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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
São João dos Queijos . Antônio Gaio Sobrinho
Descrição
A antiga e vastíssima Comarca do Rio das Mortes, que tinha por cabeça, ou capital, a Vila de São João del-Rei, era a mais vistosa das comarcas mineiras, rica de terras férteis e ótimas pastagens, pelo que, além da produção do ouro, ela foi, no século XVIII, o celeiro que abastecia de alimentos, inclusive de queijos, toda a Capitania das Minas Gerais.
No início do século XIX, com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, a Comarca do Rio das Mortes foi incumbida também de suprir de produtos da agricultura e da pecuária, sobretudo de toucinho, carnes e queijos, a cidade do Rio de Janeiro. E esse foi, certamente, o principal fator pelo que a Vila de São João não sofreu, no seu desenvolvimento, os prejudiciais efeitos da decadência da mineração aurífera, como aconteceu com as demais vilas do ouro. Entre 1810 a 1830, São João foi visitada por mais de uma dezena de viajantes e cronistas estrangeiros. Todos eles são concordes, em seus relatos de viagem, no elogiar a Vila por sua riqueza, sua beleza, seu progresso. Alguns deles, como Luccock, Saint-Hilaire, Spix e Martius e, mais tarde, também Richard Burton, ao enumerar a diversidade da produção econômica são-joanense, se referem ao queijo, como um de seus principais produtos de exportação. E Burton dizia que, por ocasião de sua visita, a produção de queijos era uma das que prosperavam, tendo sua exportação, em 1854, atingido 264 contos de réis para a economia local.
Para não citá-los todos, reporto-me apenas ao que escreveram Spix & Martius, em 1818, onde, sobre a enorme variedade de produtos alimentícios provindos das redondezas de São João del-Rei, diziam que se achavam nas gargantas e no fundo dos vales, muitas fazendas espalhadas, que fornecem o necessário em milho, mandioca, feijão, laranjas, fumo, como também algum açúcar e algodão, muito gado vacum, porcos, e sobretudo queijos, (grifos meus). Já no século XX, por volta de 1929, havia, na cidade, 5 depósitos de queijos que exportavam 217 207 kg do produto, entre os quais Messias & Mattar. Dois anos depois essa exportação já mais que dobrava, atingindo 531 293 kg de queijos. São João del-Rei tinha, então, uma população de 20 mil habitantes na zona urbana, e 30 mil na zona rural, repartida em oito distritos.
Os queijos vinham das fazendas e dos distritos vizinhos, transportados em canudos e jacás de taquaras de bambu, no lombo de burros, para os negociantes do ramo, os chamados atravessadores. Daqui, a exportação se fazia, principalmente, pela estrada-de-ferro, sobretudo, para as praças de São Paulo e do Rio de Janeiro, então capital federal da República. Naqueles tempos, anteriores às geladeiras e aos modernos processos de refrigeração do leite, fabricar queijo e manteiga era, na opinião de Ulisses Passarelli, o único jeito de conservar o excedente do leite produzido e consumido, pois, do contrário, o produto azedava, ao passo que o queijo, com o tempo, curava e podia ser longamente conservado.
Por ocasião do centenário da cidade, em 1938, São João del-Rei ocupava o 4º lugar na produção estadual de queijos. Nesse ano, fundava-se aqui a indústria de manteiga e queijos Laticínios Vito Lombardi que produzia vários tipos de queijos, como: parmezão, cavalo, provolone, além de mozarela e ricota, e as manteigas Caruzo e Marconi. Para beneficiamento de leite, havia também a Proto Usina Mineira Sânitas, gerenciada por Mansur & El-Corab, que tinha, anexa, fábrica de queijo e requeijão.
Dez anos depois, a produção de leite alcançava 13 494 000 litros, no valor de Cr$ 10 795 200,00. Havia, no município, 6 estabelecimentos industriais de fabricação de laticínios, cadastrados, entre eles Ferreira Filhos & Cia; Willer & Cia; e J. Mendes & Fiche, na Fazenda da Cachoeira.
Por esse tempo, afirma Geraldo Nascimento, entre os maiores exportadores de queijos da cidade, ficaram famosos: Vicente Tortamano (já citado em 1917, juntamente com Tobias Isaac & João Gabriel) e os irmãos João e José Lobosque, com seus filhos.
Em 1963, a produção de leite do município atingia 14 185 800 litros rendendo Cr$ 354 645 000,00 e, além de manteiga, se fabricavam 132 184 kg de queijos, no valor de Cr$ 24 138 153,00. Já então o município havia perdido os distritos de Cassiterita, Nazareno e Santa Rita.
Por essa época, merecem citadas a Empresa Cacique Ltda, que, com fábricas na sede municipal e nos distritos de Vitória e Emboabas, produzia 20 toneladas mensais de ótimos queijos prato e minas; a fábrica de Geraldo Lucindo Sobrinho, com produção mensal de 900 kg de queijos minas, de excelente qualidade; e a fábrica de manteiga e queijos Helianto, na rua Pe. Faustino.
Por toda essa rica história da produção artesanal e industrial, consumo e exportação de queijo, não admira que São João del-Rei, mais cedo ou mais tarde, ganhasse o apelido jocoso ou, talvez, pejorativo, de SÃO JOÃO DOS QUEIJOS. Isso teria ocorrido ainda na primeira metade do século passado e, certamente, devemo-lo aos habitantes de Barbacena, nossa principal concorrente política nos caminhos da história.
