a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir
la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir
the city we dream of is the one we can build ourselves
la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire
la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire
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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Meg Zarur
Descrição
A "tia Meg" dos são-joanenses
Geovane Carvalho, Igor Chaves e Érika Franco
Foi numa manhã de sexta-feira ensolarada de dezembro que Meg Zarur escolheu dar uma entrevista na praça do Largo do Cruz, no Centro de São João del-Rei. A praça é localizada em frente a um dos locais que fez a descendente de libanês, por parte de pai, e português, por parte de mãe, ser conhecida como é hoje: a Rádio São João del-Rei. Mas a história de Meg é mais complexa. Cozinheira, comunicadora, influenciadora digital e repórter de torcida. Já foi apresentadora de TV e rádio. Muita gente que cresceu assistindo e ouvindo ela, a conhece como a “Tia Meg”.
Caçula de cinco irmãos, afirma que cresceu com muito amor. O pai faleceu quando ela tinha apenas quatro anos, quando a mãe se tornou o pilar da família. Desde pequena, Meg sempre esteve rodeada por carinho e cuidado: “a gente teve uma infância maravilhosa numa rua que só tinha gente conhecida, gente amiga, então as mães dos amigos eram sempre tratadas como tias e a gente era acolhido em todas as casas, como a mamãe também acolhia a todos”, cita. Na entrevista, ainda cita os irmãos e como um cuida do outro, mesmo quando longe.
A Meg Zarur, enquanto personalidade, surge um pouco depois. A são-joanense lembra como sempre foi alegre, desfilando em escolas de samba e cozinhando. Foi em 2006, quando uma amiga sua, Juliane Menezes, na época diretora da TV Campo de Minas, a convidou para um teste para apresentar um programa de culinária na emissora de São João del-Rei, que sua vida mudou. Mesmo receosa, Meg encarou o desafio e foi aprovada, iniciando o programa “Sabor em Prosa”, que a fez conhecida pelas ruas da cidade. “Eu já era uma pessoa alegre, eu fiquei muito mais alegre, porque o carinho das pessoas…” afirma Meg saudosamente, antes de ser interrompida por uma pessoa que a cumprimentou, recebendo o carinho que falava.
Na TV, Meg tinha seu programa, mas também cobria o carnaval da cidade. Também apresentou os programas especiais da Rádio São João no “auditório”, que era montado no Teatro Municipal. Foi ali que surgiu uma das facetas da Meg, quando na primeira edição ela resolveu homenagear o apresentador Chacrinha, vestindo um terno e uma cartola brilhante. A roupa é a marca de Meg até hoje quando cobre os jogos do Athletic pela Rádio São João. “Porque o programa de auditório, quem melhor que o Chacrinha? Então ele foi uma inspiração. Eu adorava que ele jogava bacalhau na plateia, ele jogava abacaxi. E eu queria fazer isso. E eu jogava. Porque isso era gostoso, porque você via a plateia toda interagindo”, lembra gargalhando.
Meg apresentava o programa de auditório nos aniversários da Rádio São João del-Rei. Na foto, o aniversário de 70 anos, em 2015. (Foto: Acervo Rádio São João del-Rei)
Foi nos programas de auditório que surgiu “a roupa do Chacrinha”, estilo que Meg ainda usa nos jogos do Athletic. (Foto: Acervo da Rádio São João del-Rei, data desconhecida)
Meg também teve sua passagem pela Rádio São João del-Rei, que, segundo ela, foi especial. “Nossa, a rádio é sensacional, gente. Rádio é uma coisa mágica, porque você está falando ali na hora. A pessoa está te ouvindo, ela telefona pra você”. A ex-apresentadora do programa da tarde “Alô Del Rei”, também comenta sobre os desafios. “Uma coisa que eu sempre pedi a Deus, é para me dar sabedoria. Porque você faz uma carreira, que eu falo, pautada na ética e tudo, mas se você falar uma besteira, acabou sua vida. Acabou”.
