a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

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Cinema: As cores de todas as emoções . Marco A. Camarano

Descrição

O que os anos 70 tinham de cafona em roupas e sapatos, tinham em brilho e efervescência cultural. Havia uma juventude que fazia fila nas bilheterias dos cinemas para assistir, acreditem, aos filmes de arte, os chamados filmes de autor, aqueles que levavam a assinatura indiscutível de Bergman, Fellini, Godard, Antonioni, Glauber, Buñuel, Truffaut, de Sicca e tantos outros que inundaram as telas com belos enigmas.

Naqueles longínquos anos, os alunos da  Faculdade Dom Bosco, cujo curso de psicologia já gozava do mais alto prestígio, criou o Cine Clube que programava, nas manhãs de domingo no Cine Glória do qual eu era o gerente , sessões especiais com os filmes que nos marcaram de fato. Muitos espectadores os repudiavam por serem difíceis de entender. Os alunos do curso de psicologia mimeografavam a sinopse do filme, acrescentavam algum comentário e distribuíam os folhetos antes de começar a sessão. Após a mesma, havia um debate com os professores.

Filmes como “A noite”, de Antonioni, “Morangos Silvestres”, “O ovo da serpente”, “Gritos e Sussurros”, “Persona”, “O sétimo selo” e outros de Bergman que nos encantavam, no deprimiam e nos desorientavam. O que o diretor queria dizer com determinada cena ou imagem que permanecia imóvel na tela por infindáveis segundos ou até minutos. De Fillini, os inesquecíveis “La dolce vita”, “Noites de Cabíria”, “Fellini 8 e ½”, maravilhas em preto e branco, mas que em nossas lembranças ainda guardam as cores de todas as emoções. E Buñuel, com seu “Anjo exterminador” e “O discreto charme da burguesia”. Surpreendentes!

Era também o final da “Nouvelle vague”, filmes franceses da década de 60, quase todos em preto e branco, que o Cine Teatral Artur Azevedo exibia todas as quartas-feiras. E havia público, podem acreditar. Era outra época e o nível as discussões era outro. Nos bares, discutia-se política, literatura e filmes.

Assistindo ao filme BATISMO DE SANGUE, de Helvécio Ratton, fui arremessado àquele ideal. Naquele tempo, discutiam-se os problemas do Brasil, pois vivíamos num regime totalitarista. Os filmes e os livros nos mostravam uma realidade muito diferente do ufanismo do “pra frente, Brasil” ou “Brasil, ame-o ou deixe-o”. E não apenas os filmes nos proporcionavam visões de terras distantes, mas também a música, os fantásticos festivais promovidos nacionalmente pela TV Record, e aqui em São João del-rei pelo JAMAR, um grupo de jovens voltado para a cultura. Tudo isso e mais as serestas e peças de teatro que o TUNIS e o TECOS apresentavam, formava um movimento cultural super abrangente durante todo o ano em nossa cidade.

Marco A. Camarano
Graduado em Letras, diretor e autor teatral.

Revista Com a palavra . Dez/Jan/Fev 2008

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