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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Del Rey preserva o jeitinho mineiro . Bruno Albertim
Descrição
Menos famosa que Tiradentes e Ouro Preto, São João Del Rey oferece vida simples e tranquila no bom estilo de Minas
SÃO JOÃO DEL REY – Ela não tem a grandiosidade arquitetônica nem a vida mundana de Ouro Preto. Menos ainda a sofisticação pseudodespretensiosa de Tiradentes. Mas São João Del Rey, ainda acanhada quando o assunto é turismo em cidades históricas, nem por brincadeira poderia ser chamada de o patinho feio do circuito mineiro. Meio secreta, sim. Desinteressante, jamais. Acredite: São João pode surpreender.
Ou frustar – a depender da expectativa. Explica-se: São João João tem de sobra aquilo que as outras cidades históricas de Minas perderam ou vêm perdendo, a típica simplicidade e a tranquilidade de Minas. A vizinha Tiradentes virou um grande parque temático a céu aberto, de preços e aluguéis impraticáveis. Seus nativos foram quase todos substituídos por forasteiros, sejam eles os novos atores da indústria turística ou os hóspedes, sobretudo do Rio e de São Paulo, que lotam casarões convertidos em pousadas de luxo. Em São João , ainda encontramos autênticos mineiros – que, é bom lembrar, não estarão apenas servindo seu café de manhã ou arrumando seu quarto. Aqui, não é só a paisagem o grande elemento mineiro.
São João é assim: mantém a rotina e a personalidade de uma cidade interioranana que ainda não virou apenas um campo para diversão de quem traz muitos cartões de crédito na carteira. Com um sítio histórico bem preservado, totalmente percorrível a pé, a maior parte dos prédios seculares datam de mil setecentos e alguma coisa. Caso, por exemplo, da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de 1733, construção de torres lindamente octogonais, que se destaca entre as 13 igrejas antigas da cidade onde nasceu e viveu o presidente Tancredo Neves.
Ela pode ser vista de longe e é ponto de referência de qualquer lugar da cidade, dividida – como uma Paris da roça –, entre as margens direita e esquerda do pequeno Córrego do Lenheiro. À primeira vista, chama a atenção a monumentalidade das pontes e do cais diante do volume tão tímido d’água. Duas ou três vezes por ano, enchentes fazem a água ir de cais a cais.
Município universitário com aquele ar de quem acaba de ser locação de filme sobre romances estudantis interioranos, São João tem sua vida cultural marcada pela presença da Universidade Federal de São João Del Rey. É a instituição quem organiza o Inverno Cultural, festival do frio deles, com 11 dias de programação com oficinas, mostras de filmes, peças de teatro em vias e prédios públicos.
O último aconteceu na primeira quinzena de julho, quando cerca de 60 mil pessoas, a maior parte da cidade ou arredores, pôde desfilar casacos e cachecóis para aproveitar shows gratuitos de gente como Vanessa da Mata, Martin’ália e Hermeto Paschoal. Sim, os abrigos são indispensáveis. Se o dia permite camisetas, a noite nos invernos asssiste fácil, fácil aos termômetros baixarem os dez graus.
A dica é clara: vale a pena ir em qualquer época do ano. Mas se pretender fazer a clássica conjugação do pão de queijo com friozinho e cultura, agende-se para visitá-la no festival. A diferença é mais ou menos a mesma de ir a Olinda durante ou fora do Carnaval.
Ainda que no seu momento mais agitado, não é difícil interagir com a rotina local. Estudantes e boêmios batem ponto no Café Del Rey, uma lanchonete-bar perto do pequeno shopping e outros bares locais. Nos fins de semana, os roqueiros de plantão gastam as noites no Bar São Jorge, onde bandas se dedicam a covers de bandas como Led Zeppelin ou Creendence Clearwater.
No Mercado Municipal de São João, a liturgia é quase sempre a mesma. Pergunte por um doce, queijo ou cachaça e ganhe imediatamente uma prova. A dona do açougue, ainda que nunca tenha lhe visto, pode gentilmente reservar uma porção de linguiça artesanal para quando você for embora.