No caminho de idas e vindas na TV e rádio, Meg explica que nunca se incomodou em ser uma personalidade pública. Ela nunca deixou de gostar do carinho do público.
Antes de tudo, cozinheira
A cozinha é a parte mais constante da vida de Meg. Ela conta que não sabe quando começou a cozinhar: “ah, nem sei. Eu tenho um livrinho que eu dei para minha mãe. Eu acho que eu estava fazendo catecismo. Eu já́ dei uma receitinha, um livrinho pra mamãe. Então assim, é coisa muito antiga”. Ela ressalta que a cozinha é uma tradição na família, dada sua ascendência árabe. “A minha mãe não sabia cozinhar quando ela casou. E o meu pai é de família árabe, sabe? Eles gostam que a esposa cozinhe pra eles. Então papai dava tudo o que a mamãe quisesse. Ela tinha empregada, tinha babá, mas ela tinha que cozinhar para ele. E ela aprendeu a cozinhar com as irmãs do meu pai. Ela falou que sofreu muito, chorou muito, porque ela nunca tinha cozinhado na vida. O vovô não deixava elas nem entrarem na cozinha. Mas ela teve que fazer. E aí ela passou isso pra gente”, recorda.
Mas Meg não cozinhou só para o marido: também transformou a tradição em fonte de renda. Em 2014 ela abriu um bar na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), em São João del-Rei. O estabelecimento fechou na pandemia, mas Meg continuou cozinhando, dessa vez utilizando do delivery, onde ela continua até hoje com a “Delícias da Meg”, vendendo comida árabe. Além disso, Meg também posta suas receitas no Instagram e em seu canal de YouTube. Uma das receitas de Meg, que ela afirma ser a única que não compartilha com ninguém, é seu pão de mel, que vende em diversos estabelecimentos da cidade.
Meg divulga suas receitas em seu Instagram e no seu canal de YouTube “Delícias da Meg”. ( Foto: reprodução / Instagram @megzarur)
Uma vida agitada e cheia de afeto
Além da cozinha, Meg vive hoje também pelos contratos publicitários. Ela riu, lembrando que começou despretensiosamente, fazendo propaganda para uma loja de roupas, mais especificamente de calcinhas. E ela só percebeu o alcance após a proprietária do comércio comentar com ela de que a propaganda surtiu efeito: “ela falou assim: ‘você acredita que vieram duas pessoas que querem comprar a calcinha que você fez a propaganda pra mim?’ E começou! Aí fiz outra, fiz outra, aí esse pessoal veio e começou”. Meg diz que tem um diferencial enquanto influenciadora: “se eu tô fazendo propaganda pra uma loja de móveis, eu não vou fazer pra outra loja de móveis. Eu tenho fidelidade”.
Atualmente Meg também trabalha como repórter de torcida da Rádio São João del-Rei cobrindo os jogos do Athletic Club. A nova função surgiu há poucos anos, após a pandemia, com o retorno dos jogos. Entrevistando os torcedores, ela também ganhou novos seguidores: “tem muita gente que me conhece lá do Athletic, e me abordam na rua falando: Ah, você é a moça do Athletic”.
Meg Zarur circula na torcida do Esquadrão de Aço durante os jogos na Arena Sicredi, em São João del-Rei. (Foto: Geovane Carvalho)
É nessa agitação que Meg leva a vida. No dia da entrevista, foi dormir às 02h e acordou às 04h30 da manhã. No mesmo dia ela fez encomendas de pão de mel, participou de um programa da Rádio São João como convidada, respondeu à essa reportagem e ainda deu tempo de ir trabalhar como influencer. Meg conta que às vezes dorme uma hora e já está acordada com energia para trabalhar mais.
