São João del Rei Transparente

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Estreitamento da calçada da Josué de Queiroz . Andréia Paula de Resende

Descrição

Qual o projeto da prefeitura de São João del Rei para a avenida Josué de Queiroz? Alargar a pista de rolamento ou tentar criar um espaço para estacionamento de veículos?
Eu, enquanto pedestre e educadora para o trânsito que sou, estou preocupada com o estreitamento da calçada dessa avenida. Vamos imaginar que se queira aumentar o espaço de circulação para o veículo. Pois bem! Quanto mais larga a pista de rolamento, maior a tendência do condutor de veículo automotor em imprimir uma maior velocidade em sua máquina. E qual o limite de velocidade dessa importante via do Grande Matosinhos? Considerando que essa seja uma via coletora, o limite, pois, imposto pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) será de 40 km/h. E via coletora, segundo o CTB, é aquela "destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da cidade". O trânsito fluindo mais rápido consequentemente favorecerá os abusos, uma vez que não há ali, pelo menos por enquanto, nenhum meio de coibir tal imprudência. Dessa forma, o pedestre correrá o risco de ser atropelado mesmo estando sobre a calçada, que é o lugar a ele destinado numa via pública. E será que, naqueles horários de pico em que o fluxo de pedestre também aumenta, caberão todos nesse estreito espaço? Não será ele obrigado a transitar na pista de rolamento disputando espaço com os veículos?
O Departament of Transport Trafic britânico comprova a relação entre a velocidade do veículo no impacto e a gravidade das lesões. No estudo, quando o condutor está a 32 km/h 5 % dos atropelados morrem 65 % sofrem lesões 30 % sobrevivem ilesos. A 48 km/h 45 % morrem 50% sofrem lesões 5 % sobrevivem ilesos. A 64km/h 85 % morrem e 15 % sofrem algum tipo de lesão.
Entendo que algo precisa ser feito urgentemente para que tenhamos um trânsito de qualidade. Essa alternativa em estreitar o espaço do pedestre, que é o ator mais vulnerável nessa relação intrincada chamada de trânsito, seja a solução mais rápida, porém, a mais danosa para a saúde pública. É preciso que urgentemente esse assunto seja ampla e seriamente discutido. É preciso decidir o que queremos para nossa histórica São João del Rei. Um lugar acolhedor, que sabe respeitar tanto seus habitantes quanto seus turistas, ou um lugar onde o veículo motorizado é a prioridade.
Entendo que a Josué de Queiróz é um corredor por onde passam veículos transportando mercadorias de uma cidade para outra ou até servindo de acesso para os deslocamentos interestaduais, uma vez que tal via permite a ligação entre as rodovias BR-262, BR-494 e MGT-383. Não seria o caso de desviar esse trânsito pesado da via urbana, a exemplo do que aconteceu na vizinha cidade de Barbacena? Tal alternativa resolveria o problema não em sua totalidade, mas uma parte dele. A outra parte seria resolvida com base no tripé educação infra-estrutura e fiscalização.
Penso que estamos na contra mão dos acontecimentos e das tendências atuais, cujas preocupações são a preservação da vida e vida de qualidade e do meio ambiente. Sabemos que o veículo automotor é uma das grandes fontes emissoras de poluição tanto do ar, quanto da água e, sobretudo, a poluição sonora que, segundo estudos da organização mundial da saúde provoca, no ser humano, irritabilidade, stress, sono de má qualidade, dentre outros. Hoje, fala-se em carona solidária, estimular o uso da bicicleta (e a topografia de nossa cidade favorece sua utilização) e transporte público de qualidade.
Portanto, sugiro que, um estudo de impacto seja feito por especialistas em trânsito (sérios e compromissados com a saúde publica). Penso que seria até o caso de o Ministério Público intervir, já que essa respeitosa instituição, aqui em São João del Rei, tão bem representada por honrosos promotores, vem demonstrando competência e profissionalismo acima de tudo, desempenhando de forma maravilhosa o papel de fiscais da lei.
Convido, você leitor, a fazer uma reflexão sobre essa situação mesmo não sendo morador do Matosinhos. Hoje é aqui. Amanhã poderá ser a calçada da sua casa caso o sanjoanense opte por esse modelo obsoleto que privilegia o veículo motorizado em detrimento do transporte público, da bicicleta e da caminhada.

*diretora de ensino de auto escola e moradora do Matosinhos

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 18/04/09
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