrade Acadêmico Luiz de Melo Alvarenga, se vossa ausência torna São João del-Rei empobrecida, a luminosidade de vossa vida e de vossa obra se torna inestimável tesouro, que muito a faz crescer em opulência; e o pranto derramado face a vosso desaparecimento do mundo dos mortais se transforma em jubiloso cântico de louvor ao Justo e ao Sábio, cuja memória permanece eternamente.
 

Ao Dr. Elpídio Antônio Ramalho, já na Eternidade

Rumo àquele Céu tão desejado durante toda tua vida, tu partiste. Encetaste a eterna viagem, de mansinho, sem anúncio e sem alarde, com a discrição que sempre caracterizou tuas atitudes. Bem de manhã, após o desjejum com as irmãs queridas, subiste para o pavimento superior de tua casa, o que representou apenas o primeiro estágio de uma ascensão muito mais elevada. E creio que naquele curto espaço de tempo entre a ascensão física e a espiritual tua vida terá celeremente corrido diante de ti: Viste-te menino, no aconchego do lar, com teus queridos pais, irmãos e demais parentes; achaste-te no Curso Anexo, no João dos Santos, no Instituto Padre Machado e na Escola Federal de Direito, em Belo Horizonte. Encontraste-te novamente em São João del-Rei, advogado recém-formado, dando início a tua bela carreira. Ingressaste nos umbrais imponentes do vetusto Colégio Santo Antônio, onde teve berço tua tão brilhante atuação no magistério, como emérito professor de Português. Pouco antes, percorreste de novo as ruas do Velho Continente, ungido pela piedade que te fez procurar a Roma Eterna, no Ano Santo de 1950. Fundaste aquele Colégio Estadual, que traz o nome de teu insigne orientador espiritual e amigo, “Cônego Osvaldo Lustosa” e que tão bem dirigiste com tua inteligência e com teu coração. Certamente te vieram à mente teus magistrais discursos, sobretudo em nossa Academia, e, acima de tudo, deverás ter lembrado todo o teu trabalho desenvolvido em obediência aos ensinamentos do Evangelho, dedicando-te sem reservas à Santa Religião, na ação e na oração, em teu incansável labor junto aos pobres socorridos da Conferência de São Vicente de Paulo. De modo especial, grata deve ter sido a recordação dos anos passados junto ao inesquecível Cônego Osvaldo Lustosa, quando participavas do Corpo administrativo do Hospital de Nossa Senhora das Mercês. E com que alegria pudeste fazer o lançamento da biografia por ti escrita do santo sacerdote, naquela memorável noite de 26 de janeiro de 1990, em nosso Teatro Municipal, quando tive a grata oportunidade de saudar-te.
Partiste para a Casa do Pai. Mas para os que ainda ficam nesta vida terrena, imensa será tua falta, dolorosa tua ausência!
Conheci-te como meu professor, meu colega de magistério, meu diretor, meu confrade na Academia e, principalmente, como grande e fiel amigo. Já não mais trocaremos mensagens em nossos natalícios, quando era eu quem sempre mais lucrava com a profundidade, elevação e beleza de tuas missivas congratulatórias. Já não mais te veremos caminhando serenamente por nossas ruas, a sós, ou acompanhado por tuas devotadas irmãs, que mais de perto sentirão o impacto de teu tão súbito desaparecimento deste mundo de provações.
A robusta fé que viveste e a constante esperança de que te alimentaste, delas já não mais precisas; mas, mergulhado que estás na Suprema Caridade, pedimos-te rogar a Deus por todos nós que aqui ficamos, na espera do reencontro final e definitivo, na inefável felicidade da Visão Beatífica.

A Fábio Nelson Guimarães

Foi chegada a hora de transpores os umbrais da Eternidade. Nela penetraste sereno e confiante, deixando atrás de ti precioso legado: um rico e perfumado roseiral constituído por tua amada família e pelos frutos do saber dedicada e carinhosamente semeado.
Se lembranças te acorreram no momento supremo da separação deste mundo, certamente contemplaste a ti mesmo, criança, no lar abençoado do Sr. Onésimo e D. Angelina, ao lado de teus diletos irmãos Fernando e Júnia. Reviveste naquele augusto momento os folguedos de infância nesta nossa velha urbe a que tanto querias e que tão profundamente conheceste; as aulas e os recreios no grupo escolar e no ginásio, os primeiros amigos e colegas e, na caminhada incessante da vida, a partida para a Escola da Aeronáutica, as férias generosas, banhadas na tépida piscina das Águas Santas, os bailes adolescentes com os tangos que sempre te cativaram e, depois, a mudança de rumo de tua vocação, quando abraçaste a Farmácia, a Filosofia e mais tarde o Direito. E veio o magistério fecundo na Escola Tiradentes e na Escola Estadual “Cônego Osvaldo Lustosa”, acompanhado das inúmeras atividades culturais, fundando e presidindo agremiações do mais alto nível. Privilegiados foram todos aqueles que puderam ser por ti guiados nos campos da Filosofia, das Ciências Físicas, Químicas e Biológicas e, sobretudo, nos vales, montes e planícies da Mestra História, iluminados pelo entusiasmo e pelo amor a ela dedicados. E foi na sala de aula que conheceste a eleita de teu coração e futura mãe de teus filhos, a sempre fiel e devotada Betânia. O ano de 1965, mais precisamente o 10 de julho, testemunhou teu casamento, do qual participei como organista. E como bênçãos de Deus, vieram os filhos: Flávia, Afrânio Augusto, Andréa e Márcia, a cujo lado se colocavam os filhos de tua inteligência: teus livros publicados.
Se uma enfermidade veio afastar-te do trabalho diuturno da sala de aula, não teve forças, entretanto, para priva-te de tuas múltiplas e intensas lides culturais, mormente em teu amado Instituto Histórico e Geográfico e nesta Academia de Letras, a qual freqüentaste ainda na véspera de teu trânsito rumo ao infinito.
Teus altos méritos te fizeram acumular os mais diversos títulos, medalhas e distinções, sem jamais te teres deixado vencer pela vaidade, guardando permanentemente exemplar modéstia.
Embora longo e admirável teu Curriculum Vitae, não se estenderão mais estas minhas considerações, pois a grande sinfonia de tua vida, com “Finale” antes intimista e instrospectivo que estridente e vibrante, foi composta para ser intensamente sentida e, não, descrita por palavras.
Lembra-me bem nosso último encontro nesta mesma sala, em sessão desta Academia. Não imaginava que tua páscoa se daria no dia seguinte, o primeiro de julho deste ano do Senhor de 1996, o mesmo Senhor que te acolheu em Seu Reino de Glória. Recebe, pois, nosso adeus e sê feliz para sempre!

Fonte: Jornal da Associação dos Aposentados e Pensionistas de São João del-Rei . ASAP

Mais informações:
Abgar Campos Tirado
Abgar Campos Tirado foi homenageado na Semana Santa Cultural 2011 . São João del-Rei
Cartilhas, livros, teses e monografias, personagens urbanos, diversos . local/global

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