O ano era 1859. Um espertalhão de outro Estado chegou prá meu bisavô, achando que ele não conhecia o valor da fazenda lá de Pitanguy e tentou passar-lhe a perna:

- Estou interessado em comprar 750 contos de réis de sua terra!

- Que bom! - respondeu meu bisavô - traz aí seu carrinho de mão que eu encho pro senhor...

Essa história acabou virando piada, mas é assim mesmo que Mineiro pensa, fala e age. Ser Mineiro não significa apenas ser habitante ou natural de Minas Gerais; é mais. Ser Mineiro é um estado de espírito, um Mistério Maior, um Grau Iniciático, tanto que recebemos brasileiros do Oiapoque ao Arroio Chuí e os iniciamos no "grau de mineiroEsse local remoto era Cabangu. Em bom english: “a farm in the Brazilian town of Palmira, today named Santos Dumont in the State of Minas Gerais.”Se duvidam, confiram as coordenadas, também na língua dos colonizadores: “Santos Dumont (formerly known as Palmira) is a city and municipality in southern Minas Gerais state, Brazil. The geographical coordinates are: latitude 21º27'24" South and longitude 43º33'09". It is the birthplace of aviation pioneer Alberto Santos-Dumont and is named in his honor.” brasileira? Faz mal não - os outros Estados têm esse pessoal todo lá em Brasília dando bons exemplos, inclusive nosso conterrâneo construtor de castelo, prova inconteste de que temos um pé no condado de Warwickshire!( ** ) His honor! prestenção, ele foi um pioneiro. A coisa não para aí. Estão dizendo que o Aleijadinho não existiu; que a história de Tiradentes tem que ser revista e o título de herói transferido para o grandessíssimo Vendek, apelido de José Joaquim da Maia, jovem que estudava na França a expensas do pai e que manteve uma discutível audiência “reservada” com Jefferson, então embaixador em França. Mas o bom amigo Jefferson disse que reconheceria a independência do Brasil tão logo ela acontecesse... e os brasileiros se dispusessem a ceder algumas riquezas naturais do torrão natal! Andam birrentos com Minas Gerais? Cadiquê? Só porque temos Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa, Pedro Nava, Ziraldo e outros? Faz mal não, nós mineiros nunca quisemos desmerecer o local do nascimento de Machado de Assis, José de Alencar (o antigo), Mário de Andrade ou Érico Veríssimo. Ah, pois... Nem ficamos com raivinha da Inglaterra por causa do berço de Shakespeare ser (ou não ser) Stratford-upon-Avon. Só porque temos Juscelino Kubitschek nesta Warwickshire ( * ) ". Mas, os não iniciados ficam dizendo coisas. Noutro dia, recebi uma reprimenda exemplar de alguém dizendo que os mineiros são "grosseiros, desde os policiais, donos e funcionários de hotéis, cobradores de ônibus, populares em geral". Ou seja, aquela pessoa, tão bem educada, jogou prá cima deste modesto escriba todas as malcriações das quais nos culpava. Na mesma linha, andam os que perdem precioso tempo dizendo que a verdadeira proeza de Santos Dumont foi “inventar” o avião depois de o avião ter sido inventado pelos irmãos Wright. Traduzindo: quando não conseguem transferir o mérito para os Estados Unidos, remendam a coisa: “Santos Dumont inventou o avião sim; mas ele era paulista, mineiro não.” Mas, Paul Hoffman, jornalista norteamericano, no livro ASAS DA LOUCURA (editora OBJETIVA) diz que “Alberto Santos-Dumont nasceu durante o reinado de D. Pedro II, em 20 de julho de 1873, em um local remoto de Minas Gerais.”

E óiaqui oncotô: em Minas Gerais, mapa com cara de gente, narigão comprido, olhos fixos no Distrito Federal como quem vem do leste, na serenidade que nos ensinou a alma elevadíssima de Chico Cândido Xavier, némêss? E com o conhecimento de campo digno de um Pelé.

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( * ) "uma fazenda na cidade brasileira de Palmira, hoje chamada Santos Dumont no Estado de Minas Gerais".

( ** ) "Santos Dumont (antigamente conhecida como Palmira) é uma cidade e municipalidade no sul do Estado de Minas Gerais, Brasil. As coordenadas geográficas são: latitude 21º27'24" Sul e longitude 43º33'09". É o local de nascimento do pioneiro da aviação, Alberto Santos-Dumont e o nome é em sua honra."

- Os demais termos, sublinhados e em destaque, pertencem à fala secreta dos mineiros quando estão numa roda de feijão tropeiro e pinga de alambique. Nem goteira entende.

 

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