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a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

ser nobre é ter identidade
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Festa do Carro de Bois e Tropeiros de Tiradentes

Descrição

Mais informações
VI Festa do Carro de Boi e Tropeiros de Tiradentes . 8 a 10 de outubro
12ª Festa do Carro de Bois e Tropeiros de Tiradentes . De 16 a 18/09



Uma das mais antigas formas de transporte de cargas nas estradas rurais e também urbanas do Brasil foi o carro de boi. Cereais, animais de pequeno e médio porte, lenha, tecidos, e outras mercadorias eram levados de sua origem aos seus destinos pelas grandes rodas de madeira e ferro, movidas pela força dos bois. E essa força moveu por muito tempo o desenvolvimento das nossas cidades, apesar de hoje os carros estarem presentes somente em pouquíssimos pontos nas zonas rurais e em decorações de jardins.

O par de rodas, o eixo e a mesa, que formam o carro de bois, montam uma peça muito rústica e ultrapassada aos olhos modernos da sociedade, que há muito tempo foi sinal de tecnologia nas fazendas. Antes da engenhoca, a colheita e até mesmo o transporte de animais pequenos, como galinhas, eram feitos em balaios fixados em cangaias sobre burros e cavalos. Além de os animais de carga ficarem muito cansados, o processo de transporte era bem mais demorado.

Mas, a partir do momento em que o uso da grande invenção foi se escasseando, alguns carreiros – homens que conduzem os bois que puxam o carro – e candeeiros – ajudantes que vão à frente dos bois para que eles trilhem o caminho certo – juntamente com amigos e familiares, começaram a organizar passeios e uma espécie de festejo para manter a tradição dos carros. Estas festas passaram a acontecer anualmente, para homenagear as pessoas que utilizavam os carros de bois como transporte nas atividades rurais diárias. A manifestação coletiva, que geralmente conta com desfiles de carros de bois, queima de fogos, e outras atrações é uma espécie de representação do dia-a-dia dos organizadores e participantes da festa.

Não se sabe ao certo qual foi o primeiro lugar onde se festejaram o uso do carro de bois, mas a incidência dessas festas em Minas Gerais é grande. Em Tiradentes, por exemplo, a festa já se tornou tradição, e é esperada durante o ano todo por várias outras cidades e distritos vizinhos. A idéia de levar a festa para Tiradentes ocorreu depois de a família de Dona Margarida ter ido prestigiar a festa de Lagoa Dourada. Dona Margarida conta que em sua família havia somente dois carros de bois, e todos em casa concordaram em trazer a comemoração para sua cidade.

Saindo de uma casa singela, que cheira fogão à lenha e que guarda um grande acervo de cangaias, balaios, estribos, cabrestos, pescoceiras, freios, cilhões e chapéus, longe do luxuoso centro histórico de Tiradentes, começa a festa de Carro de Bois e Tropeiros. O povo sobe nos carros de bois enfeitados e percorrem a cidade. Podem-se ver cachorrinhos puxando pequenos carros de boi, e até mesmo cabritos exercendo a mesma função, porém, tudo de maneira que não canse ou machuque os animais. Os tropeiros carregam os balaios recheados de bananas, milho, abóboras e galinhas. Depois de três dias de programação, os violeiros esperam na praça para que se inicie música de raiz.

Com uma atração nova a cada ano, o evento, além do desfile em si, já conta com shows, grupo de congado, concurso de marchas de cavalos, rodeio, grupo teatral com trajes de época, almoço e roda de viola. “A gente procura manter a nossa cultura”, explica Gilson, filho de Dona Margarida, sempre muito empenhado em organizar a festa. Na última edição, quinhentas pessoas almoçaram em sua casa. Orgulhosa, Dona Margarida conta que foram 40 quilos de feijão e 35 quilos de arroz, tudo graças a doações de amigos, vizinhos e participantes da festa, além da dedicação de sua família.

Mesmo sem apoio e patrocínio, há sete anos o festejo acontece, e muitas vezes sem condições financeiras devidas, tropeiros e carros de bois saem de Prados, Lagoa Dourada, Resende Costa, São João del-Rei, Bichinho, Dores de Campos, Elvas e outras localidades, para participarem das festividades. Gilson explica que, para trazê-los é necessário pagar transporte, já que os carros de bois são pesados e carecem de muitas horas de viagem para chegar até Tiradentes, além de cuidado.

Mas, apesar das dificuldades, eles planejam novidades para a festa de 2011: pretendem, é claro, se conseguirem ajuda, montar uma exposição de objetos rurais antigos, desde estribos até engenho de madeira movido a boi, para que os turistas compreendam melhor a festa, que tem o intuito de rememorar a vida antiga nas zonas rurais. E já contam com uma missa celebrada em cima de um carro de boi, que a pedido do padre deve estar muito bonito e enfeitado.

Assim, a história que fica longe do cenário patrimonial de Tiradentes vai sendo preservada e muito bem contada. Assim, “vai boiada e vai o carro, vai velhos jovens e crianças”. Que a festa “seja feliz nas andanças”, já que “pros carreiros não tem hora” e “pros romeiros não tem distância”. “O carro leva a bagagem, os carreiros levam a esperança”.

(passagens do poema e música A benção dos carreiros, de José Mateus da Silva).

Texto e foto de Walquíria Domingues
Publicado no Observatório da Cultura . 25 de outubro de 2011
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