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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Antônio Justino Filho/Sô Nico Justino | Homenagem de Luiz Cruz
Descrição
Fonte e Fotos: Luiz Cruz Abril 2024
SÔ NICO JUSTINO – ANTÔNIO JUSTINO FILHO (1941-2024).
Em 1980, foi implantado o Projeto Tiradentes, idealizado e coordenado por Manfred A Max-Neef (1932-2019), economista e ambientalista chileno. Tal projeto contou com o apoio do SENAC nacional, através de seu presidente, Maurício Magalhães, de Yves Alves, da Rede Globo/Fundação Roberto Marinho e da OIT - Organização Internacional do Trabalho. Tiradentes ainda adormecia em sua profunda decadência econômica e o Projeto Tiradentes chegou para acordar e propiciar subsídios para que a cidade pudesse dar os primeiros passos. Para tal, nada melhor que resgatar e valorizar o “fazer” e as antigas “habilidades” dos artesãos locais. Deste projeto, surgiu a CAT- Corporação dos Artesãos de Tiradentes, que congregou os mestres para formar nova geração de produtores de artesanato. Dentre os mais aclamados estavam Pedro Gameleiro, Tião Paineira, Zico, Babá, Niko Justino e outros.
A CAT tinha Vânia Lima Barbosa à frente e com o caminhão buscava e levava a produção dos nossos mestres. A Corporação teve uma loja e em toda programação cultural da cidade, grandes exposições foram montadas para a comercialização. O artesanato impulsionava a economia, fazia a movimentação do dinheiro e contribuía para a melhoria da qualidade de vida. Depois, a CAT participou das feiras nacionais e apresentou o fabuloso artesanato não somente de Tiradentes, mas do Campo das Vertentes a públicos distintos. Nesse período, a produção artesanal foi um dos melhores cartões de apresentação de Tiradentes e região.
Tivemos a honra ao ser recebido por Sô Nico Justino diversas vezes para conversar. Homem de educação refinada, atencioso, que gostava de apresentar a sua oficina e o seu fazer. Depois de trabalhar em tantas frentes, inclusive nas fábricas de peças de estanho, decidiu se dedicar à produção de lampiões, luminárias e arandelas. Sô Nico foi um dos responsáveis pela inovação da produção artesanal, ao apurar os desenhos, usar os materiais mais adequados e executar as peças com capricho – isso fez a diferença!
Sentado em sua oficina, gostava de nos contar como foi a vida no antigo Porto Real da Passagem: – A vida era pacata. O silêncio só era rompido pelo trem que cruzava o lugar para buscar cascalho a ser esparramado ao longo da linha da EFOM. Ou quando pousava um avião, no campo de aviação, todos corriam para perto do pirulito com a biruta, a indicar a direção do vento, tudo se transformava por pequenos momentos. Contava sobre as aventuras na Lagoa dos Cordões, onde iam pescar e outros apenas nadar. – Sempre respeitei a lagoa por suas águas profundas e por tantas lendas, surgidas desde os tempos da mineração de ouro. Sô Nico conheceu a Serra de São José como poucos, cada trilha, cada beta, cada poço, cada canto.
Como foi bom assentar, poder olhar naqueles olhos tão azuis e ouvir aquelas falas significativas de um homem simples, mas que prezava a vida e sua família. Sô Nico gostava de ver a prole ao seu redor, bem perto de suas vistas e sob seus cuidados. Com orgulho, falava sobre cada um deles e ao constatar o crescimento do núcleo, ficava todo inflamado. Manteve distinção especial à sua esposa, sempre se referia a ela com solenidade.
Ficamos todos felizes em poder registrar a história do Sô Nico no livro “Minha Cidade – Minha Identidade”, organizado por Betânia Nascimento Resende e Lígia Cristina de Freitas, caprichosamente editado pela Mandala Produção e lançado em 2017.
Sô Nico partiu recentemente, mas ficamos na certeza de que foi um mestre artesão dos melhores e que muito contribuiu para que Tiradentes e a região ganhassem projeção e reconhecimento, por sua produção tão rica e tão diversa. Claro, além de ser cidadão exemplar e bom chefe de família.
Nosso abraço ao seu núcleo familiar e aos seus amigos.
Fonte: Luiz Cruz