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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Ecos do Carnaval . Jota Dangelo
Descrição
Fustigado por uma chuva fina, permanente, impertinente, desagregadora, e sei lá mais com que adjetivo amaldiçoá-la, o carnaval se foi e entramos na Quaresma. Eu, com raiva, mal humorado, sorumbático, ácido, pois é conhecida minha aversão pela chuva em qualquer tempo e mês, imaginem no carnaval! E ainda assim, os foliões foram para a rua, com ou sem capas de plástico, com ou sem guarda-chuvas, e se esbaldaram nos blocos e nas escolas de samba. E o público passivo, apático como sempre, sem aplaudir nem por educação, também compareceu e lotou a Rua Artur Bernardes e a Avenida Presidente Tancredo Neves para olhar -com raríssimas reações - as escolas de samba que, como sempre, fizeram
das tripas coração para manter acesa a tradição do nosso carnaval de rua.
Na terça-feira, lendo o Estado de Minas, num caderno especial sobre o carnaval dei com uma
matéria escrita sobre o carnaval de... Tiradentes. Nem uma linha sobre o carnaval de São João del-Rei, onde desfilam mais de 30 blocos e sete escolas de samba. O autor da matéria disse que "há décadas que o carnaval de Tiradentes se consagrou como um evento muito especial". Décadas? Eu sempre passei o carnaval em São João, distante dez quilômetros de Tiradentes e não sabia disso... Décadas? Hummm...
Mais uma vez, para variar, a sonorização esteve a desejar. Pelo preço que a prefeitura paga é impossível ter coisa melhor. É também injustificável não haver sonorização na rua Direita e no primeiro quarteirão da Artur Bernardes. Na verdade, o desfile está começando na Ponte da Cadeia. Em algumas escolas nem mesmo a bateria estava em ação antes da Ponte da Cadeia Em matéria de organização do trânsito o descaso foi completo. No desfile do Bloco Sem Compromisso, na segunda-feira, havia carros estacionados na rua Direita, local da concentração, além de trânsito de veículos naquela rua nenhum policial naquelas imediações.
Quanto ao resultado da disputa entre as Escolas de Samba, melhor não tecer muitos comentários. Julgamento é julgamento, com sua indefectível subjetividade. O que se discute é a composição da Comissão Julgadora. Há incoerências gritantes na escolha e, a rigor, nenhum jurado deveria ser da cidade. E demais pedir isenção de jurados que têm fortes relações, às vezes íntimas, com alguma ou algumas das agremiações carnavalescas que disputam o título. Mas o que importa é que talvez o título tenha menos importância do que o fato de que as escolas de samba estão aí, ganhando ou perdendo, mas mantendo a tradição e a criatividade. Entretanto, isto não deveria impedir que as diferenças entre a qualidade das escolas transparecesse de modo claro nas notas: Ao que parece, com raras exceções, as notas parecem variar, não de 5 a 10, mas de 9 a 10. Assim, só para dar exemplo em um quesito, escolas com fantasias muito inferiores às de outra escola recebem 9,8 e a outra 10, ou 9,9!
A Girassol levou o título, mas Metralhas e São Geraldo também estiveram muito bem. Mas creio que deveríamos voltar ao velho costume de distribuir ao público folders com uma breve explicação sobre o enredo e a significação das alas. De praticamente todas as escolas de samba era difícil saber o que representavam certas alas no enredo. Isto não acontece só aqui. Também no Rio, no sambódromo, você não sabe o que representa a maioria das alas. Na TV você sabe por que o nome da ala aparece na tela.
Fica, afinal, uma constatação clara: em 2011 apareceu um samba de inegável qualidade, o dos Irmãos Metralha, do compositor e puxador de samba Mumu.
Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 12 de Março de 2011