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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Notas sobre o Bairro das Fábricas . Antônio Gaio Sobrinho
Descrição
A grande São João del-Rei pode ser dividida em seis zonas geográfico-demográficas ou bairros originários originantes que seriam: Centro, Tijuco, Bonfim, Senhor do Monte, Fábricas e Matosinhos. Como o Centro e o Matosinhos já tiveram seus historiadores, espera-se que os demais também o tenham um dia. Enquanto isso, para ajuda dos estudantes do primeiro grau, vou, neste e nos próximos números do jornal da ASAP, fazer algumas anotações sobre eles. Começo pelo Bairro das Fábricas.
Dois caminhos, no século XVIII, partiam da Vila de São João del-Rei em direção nordeste/norte: o primeiro, atravessando pelo Matola e Matosinhos, ia em direção à ponte do Porto Real da Passagem; o segundo atravessava a região da mina do Barro, seguia pelas atuais ruas Coronel Tamarindo, Capitão Vilarim, Alexina Pinto, Dom Silvério, rumo ao Lava-Pés, Bengo e Fazenda do Pombal. Pode ser observado na pintura de Rugendas, em 1824.
A Rua Dom Silvério, é, sem dúvidas, uma das mais antigas do Bairro das Fábricas, e sua primitiva denominação era Rua das Forras, já usual em documentos de 1877. Um registro de aforamento, de 1805, fala de um título de terras concedidas a Maria Messias Lopes da Guerra, preta forra, na paragem adiante do Barro Vermelho, indo para o Lava-Pés. E um outro relata a concessão de terras a João Batista da Silva, na paragem chamada o Lava-Pés, subúrbio da Vila.
Em fins do século XIX, o prolongamento da Estrada de Ferro Oeste de Minas, pelo ramal do sertão; a fundação da Fábrica de Tecidos Sanjoanense, em 1891, que, em certo momento depois de 1927, construiu, ao lado, 33 casas para alugar a seus operários; o estabelecimento, em 1898, do Cemitério Municipal no Quicumbi, foram fatores importantes na formação da grande Avenida. Em 1912, ela receberia o nome de Leite de Castro em homenagem ao engenheiro Joaquim Domingues Leite de Castro, que dirigiu, por algum tempo, a nossa Estrada de Ferro. Como chefe político local, foi vereador, agente executivo municipal entre os anos de 1898 e 1912, deputado estadual, federal e senador.
Os imigrantes italianos, alguns se estabeleceram nas diversas colônias do Marçal, José Teodoro, Bengo e Recondengo, outros começaram a construir residências à margem esquerda do Córrego do Lenheiro, onde se formou a Rua dos Italianos, hoje Cristóvão Colombo.
Posteriormente, já nos inícios do século XX, outros fatores concorreram na formação do Bairro. Entre eles: a fundação do Albergue Santo Antônio, em 1912, pela União Popular, com a colaboração do Frei Cândido Wroomans, cujo nome serviria posteriormente para denominar a rua que sobe da Avenida Leite de Castro em direção ao Santuário Dom Bosco; a fundação do Curtume Tortoriello, em 1924, em cujo espaço, mais tarde o Prefeito Otávio de Almeida Neves construiria o Terminal Rodoviário da cidade; o estabelecimento de novas fábricas de fiação e tecelagem que, somadas à Sanjoanense, acabaram por fornecer o nome do Bairro: Fábrica Brasil, de 1912, Tecelagem Dom Bosco, em 1936, Tecelagem Moisés Ltda; a criação da Paróquia Dom Bosco, em 1936, e a vinda dos Salesianos, em 1939; a fundação, pelos salesianos, do Oratório Festivo São João, em 1940, no local do anterior Liceu de Artes e Ofícios, onde hoje está situada a CACEL e a posterior inauguração do Colégio São João no alto da colina do Albergue.
A vida escolar do Bairro parece que teve seu início em 1912, com uma escola primária municipal, regida pela professora Maria de Oliveira Freitas. Em 1925, a Fábrica Brasil doou terreno para a construção do Grupo Escolar Aureliano Pimentel, que começou a funcionar em 1929. No ano de 1956, ao Colégio São João se anexaria a Faculdade Dom Bosco, que viria a ser, a partir de 1987, o Campus Dom Bosco da Funrei, atual UFSJ. Ao lado ao Colégio São João, em 1956, se estabeleceu também o Instituto Auxiliadora, das Irmãs Salesianas. Depois foi a vez de aparecerem, em 1966, a Escola Estadual Garcia de Lima e a APAE, em 1967; em seguida, em 2004, transferiu-se para o Bairro o IPTAN, sediado precariamente nas dependências da antiga Fábrica Dom Bosco.
Atualmente o Bairro, com o fechamento de algumas das antigas fábricas de fiação e tecelagem, perdeu, em parte, a razão de ser do seu nome, mas continua a desenvolver-se em razão de outras atividades, como agências de automóveis e de motos, jardins de infância, postos de gasolina, supermercados, fábrica de estanhos John Somers, hotéis, igrejas protestantes e evangélicas, com destaque para a mais antiga delas, situada na Rua Paulo Freitas, a Igreja Presbiteriana. E, atualmente o novo quartel da polícia militar de Minas Gerais.
Longas chaminés soltando fumaças; sirenes apitando alto e demoradas, no revezamento dos turnos de operários; operários em macacões amarelos e belas operárias em saias azuis se madrugando lépidas pelas ruas; laboriosas italianas que vinham das colônias vender verduras e frutas, se derretendo sob enormes balaios a lhes gangorrar nos ombros; seminaristas em filas e oratorianos em gritaria; o forte cheiro do curtume Tortoriello; urubus em giros no céu e uma ponte em arcos, tudo isso fazia a paisagem do bairro ainda em meados do século XX. E que bonito era o trem-de-ferro, descendo sacolejante em frias manhãs e subindo noturnos, soltando labaredas, fagulhas e fumaça, apitando oitavado, levando saudades e trazendo alegrias.
