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Tancredo para sempre . Rogério Medeiros Garcia de Lima
Descrição
São-joanense. Desembargador do Tribunal de Justiça/MG; artigo publicado pela revista Em voga, São João del-Rei/MG, nº 7, novembro/dezembro de 2018, p. 5.
“Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la” (Tancredo Neves).
Nessa difícil travessia do Brasil rumo à moralização das práticas políticas, não podemos – sobretudo os são-joanenses – apagar da lembrança a figura do saudoso presidente Tancredo de Almeida Neves.
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Dr. Tancredo, amigo de meu avô Euclides, tio Diomedes e papai.
Era homem simples, distinto, inteligente, culto, íntegro, amigo fiel e cativante narrador de casos.
Na minha infância, frequentemente encontrava o político em São João del-Rei ou no Rio de Janeiro. Ele assumia com dignidade a condição de opositor ao regime militar. Distante dos poderosos de plantão, sobrava-lhe tempo para se dedicar à família, aos amigos e à paixão pelas leituras.
Não esqueço a vibrante influência de D. Risoleta Tolentino Neves, esposa de fibra e caráter, na carreira do marido.
Quando iniciei o curso de Direito, Dr. Tancredo aconselhou-me a ler muito. Não apenas livros jurídicos, mas boa literatura. Machado de Assis e Eça de Queirós eram boa iniciação. Segui à risca e com proveito a boa lição.
Em 1983 e 1984, ainda estudante, trabalhei na atarefada assessoria jurídica do governador Tancredo Neves. Conheci o Direito Administrativo e foi “amor à primeira vista”. Que aprendizado! Devo, portanto, ao saudoso amigo a sólida formação que me propiciou prosseguir a carreira jurídica e acadêmica.
O amor por São João del-Rei aflorou quando o então deputado estadual Tancredo Neves apresentou emenda à Constituição Mineira de 1946, da qual resultou a construção da usina hidrelétrica de Itutinga. Foi movido pelas lembranças do passado de estudante e leitor voraz. Frequentemente as leituras noturnas eram interrompidas pela falta de energia na cidade. Ele mesmo confessava à sobrinha e historiadora Lucília, minha amiga queridíssima: “Isso é que me levou a entrar na política e só por isto eu estou na política até hoje. Foi para tirar a minha terra das escuras, da escuridão em que ela vivia” (in SILVA, Vera Alice Cardoso da e DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Tancredo Neves: a trajetória de um liberal. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 117).
Condutor da transição democrática, o destino arrebatou-lhe a vida antes da posse efetiva no cargo de Presidente da República. Sua sina evocou a bíblica figura de Moisés, que libertou o povo judeu do cativeiro egípcio, mas faleceu antes de chegar à Terra Prometida.
O sóbrio túmulo de Tancredo Neves, no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei, ostenta o epitáfio: “Terra minha, amada, tu terás os meus ossos, o que será a última identificação do meu ser com este rincão abençoado”.
Era um são-joanense verdadeiro. Amava sinceramente a terra natal e nunca deixou de frequentá-la.