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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Sustentabilidade urbana e afetiva . Alzira Agostini Haddad
Descrição
São João del-Rei faz mais um aniversário e segue registrando a sua história cada vez que opta por este ou por aquele caminho, como acontece em nossa vida.
O desenvolvimento sustentável de nossas cidades, que se dá através do democrático e participativo consenso e prática dos critérios legais conquistados, do diálogo ético e do fortalecimento dos avanços sócio-eco-culturais, é o nosso bem mais precioso.
Uma cidade desenvolvida e moderna – pressupondo-se as conquistas e a consolidação destas conquistas, os interesses, os valores e os seus princípios – conhece o seu caminho percorrido e suas referências, se diferencia pela sua singularidade.
Como não citar o grande exemplo da Itália, que representa 60% do patrimônio de toda a Europa – proporcional ao que Minas representa no nosso país – e preservam muito bem o seu legado. O profissionalizam de modo exemplar como fator de desenvolvimento humano, urbano e econômico. A identidade cultural das cidades preservadas é facilmente percebida e automaticamente usufruída; museu a céu aberto em toda a sua dimensão, ao longo de todo o seu percurso. Criam riquezas através de suas joias/patrimônio; geram ocupação, trabalho, renda e muitos produtos; valorizam e potencializam os seus roteiros turísticos, resignificam seus destinos; compartilham suas experiências, ganhando gratuita e permanentemente o prestígio, o reconhecimento e a mídia de todo o mundo.
Cidade é a soma de tudo na nossa qualidade de vida, nos acolhe, emociona; nos deixa tão tristes quanto indignados, geram fatos que custaram e custam o labor, a alma e a vida daqueles que se entregaram e se entregam às suas causas. Contrastes que revelam as degradações ou a delicadeza, o respeito e a elegância nos comportamentos e o esforço permanente pela preservação.
As Ágoras eram as praças principais na Grécia antiga onde o povo se reunia para as discussões políticas, eram o espaço do diálogo e da cidadania e dos interesses coletivos. E viviam o paradoxo das arenas e coliseus, onde se praticavam impunemente barbáries impressionantes. Assim o mundo caminha, se definem as cidades, as relações e o que chamam consequências. Seremos eternos gladiadores que vencem as grandes feras, até o inexorável dia que somos vencidos, pagando com a própria vida/relações/cidade a eterna ilusão de que somos donos do mundo e do tempo? De acordo com o dito popular: a maledicência ou a decisão e atitude imprópria é como jogar penas ao vento – jamais se recuperam todas. Muitas cidades de nosso país vêm se descaracterizando progressivamente, muito diferente das mais de centenas antigas cidades e países do velho continente.
Também em nossos relacionamentos, mesmo sendo assertivos e coerentes, acontece de vivenciarmos ruídos de comunicação e interpretações contraditórias, que muitas vezes não são reconhecidas nem mesmo pelos próprios protagonistas. Como as nossas atitudes do dia a dia de uma história inteira, de uma vida compartilhada, não conseguem muitas vezes um grau de maturidade e confiabilidade via os próprios fatos? Quem se dá ao trabalho de considerar fidedignamente as situações antes de julgar ou agir precipitadamente, dissonante, alterando as relações ou as paisagens urbanas?
O que define uma situação é a proporção entre o seu nível de frequência e intensidade, não podemos nos nortear por situações e atitudes pontuais, sem contextualizá-las profundamente. O que tem prevalecido em nossa vida ou cidade como política e desenvolvimento sócio-cultural-econômico-afetivo: descaracterização ou preservação, bem estar ou mal estar.
São João del-Rei é uma cidade reconhecida como histórica e importante no cenário nacional, nossas manifestações culturais são magníficas. Somos muito beneficiados pelas conquistas importantes que contaram e contam com inúmeros e grandes agentes nesta infinita rede de relações que segue tanto tenaz quanto intrincada.
A nossa arquitetura, registro concreto da nossa história, não pode se perder ou sumir da paisagem urbana que ajudou a construir, virar apenas lembrança nos livros, nas pesquisas, sumir nos incêndios, inundações, demolições, na nossa memória – e ficar impedida de exercer a sua missão mais nobre: a de personalizar a nossa identidade cultural. Há quinze anos estamos registrando e radiografando culturalmente a nossa cidade no banco de dados e imagens São João del-Rei Transparente, mapeando projetos, agenda cultural, pesquisas, diversas contribuições e documentos sobre nossa cidade.
E a nossa história segue registrando a nossa vida, nossa cultura, tradições e vai apresentando os respectivos anjos da guarda, mecenas, artistas, grupos e entidades culturais, guardiões, pacificadores que aprimoram tão brilhantemente o nosso legado. Fica também registrado os omissos, os pseudo portadores do progresso, da paz e da união de pseudo democracias, que permitem brechas para a destruição do nosso patrimônio afetivo ou urbano.
Recentemente vivenciamos em São João del-Rei dois grandes exemplos: a atitude indiferente aos critérios de proteção do Plano Diretor, do Estatuto da Cidade, da Agenda 21 da Cultura, dos esforços nacionais e internacionais que a cidade vem persistentemente buscando e conquistando, na demolição implacável de dois casarões no Bairro do Bonfim. Por outro lado, o maravilhoso projeto de trabalho conjunto que criou parâmetros para as placas comerciais, impedindo a poluição visual crescente de nossa cidade.
Os fatos revelam quando os esforços são orientados pelo interesse individual ou pelo interesse coletivo.
Nossa querida “Princesinha do Oeste”, que as próximas gerações possam usufruir de todas as qualidades que você conquistou e se orgulhar de fazer parte desta biografia.
* coordenadora da Atitude Cultural e do Portal www.saojoaodelreitransparente.com.br