Os são-joanenses, além do velha alcunha de Sabiá com Farinha, acabaram, portanto, ganhando para sua cidade, mais esta de São João dos Queijos. O apelido, outrora depreciativo, pode, atualmente, converter-se num motivo de orgulho e adquirir um forte e vantajoso apelo para o desenvolvimento da produção de queijos. E São João del-Rei, que já é a capital de um punhado de coisas, poderá se tornar também conhecida, nacional e internacionalmente, como a Capital Brasileira dos Queijos.
Antônio Gaio Sobrinho
Fonte: Jornal Asap
No início do século XIX, com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, a Comarca do Rio das Mortes foi incumbida também de suprir de produtos da agricultura e da pecuária, sobretudo de toucinho, carnes e queijos, a cidade do Rio de Janeiro. E esse foi, certamente, o principal fator pelo que a Vila de São João não sofreu, no seu desenvolvimento, os prejudiciais efeitos da decadência da mineração aurífera, como aconteceu com as demais vilas do ouro. Entre 1810 a 1830, São João foi visitada por mais de uma dezena de viajantes e cronistas estrangeiros. Todos eles são concordes, em seus relatos de viagem, no elogiar a Vila por sua riqueza, sua beleza, seu progresso. Alguns deles, como Luccock, Saint-Hilaire, Spix e Martius e, mais tarde, também Richard Burton, ao enumerar a diversidade da produção econômica são-joanense, se referem ao queijo, como um de seus principais produtos de exportação. E Burton dizia que, por ocasião de sua visita, a produção de queijos era uma das que prosperavam, tendo sua exportação, em 1854, atingido 264 contos de réis para a economia local.
Para não citá-los todos, reporto-me apenas ao que escreveram Spix & Martius, em 1818, onde, sobre a enorme variedade de produtos alimentícios provindos das redondezas de São João del-Rei, diziam que se achavam nas gargantas e no fundo dos vales, muitas fazendas espalhadas, que fornecem o necessário em milho, mandioca, feijão, laranjas, fumo, como também algum açúcar e algodão, muito gado vacum, porcos, e sobretudo queijos, (grifos meus).
Os queijos vinham das fazendas e dos distritos vizinhos, transportados em canudos e jacás de taquaras de bambu, no lombo de burros, para os negociantes do ramo, os chamados atravessadores. Daqui, a exportação se fazia, principalmente, pela estrada-de-ferro, sobretudo, para as praças de São Paulo e do Rio de Janeiro, então capital federal da República. Naqueles tempos, anteriores às geladeiras e aos modernos processos de refrigeração do leite, fabricar queijo e manteiga era, na opinião de Ulisses Passarelli, o único jeito de conservar o excedente do leite produzido e consumido, pois, do contrário, o produto azedava, ao passo que o queijo, com o tempo, curava e podia ser longamente conservado.
Por ocasião do centenário da cidade, em 1938, São João del-Rei ocupava o 4º lugar na produção estadual de queijos. Nesse ano, fundava-se aqui a indústria de manteiga e queijos Laticínios Vito Lombardi que produzia vários tipos de queijos, como: parmezão, cavalo, provolone, além de mozarela e ricota, e as manteigas Caruzo e Marconi. Para beneficiamento de leite, havia também a Proto Usina Mineira Sânitas, gerenciada por Mansur & El-Corab, que tinha, anexa, fábrica de queijo e requeijão.
Dez anos depois, a produção de leite alcançava 13 494 000 litros, no valor de Cr$ 10 795 200,00. Havia, no município, 6 estabelecimentos industriais de fabricação de laticínios, cadastrados, entre eles Ferreira Filhos & Cia; Willer & Cia; e J. Mendes & Fiche, na Fazenda da Cachoeira.
Por esse tempo, afirma Geraldo Nascimento, entre os maiores exportadores de queijos da cidade, ficaram famosos: Vicente Tortamano (já citado em 1917, juntamente com Tobias Isaac & João Gabriel) e os irmãos João e José Lobosque, com seus filhos.
Em 1963, a produção de leite do município atingia 14 185 800 litros rendendo Cr$ 354 645 000,00 e, além de manteiga, se fabricavam 132 184 kg de queijos, no valor de Cr$ 24 138 153,00. Já então o município havia perdido os distritos de Cassiterita, Nazareno e Santa Rita.
Por essa época, merecem citadas a Empresa Cacique Ltda, que, com fábricas na sede municipal e nos distritos de Vitória e Emboabas, produzia 20 toneladas mensais de ótimos queijos prato e minas; a fábrica de Geraldo Lucindo Sobrinho, com produção mensal de 900 kg de queijos minas, de excelente qualidade; e a fábrica de manteiga e queijos Helianto, na rua Pe. Faustino.
Por toda essa rica história da produção artesanal e industrial, consumo e exportação de queijo, não admira que São João del-Rei, mais cedo ou mais tarde, ganhasse o apelido jocoso ou, talvez, pejorativo, de SÃO JOÃO DOS QUEIJOS. Isso teria ocorrido ainda na primeira metade do século passado e, certamente, devemo-lo aos habitantes de Barbacena, nossa principal concorrente política nos caminhos da história.
Os são-joanenses, além do velha alcunha de Sabiá com Farinha, acabaram, portanto, ganhando para sua cidade, mais esta de São João dos Queijos. O apelido, outrora depreciativo, pode, atualmente, converter-se num motivo de orgulho e adquirir um forte e vantajoso apelo para o desenvolvimento da produção de queijos. E São João del-Rei, que já é a capital de um punhado de coisas, poderá se tornar também conhecida, nacional e internacionalmente, como a Capital Brasileira dos Queijos.
Antônio Gaio Sobrinho
Fonte: Jornal Asap