Antônio Gaio Sobrinho
Fonte: Jornal da Asap
Dois caminhos, no século XVIII, partiam da Vila de São João del-Rei em direção nordeste/norte: o primeiro, atravessando pelo Matola e Matosinhos, ia em direção à ponte do Porto Real da Passagem; o segundo atravessava a região da mina do Barro, seguia pelas atuais ruas Coronel Tamarindo, Capitão Vilarim, Alexina Pinto, Dom Silvério, rumo ao Lava-Pés, Bengo e Fazenda do Pombal. Pode ser observado na pintura de Rugendas, em 1824.
A Rua Dom Silvério, é, sem dúvidas, uma das mais antigas do Bairro das Fábricas, e sua primitiva denominação era Rua das Forras, já usual em documentos de 1877. Um registro de aforamento, de 1805, fala de um título de terras concedidas a Maria Messias Lopes da Guerra, preta forra, na paragem adiante do Barro Vermelho, indo para o Lava-Pés. E um outro relata a concessão de terras a João Batista da Silva, na paragem chamada o Lava-Pés, subúrbio da Vila.
Em fins do século XIX, o prolongamento da Estrada de Ferro Oeste de Minas, pelo ramal do sertão; a fundação da Fábrica de Tecidos Sanjoanense, em 1891, que, em certo momento depois de 1927, construiu, ao lado, 33 casas para alugar a seus operários; o estabelecimento, em 1898, do Cemitério Municipal no Quicumbi, foram fatores importantes na formação da grande Avenida. Em 1912, ela receberia o nome de Leite de Castro em homenagem ao engenheiro Joaquim Domingues Leite de Castro, que dirigiu, por algum tempo, a nossa Estrada de Ferro. Como chefe político local, foi vereador, agente executivo municipal entre os anos de 1898 e 1912, deputado estadual, federal e senador.
Os imigrantes italianos, alguns se estabeleceram nas diversas colônias do Marçal, José Teodoro, Bengo e Recondengo, outros começaram a construir residências à margem esquerda do Córrego do Lenheiro, onde se formou a Rua dos Italianos, hoje Cristóvão Colombo.
Posteriormente, já nos inícios do século XX, outros fatores concorreram na formação do Bairro. Entre eles: a fundação do Albergue Santo Antônio, em 1912, pela União Popular, com a colaboração do Frei Cândido Wroomans, cujo nome serviria posteriormente para denominar a rua que sobe da Avenida Leite de Castro em direção ao Santuário Dom Bosco; a fundação do Curtume Tortoriello, em 1924, em cujo espaço, mais tarde o Prefeito Otávio de Almeida Neves construiria o Terminal Rodoviário da cidade; o estabelecimento de novas fábricas de fiação e tecelagem que, somadas à Sanjoanense, acabaram por fornecer o nome do Bairro: Fábrica Brasil, de 1912, Tecelagem Dom Bosco, em 1936, Tecelagem Moisés Ltda; a criação da Paróquia Dom Bosco, em 1936, e a vinda dos Salesianos, em 1939; a fundação, pelos salesianos, do Oratório Festivo São João, em 1940, no local do anterior Liceu de Artes e Ofícios, onde hoje está situada a CACEL e a posterior inauguração do Colégio São João no alto da colina do Albergue.
A vida escolar do Bairro parece que teve seu início em 1912, com uma escola primária municipal, regida pela professora Maria de Oliveira Freitas. Em 1925, a Fábrica Brasil doou terreno para a construção do Grupo Escolar Aureliano Pimentel, que começou a funcionar em 1929. No ano de 1956, ao Colégio São João se anexaria a Faculdade Dom Bosco, que viria a ser, a partir de 1987, o Campus Dom Bosco da Funrei, atual UFSJ. Ao lado ao Colégio São João, em 1956, se estabeleceu também o Instituto Auxiliadora, das Irmãs Salesianas. Depois foi a vez de aparecerem, em 1966, a Escola Estadual Garcia de Lima e a APAE, em 1967; em seguida, em 2004, transferiu-se para o Bairro o IPTAN, sediado precariamente nas dependências da antiga Fábrica Dom Bosco.
Atualmente o Bairro, com o fechamento de algumas das antigas fábricas de fiação e tecelagem, perdeu, em parte, a razão de ser do seu nome, mas continua a desenvolver-se em razão de outras atividades, como agências de automóveis e de motos, jardins de infância, postos de gasolina, supermercados, fábrica de estanhos John Somers, hotéis, igrejas protestantes e evangélicas, com destaque para a mais antiga delas, situada na Rua Paulo Freitas, a Igreja Presbiteriana. E, atualmente o novo quartel da polícia militar de Minas Gerais.
Longas chaminés soltando fumaças; sirenes apitando alto e demoradas, no revezamento dos turnos de operários; operários em macacões amarelos e belas operárias em saias azuis se madrugando lépidas pelas ruas; laboriosas italianas que vinham das colônias vender verduras e frutas, se derretendo sob enormes balaios a lhes gangorrar nos ombros; seminaristas em filas e oratorianos em gritaria; o forte cheiro do curtume Tortoriello; urubus em giros no céu e uma ponte em arcos, tudo isso fazia a paisagem do bairro ainda em meados do século XX. E que bonito era o trem-de-ferro, descendo sacolejante em frias manhãs e subindo noturnos, soltando labaredas, fagulhas e fumaça, apitando oitavado, levando saudades e trazendo alegrias.
Antônio Gaio Sobrinho
Fonte: Jornal da Asap