Meg perdeu o marido em 2002. Hoje em dia mora com sua filha, a Lila, enquanto o outro filho, Rafael, mora fora. Mas também mantém contato com as irmãs, primas e até com o vizinho, Humberto, que é uma pessoa neurodivergente. Ela conta gargalhando que ele alegra seus dias: “toda terça, quinta e sábado você pode passar lá em casa que é a mesma coisa. O Humberto fala assim: ‘A Meg morreu’. Aí o lixeiro vai da casa dele até lá em casa: ‘a Meg morreu’. Aí eu grito lá de dentro: ‘Eu não morri, não. Isso aí é terça, quinta e sábado’. Tem mais de dois anos que acontece isso”.
Em toda a conversa, ela sempre ressalta o afeto e o carinho como o que ela é mais grata em sua vida. Meg deseja para o futuro apenas muita saúde para si e para a família: “eu só peço a Deus saúde, porque se eu tiver bem, tudo vai estar bem. Que eu possa fazer mais coisas boas pras pessoas, cozinhe mais, aprenda mais, porque a cozinha você aprende todo dia também. E eu quero saúde. Saúde”.
Edição: Arthur Raposo Gomes | Suporte: Bruno Nézio | Imagem de destaque: Geovane Carvalho
Fonte: Notícias del-Rei | noticiasdelrei 17 de janeiro de 2025
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Uma prosa com sabor de MegWalquíria Domingues
Foto: Walquíria Domingues
Uma casa grande, aconchegante. Uma mesa cheia de pãezinhos de mel, embrulhados com todo cuidado, em uma bandeja de prata. “Fiz para um batizado e estou acabando de arrumar”, diz Meg Calil Zarur, mãe, cozinheira de mão cheia e apresentadora de rádio e televisão. Uma mulher que se mostra apaixonada pela culinária, pelos filhos, por si mesma e pela vida.
Meg apresenta o programa culinário “Sabor em Prosa”, da TV Campos de Minas, e recentemente o programa “Fim de Tarde”, da Rádio São João. Especialista em culinária e prosa me recebeu como uma amiga de muitos anos, com muita conversa, várias delícias feitas por ela, e seu enorme estojo de maquiagem. Rímel, espelhos e dicas de beleza intercalaram momentos da sua vida, contados com risos e emoção.
Do começo
A loirinha caçula de cinco filhos morava em frente à antiga Escola de Comércio. “A nossa rua tinha muita criança, todas da mesma idade. A gente brincava demais na rua, era muito bom”, relembra Meg, que perdeu o pai com apenas quatro anos de idade. “Minha referência é toda minha mãe”.
A infância e adolescência foi vivida em São João del-Rei, mas por um tempo, Meg foi passear na casa do irmão, em Cuiabá, e ficou por lá, durante dois anos e meio. “Eu fazia faculdade de Ciências Biológicas. Tranquei a faculdade e fui morar lá”, recorda. A mudança foi em parte uma fuga de um namoradinho que não a deixava em paz. Por lá Meg foi até miss. “Que vida boa eu tive lá. Mas minha mãe estava se sentindo muito sozinha aqui, então eu voltei”, diz.
Dos amores
A maior paixão de Meg entrou em sua vida em 1986. Depois de retornar para São João del-Rei, ela foi a uma festa na casa do amigo da família Dr. Marcos Campelo. “Ele me apresentou o Paulo, que estava namorando. No outro dia nós fomos num baile no Social, e realmente são coisas que tem que acontecer”, relembra. Paulo Aurélio Campos havia terminado, de um dia para o outro. Na mesma festa estava Aécio Neves, na época em que lançou sua primeira candidatura. “Eu queria o Aécio, mas foi o Paulo quem investiu”, brinca Meg. Em uma semana ela e Paulo começaram a namorar, e se casaram em 1990.
