São João del Rei Transparente

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Tipo: Artigos / Cartilhas / Livros / Teses e Monografias / Pesquisas / Personagens Urbanos / Diversos

Escopo: Local / Global

 

A verdadeira história do Edifício São João

Descrição

Polêmico para muitos, inusitados para alguns, ousado para outros, eis que, foi erguido em nossa cidade o Edifício São João. 

O Diário de Minas, no ano de 1953, do correspondente Joanino Lobosque, já noticiava: “João Hallak, presidente do Minas, de São João Del Rei, construirá um edifício de dez andares e custará dez milhões de cruzeiros e , ainda, que será concluído dentro de dois anos”. Dizia mais, o artigo: “O Minas F.C,  tradicional agremiação esportiva da cidade, construirá um majestoso edifício de dez andares, que pode ser considerada a iniciativa mais arrojada do interior mineiro. O importante arranha-céu comportará de 32 apartamentos, duas grandes lojas no andar térreo, sendo que a sede do clube ficará localizada no primeiro andar, dispondo de um amplo salão de festas com uma área de 400 metros quadrados, o maior do Estado”. 

João Hallak, embevecido com o despontar do crescimento econômico da cidade e sob influência de alguns entusiastas , como por exemplo: João Lombardi, o próprio Prefeito Padre Oswaldo da Fonseca Torga, Dep. Augusto Viegas, Dr. Belizário Leite de Andrade, segmentos sociais diversos, e, ainda, com o apoio da diretoria do Minas Futebol  Clube e da Associação Comercial de S. João Del Rei,  não se hesitou em fundar  , inclusive, com o seu amigo Tancredo Neves, uma incorporação denominada CIVIL( Construtora Imobiliária “ Vitória” e Incorporadora Ltda), localizada na Rua Manoel Anselmo, acreditando que o progresso da cidade seria do lado de cá do centro histórico e cultural , ou seja, da Ponte da Cadeia sentido Av. Tiradentes, aos moldes da cidade de Salvador(BA) e outras, para construir o prédio mais ousado de São João del Rei, o Edifício São João, não só de dez andares mas, de doze andares, com 42(quarenta e dois) apartamentos, duas lojas no térreo e legando para o Minas, a sua sede social( o “Salão Nobre dos Espelhos)”. Portanto, embora sendo hoje o prédio, por muitos, polêmico, dado à sua  arquitetura moderna numa cidade que preserva o patrimônio histórico, diga-se de passagem, poucas cidades do interior tiveram na época a obstinação de possuí-lo. Era um orgulho para a nossa cidade e, porque não, para  o Estado de Minas.

Construção, por sinal, registra-se, trazendo grande prejuízo financeiro para os seus idealizadores pelo seu longo tempo  de construção( iniciado com a candidatura de J.K à presidência do Brasil -1.955/1956) e terminado nos idos do ano 61 quando o mandato do tão idolatrado Juscelino já se achava findo, deixando o país numa situação econômica inflacionária dantes jamais conhecida, em virtude de sua meta de governo “ Construir o Brasil 50 anos em 5” 

O terreno do prédio pertencia ao Minas F.C, clube em que João Hallak foi presidente por 17 anos, medindo 21 metros de frente por 40 de fundo, tendo, dessa forma, a construtora CIVIL permutado o terreno com o clube em troca  de sua sede social, no primeiro pavimento. 

Segundo Jorge Taier, conceituado arquiteto de nossa cidade que, ainda criança acompanhou a construção do prédio, e hoje, profundo conhecedor de fundação, relata que a sua fundação foi direta. Noticia-nos, ainda, Jorge Taier, que, a obra foi realizada pela Construtora Elias & Elias, de Aziz Elias Farah( SP), sendo o calculista, Orlando Falcovisk, e o mestre do obra, Michael . E, o que é muito interessante, as betoneiras para fazerem a massa de cimento eram tocadas a manivelas. O revestimento , parte do interior e todo o exterior, conforme se vê, pastilhas uma a uma. Aliás, mais esta ousadia para a época. 

