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la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

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O que é patrimônio cultural? . José Maurício de Carvalho

Descrição

1. Pensando a questão
O conceito de patrimônio envolve um bem que é transmitido de uma pessoa para outra, é o que ocorre quando um pai deixa uma casa, um telefone ou um nome honrado para seu filho. No entanto, o sentido pode ser ampliado, isto é, pode significar um conjunto de bens que uma geração deixa para aquela que a sucede. Neste último caso, patrimônio representaria uma herança comum, um conjunto de bens transmitidos a todo um grupo social. Considerando este significado ampliado ou figurado estamos diante de uma propriedade que não é de um só, nem de alguns poucos, mas de muitos. Melhor se fosse de todos os membros deste grupo. Neste caso a herança seria coletiva. Assim, como o filho que herda um bem do pai, um grupo social pode preservar ou não o que recebeu.
A qualificação dos bens a que nos referimos acima está feita pelo adjetivo cultural, que deriva da palavra cultura. Entender o que seja cultura é um problema de grande complexidade. O que é cultura? Na Grécia Antiga o substantivo cultura significou o cultivo de coisas tão diversas quanto um campo agricultável e uma relação fraterna, Cícero (J 06-43 AC), nos áureos tempos do Império Romano, usou o termo cultura para designar um processo de tratamento espiritual pelo qual o homem aprimorava a sua relação com as coisas e com os outros homens, Falamos,
então, de cultura humana (Carvalho, 1998. p. 15). O entendimento de cultura ampliou-se com o tempo. Na modernidade, durante o período de prevalência do romantismo, a cultura passou a significar não somente a modificação no mundo da natureza ou na alma humana, como ocorrera na antigüidade clássica, mas a incorporação de algo criado e objetivado pelo homem como forma de tornar a natureza menos hostil, Cultura passou, então, a traduzir a humanidade do homem, isto é, aquilo que ele produzia e coisa dele e de figurativos como quanto se fala de nenhum outro ente conhecido.
Deixemos de lado o uso de cultura noutros sentidos figurativos como quanto se fala de cultura física para representar o desenvolvimento racional do corpo através de exercícios físicos ou de cultura de massa, constituída pelos elementos ideológicos presentes em determinado grupo humano. O primeiro exemplo fala da importância de trabalhar o corpo como se cuidava dos campos e o segundo deriva da noção de aperfeiçoamento intelectual.
De posse do legado romântico acima mencionado, autores como Edmund Husserl (1859-1938) e Nicolai Hartmann (1882-1950), mostraram que no âmbito da cultura encontramos objetivados os modos de ser do homem. A cultura passou a significar o espaço em que se objetiva o que o homem é. O interesse crescente em todo o mundo pelos bens culturais, especialmente o aumento do turismo cultural (visita a museus, cidades históricas, monumentos, exposição de quadros e outras obras de arte, etc.) representa o reconhecimento de que a cultura é o lugar do 'homem" da pessoa e da liberdade de criação e representação. A cultura permite reconhecer, como afirmou Miguel Reale em Experiência e Cultura, a historicidade do homem.
2. Porque preservar os bens que integram o patrimônio cultural.
Na proporção em que ficou estabelecido o entendimento de que cultura é o produto de bens objetivados pelo homem em sua jornada neste mundo, conhecer os produtos do homem representou entender o próprio homem em primeiro lugar, mas também a especificidade dos grupos humanos nos quais vive. A vida social nos tempos modernos decorreu dentro de espaços conhecidos como estados nacionais. Preservar os bens culturais é
Importante porque eles revelam a humanidade do homem e também porque mostram as novas fronteiras do espaço humano. Especialmente em nossos dias os limites geográficos perdem relevância diante dos limites culturais. Os povos organizados, ou mais racionais que o nosso, estão tratando de fazer de sua identidade cultural um bem econômico valioso, quer incentivando o turismo, quer valorizando os seus intelectuais e artistas. Tudo isto se tornou no mundo de hoje fonte de poder e riqueza.
3. Como preservar os bens que constituem o patrimônio cultural?
Os povos que compreenderam rapidamente o valor e a importância dos bens culturais trataram de transformar sua exploração em uma indústria. O turismo que financia a conservação de boa parte dos bens culturais nos países desenvolvidos é organizado, planejado nos mínimos detalhes. É claro isto que pede muitos investimentos. Não teremos um fluxo turístico em nossa região, pelo menos no ritmo que gostaríamos se não tratarmos os bens culturais com absoluto profissionalismo. Enxergar isto é dever do homem público e das lideranças empresariais de nosso tempo.
4. A amplitude do que preservar
Entendendo cultura como os valores objetivados pelo homem é preciso traçar prioridades para a atuação de um Conselho como este. Temos um conjunto muito vasto de bens. A história deste município (e de resto de toda a nossa micro região) é muito rica. Devemos considerar que ele se aproxima de trezentos anos, num país que agora está chegando aos quinhentos anos de descobrimento, mas cuja autonomia política não atingiu ainda duzentos anos. Sem pretender fechar a questão, entendemos que as prioridades deste Conselho devem estar nos seguintes pontos:
4.1- Na defesa da preservação dos monumentos e edificações representativos de uma época (séc. XVIII, XIX e XX). Neste caso cuidar não apenas do que já foi tombado, mas também do que precisa ainda ser tombado e do plano de crescimento urbano.
4.2- No cuidado com os bens físicos de caráter mais especificamente intelectual como livros, jornais, partituras musicais, registros civis ou religiosos e artes plásticas.
4.3- No estímulo a novas formas de criação cultural bem como dos programas de educação básica. Em nossa região é inconcebível que as crianças não tenham em sua formação básica um entendimento amplo da história local, da sua importância na história de Minas e do Brasil, associada à compreensão das oportunidades que isto representa.
4.4- Desenvolver ações que valorizem os bens culturais anteriormente descritos.
5. Finalização com uma preocupação
Não gostaria de terminar esta reflexão sem dividir como egrégios conselheiros uma preocupação. Temo que se não conseguirmos motivar o poder público e as forças sociais no sentido de empreender ações concretas, visíveis, sinalizando que esta nova orientação deve ser seriamente buscada, muito rapidamente este Conselho perderá a sua força. Uma força que penso estar muito mais na consciência e no idealismo de seus membros do que no instrumento legal que criou este Conselho.

São João del-Rei, 13 de janeiro de 1999
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