Arquivo pessoal
A parte mais dolorosa de sua vida foi quando perdeu a mãe, em 2000, e quando ficou viúva, em 2002. Vítima de câncer, a mãe de Meg ficou doente por apenas sete meses e se foi. “Deus me mostrou que a gente não pode ser egoísta”, reflete. Paulo morreu de infarto, aos 47 anos, no dia em que levou a família para assistir um jogo de futebol em Belo Horizonte. “Meu filho nunca tinha ido ao Mineirão, e lá Paulo começou a se sentir mal. Ele teve 20 paradas cardíacas. Foi a época mais terrível da minha vida”, fala. Seus filhos tinham apenas 12 e nove anos. Eles perderam o pai tão jovens quanto Meg perdeu o seu. “A história se repetiu. E eu tentei ser sempre uma mãe super carinhosa com os meus filhos. O Rafael é minha cara, e a Lila é a cara do pai”, emociona-se. Para contar para os seus filhos da morte do pai, Meg contou aos filhos uma história de amor, sem final feliz.
Dos holofotes
Em 2006 a vida de Meg mudou muito. “Chamaram-me pra fazer um teste lá na Televisão, para um programa de culinária. Eu sempre cozinhei e sempre gostei de cozinhar. Fazia salgadinho pra fora, essa coisa toda. O meu teste foi uma piada”, lembra. A alegria de viver da Meg conquistou a TV Campos de Minas logo neste primeiro teste, com suas brincadeiras e sua risada inconfundível. E lá permanece até hoje, apresentando o “Sabor em Prosa”.
Considerada a Ana Maria Braga da televisão local, Meg teve o prazer de conhecer sua colega de trabalho da Rede Globo. “No dia em que eu vi a Ana Maria Braga, eu dei um grito. Eu a entrevistei lá em Tiradentes. Quando ela me viu, ela falou, nossa, que menina grande!”, conta Meg. Fã da apresentadora, ela brinca, em meio a risadas, que é a Ana Maria “Brega” de São João.
Das prosas
A essência do seu programa é uma boa conversa, daquelas que só se têm na cozinha das casas de interior. As pessoas da cidade recebem beijos da apresentadora, e adoram ver seus conhecidos na televisão. “Fiquei sabendo que tem duas senhoras doentes, que toda quarta-feira não tomam seus remédios pra dormir porque elas vão dormir felizes depois de assistirem o programa”, conta. “Olha a responsabilidade, eu fiquei emocionada. Fiquei feliz porque vi que eu estava fazendo bem para o próximo. Daí eu gravo o programa pensando nesse tipo de coisa”, diz.
Arquivo Jota Dangelo
Como para todo mineiro tudo acontece em volta da mesa, até em velório tem que ter café e pão de queijo. Essa é a cultura de Minas. Na nossa mesa sempre cabe mais um. E este é o ambiente que o programa apresentado pela Meg proporciona. Boa prosa na beira do fogão. Agora ela também bate um papo com os ouvintes da Rádio São João, no programa “Fim de Tarde”, em que em cada dia um tema diferente é abordado, e uma pessoa da área é convidada para uma conversa sobre o assunto.
Dos carnavais
“No carnaval eu fervia”, brinca Meg. Foliã assídua do desfile da Escola de Samba Qualquer Nome Serve, de Jota Dangelo, já foi até porta bandeira. “Aqui era o melhor carnaval do interior do Brasil. Já me diverti demais”, diz. Todos faziam suas próprias fantasias, que por sinal deviam ser impecáveis, senão Dangelo não deixava participar no desfile. As plumas eram muito caras, e já com vergonha de pedir mais dinheiro à sua mãe para comprar mais, Meg pedia seu cunhado, que pagava o material das fantasias em troca de uma boa massagem nos pés. “Eu gosto daquela época, mas hoje também é ótimo. Eu só não desfilo hoje porque tenho que cobrir o carnaval para a televisão”, afirma. Suas coberturas do carnaval são-joanense são tão animadas quanto os desfiles, blocos e foliões. É uma felicidade de alguém que já viveu muitas coisas, e que nos serve como exemplo. Já houve até quem se fantasiou de Meg Zarur no carnaval. Homenagem mais que merecida.
Fonte: Observatório da Cultura