Quando o prédio já se achava, após dois anos de construção, com a estrutura de concreto( esqueleto) pronta até o décimo segundo andar, foi  afixado no seu cume, um retrato gigante de Juscelino, que se achava em campanha eleitoral( 54/55) como candidato à presidência da República. Tancredo Neves, que possuía 4(quatro) cotas , no valor nominal de R$ 50.000,00( Cinqüenta mil cruzeiros), vendeu ou transferiu para a incorporadora a sua parte, remanescendo na  CIVIL, apenas João Hallak e Eduardo Ávila, que eram também diretores da indústria têxtil, Fiação e Tecelagem São João Ltda.  Todavia,  no segundo ano de governo de Juscelino, a inflação já deflagrava e a incorporadora que havia vendido na planta os quarenta e oitos apartamentos e as duas lojas térreas, sem a previsão de qualquer indexação , juros zero  e a prazo de 4(quatro) anos para pagamento, tornou-se a obra , certamente, inviabilizada, o que, trouxe, como dito acima, prejuízos de grande monta para a Fiação e Tecelagem São João Ltda, que teve que vender parte de seu mais moderno maquinário para levantar dinheiro, a fim de se cumprir com a entrega dos apartamentos e as duas lojas para com os seus condôminos. É de se registrar também que, não faltou o gesto nobre de contribuição por parte dos condôminos que, sensibilizados com a novo rumo da economia do país, compreenderam e solidarizaram em prol de certo reajuste nos seus preços mas, fato que é um pouco raro neste país, a incorporadora conseguiu construir e entregar todas as unidades do prédio acabadas, inclusive, a magnífica sede do Minas F.C. João Lombardi, ficando com uma loja e, Ítalo Cassano, com a outra , aonde se acha até os dias de hoje, o restaurante Cantina Calabresa. Os apartamentos adquiridos por inúmeros ilustres são- joanenses, quais, muitos ainda ali residindo. 

Esta é a verdade sobre o Edifício São João. Não imaginavam, naquela época, seus idealizadores, que a cidade passaria por um grande período de inércia, sendo salva somente já na década de 80 ,com a criação da Universidade Federal  (UFSJ).

Portanto, construído com muito sacrifício e suor,  numa demonstração para a cidade do alto espírito progressista de  seus cidadãos. Uma  “Nova São João”. Tanto que,  quase na mesma época, tendo sido aberta a Av. N. S. do Pilar, e construído outro grande  edifício horizontal (Brandão- Edifício São Francisco) na Av. Tiradentes.  São João Del Rei, aliás, nunca foi uma cidade totalmente colonial. O contrário, sempre foi inclinada  para um  eclético conjunto arquitetônico. Fato visível, aqui e acolá. Já construíam em seus bairros, como o bairro de matosinhos e bairro das fábricas, obras modernas, chegando a ser demolido, fato este sim, lamentável, como ocorreu, bem antes da construção do Edifício São João, na década de 1940, o prédio denominado Coliseu – Pavilhão de Exposição de Matosinhos (1912), uma obra arquitetônica magnífica, para a construção do prédio do SENAI. 

Hoje, o Edifício São João é histórico e parte integrante da paisagem da histórica cidade de São João Del Rei, marcando uma época onde empresários idealistas acreditavam no crescimento vertical da cidade, sem afetar, em nada, sua história, ou seja, o seu acervo cultural, mantendo intacto o seu “Centro Histórico”. 

Dedico também este artigo, em memória, ao  meu recém falecido irmão Jânio Hallak que , com certeza, se vivo estivesse, gostaria de acrescentar algumas linhas sobre a história do Edifício São João. 

Musse João Hallak é filho de João Hallak, advogado, membro do núcleo dos Cronistas da Academia de Letras Divinopolitana e membro da Academia de Letras de São João del Rei

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