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Patrimônio mineiro pede socorro . Luiz Cruz
Descrição
Alvarenga Peixoto deve ser considerado o mais rico dos inconfidentes e podemos constatar isso através da listagem de seus bens que foram confiscados pela coroa portuguesa. Sua própria esposa relatou os bens ao Meirinho Geral: “compareceu presente a dita Dona Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira, à qual o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos, em um livro deles, em que ela pôs sua mão direita, sub cargo do qual lhe encarregou jurasse em sua alma de declarar todos e quaisquer bens que houvesse no seu casal, tanto de ouro, prata, pedras preciosas, ouro em pó, ou em barra, móveis, semoventes e de raiz, sob as penas de, assim o não fazendo, ficar sujeita a incorrer nas penas dos que sonegam bens a inventários, e nas de perjuros …”
A leitura do processo requer atenção, mas na obra “O Manto de Penélope”, de João Pinto Furtado, encontramos uma análise através de gráficos que nos possibilita melhor compreensão do tema. O maior patrimônio de Alvarenga Peixoto eram os “bens de raiz”, ou seja: propriedades, onde desenvolvia atividades de mineração aurífera, agricultura e agropecuária. Seu plantel de escravos era significativo, o maior dentre todos os inconfidentes.
Uma de suas propriedades era a Fazenda do Paraopeba, que fica à margem direita do Rio Paraopeba, atualmente no município de Conselheiro Lafaiete, próximo ao limite com São Brás do Suaçuí, ao lado da MG 383. Essa fazenda deve ter sido bastante utilizada pelo inconfidente que morava na Vila de São João d’El-Rey e circulava frequentemente pela capital Vila Rica. Ela se localiza em ponto estratégico, ideal para pouso e descanso das viagens daquele período.
Nos “Autos de Devassa” foram listados 17 escravos da fábrica da Fazenda do Paraopeba, mas outros estavam trabalhando em diferentes propriedades, com autorização de Alvarenga Peixoto, de acordo com relato de Bárbara Eliodora, também registrado no documento. Todos escravos do inconfidente foram confiscados, inclusive os que nasceram após o sequestro dos bens.
Conhecemos a Fazenda do Paraopeba há dois anos atrás e ficamos surpresos com as péssimas condições de conservação. Mesmo tendo pertencido a um dos mais notáveis inconfidentes, a edificação estava prestes a desabar. A fazenda sofreu poucas intervenções, como um anexo que parece ser do século XIX. Não tivemos oportunidade de verificar com vagar os detalhes, mas observamos que trata-se de um dos melhores locais para se dar excelente aula sobre materiais construtivos do século XVIII.
Foi veiculado pelo jornal “Correio de Minas”, de 7 de abril de 2012, que a Fazenda do Paraopeba foi desapropriada e com a intervenção do promotor e curador do Patrimônio, Glauco Peregrino, a edificação seria restaurada, através de um acordo do Ministério Público e a empresa Ferrous. Após a restauração, o imóvel será transformado em centro de referência da Estrada Real e da Inconfidência Mineira. Na área da fazenda, 16 hectares, que abrigam remanescentes de Mata Atlântica, será implantada uma unidade de conservação ambiental. Melhor notícia não poderia, afinal, a situação do imóvel é lamentável. Imediatamente começamos a idealizar, como seria o projeto de restauração? Devem começar escorando. Depois, serão realizadas prospecções arqueológicas e devem descobrir algumas pegadas de Alvarenga Peixoto, como nos ensinou o filósofo Walter Benjamin. Logo imaginamos encontrar tudo escorado. Todos os esforços e recursos sendo empregados para salvar a edificação.
No 20 de maio corrente, ou seja, mais de quarenta dias após a publicação do “Correio de Minas”, fomos visitar, novamente, a Fazenda do Paraopeba. Nada tinha sido feito para manter a edificação em pé. Um anexo desabou totalmente. Uma parede do bloco setecentista ruiu e o telhado deste está desabando.
As obras de duplicação dam MG 383 estão a todo vapor, caminhamos ao longo da estrada e sentimos os tremores das máquinas pesadas. Parte da terra utilizada para aterro da estrada já atingiu um trecho de muro da propriedade. Aliás, os muros originais de pedra são importantes, pois demarcam os usos diversos das áreas da fazenda, inclusive da cavalariça, que perdeu o telhado, mas ainda existem os pilares de suporte.
Tivemos contato com o Ministério Público, através do promotor Glauco Peregrino, que nos informou que apenas nos últimos dias a prefeitura de Conselheiro Lafaiete conseguiu a solução definitiva da desapropriação. Que já foram realizados contatos com técnicos da Universidade Federal de Viçosa para o procedimento de intervenções emergenciais. Depois, será elaborado projeto a ser encaminhado ao IEPHA/MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais). Que o prazo de 60 dias para a Ferrous está sendo considerado, ou seja, a empresa teve até o dia 1º de junho deste ano para implementar as medidas de emergência.
Colocamos, ainda, para o promotor, nossa preocupação sobre a movimentação de máquinas pesadas e o aterro que já atingiu trecho de muro da fazenda. Ele nos disse que o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) já foi notificado e que em breve será realizado encontro para tratar disso.
Enfim, há esperança! Vamos torcer para que a atuação e os esforços de todos envolvidos contribuam para salvar a Fazenda do Paraopeba, que pertenceu ao inconfidente e poeta Alvarenga Peixoto.
Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 09/06/2012