Publicado em 30.07.2009 . balbertim@jc.com.br
Fonte: Jornal do Comercio
Menos famosa que Tiradentes e Ouro Preto, São João Del Rey oferece vida simples e tranquila no bom estilo de Minas
SÃO JOÃO DEL REY – Ela não tem a grandiosidade arquitetônica nem a vida mundana de Ouro Preto. Menos ainda a sofisticação pseudodespretensiosa de Tiradentes. Mas São João Del Rey, ainda acanhada quando o assunto é turismo em cidades históricas, nem por brincadeira poderia ser chamada de o patinho feio do circuito mineiro. Meio secreta, sim. Desinteressante, jamais. Acredite: São João pode surpreender.
Ou frustar – a depender da expectativa. Explica-se: São João João tem de sobra aquilo que as outras cidades históricas de Minas perderam ou vêm perdendo, a típica simplicidade e a tranquilidade de Minas. A vizinha Tiradentes virou um grande parque temático a céu aberto, de preços e aluguéis impraticáveis. Seus nativos foram quase todos substituídos por forasteiros, sejam eles os novos atores da indústria turística ou os hóspedes, sobretudo do Rio e de São Paulo, que lotam casarões convertidos em pousadas de luxo.
São João é assim: mantém a rotina e a personalidade de uma cidade interioranana que ainda não virou apenas um campo para diversão de quem traz muitos cartões de crédito na carteira. Com um sítio histórico bem preservado, totalmente percorrível a pé, a maior parte dos prédios seculares datam de mil setecentos e alguma coisa. Caso, por exemplo, da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de 1733, construção de torres lindamente octogonais, que se destaca entre as 13 igrejas antigas da cidade onde nasceu e viveu o presidente Tancredo Neves.
Ela pode ser vista de longe e é ponto de referência de qualquer lugar da cidade, dividida – como uma Paris da roça –, entre as margens direita e esquerda do pequeno Córrego do Lenheiro. À primeira vista, chama a atenção a monumentalidade das pontes e do cais diante do volume tão tímido d’água. Duas ou três vezes por ano, enchentes fazem a água ir de cais a cais.
Município universitário com aquele ar de quem acaba de ser locação de filme sobre romances estudantis interioranos, São João tem sua vida cultural marcada pela presença da Universidade Federal de São João Del Rey. É a instituição quem organiza o Inverno Cultural, festival do frio deles, com 11 dias de programação com oficinas, mostras de filmes, peças de teatro em vias e prédios públicos.
O último aconteceu na primeira quinzena de julho, quando cerca de 60 mil pessoas, a maior parte da cidade ou arredores, pôde desfilar casacos e cachecóis para aproveitar shows gratuitos de gente como Vanessa da Mata, Martin’ália e Hermeto Paschoal. Sim, os abrigos são indispensáveis. Se o dia permite camisetas, a noite nos invernos asssiste fácil, fácil aos termômetros baixarem os dez graus.
A dica é clara: vale a pena ir em qualquer época do ano. Mas se pretender fazer a clássica conjugação do pão de queijo com friozinho e cultura, agende-se para visitá-la no festival. A diferença é mais ou menos a mesma de ir a Olinda durante ou fora do Carnaval.
Ainda que no seu momento mais agitado, não é difícil interagir com a rotina local. Estudantes e boêmios batem ponto no Café Del Rey, uma lanchonete-bar perto do pequeno shopping e outros bares locais. Nos fins de semana, os roqueiros de plantão gastam as noites no Bar São Jorge, onde bandas se dedicam a covers de bandas como Led Zeppelin ou Creendence Clearwater.
No Mercado Municipal de São João, a liturgia é quase sempre a mesma. Pergunte por um doce, queijo ou cachaça e ganhe imediatamente uma prova. A dona do açougue, ainda que nunca tenha lhe visto, pode gentilmente reservar uma porção de linguiça artesanal para quando você for embora.
Fonte: Jornal do Comercio